A pesquisa do Índice do Consumo da Família (ICF) demonstra que, em Alagoas, houve decréscimo de -0,4% entre maio e junho, seguindo a tendência nacional de queda (-0,7%). O levantamento do Instituto Fecomércio AL, desenvolvido em parceria com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), aponta, também, para uma ligeira redução no percentual de famílias que declararam estar consumindo menos, ficando em 28,5% na comparação mensal.
Apesar do recuo de -0,4% ser na margem, pode ser o início de uma tendência para os próximos meses, mas que poderá ser mitigada com o esperado aumento do consumo das famílias no último quadrimestre do ano. A opinião é do economista e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Francisco Rosário. Em sua análise, a queda do indicador sinaliza que o aumento da massa salarial e da redução do desemprego, observadas nos últimos meses, não foram suficientes para minimizar os impactos do alto custo do crédito e da inflação de alimentos, principalmente entre as famílias com renda menor de 10 salários mínimos (sm).
Na variação mensal, enquanto o consumo entre estas famílias teve um leve recuou, saindo de 120,7 para 120,1, nas famílias com renda maior de 10 sm houve crescimento, saltando de 142,16 para 144,08. “O valor do índice reflete mais a sensibilidade da propensão ao consumo das famílias com renda menor que 10 salários mínimos, exatamente por serem as mais numerosas em Alagoas. Além dessa constatação, é possível observar que são as famílias de menor renda que mais sentem os efeitos de oscilações negativas na conjuntura econômica”, explica Rosário.
Detalhes
O ICF é composto de subíndices variando de zero a 200 pontos, sendo abaixo de 100 pontos um indicativo de insatisfação e, acima de 100 pontos, satisfação em relação às condições de consumo. Na variação mensal, estes subindicadores tiveram os seguintes desempenhos: Emprego Atual, 149 pontos; Perspectiva Profissional, 174 pontos; Renda Atual, 142 pontos; Compra a Prazo (acesso ao crédito), 95,4 pontos; Nível de Consumo Atual, 104 pontos; Perspectiva de Consumo, 102,4 pontos; e Momento para Duráveis, 84,5 pontos.
Como se percebe, os indicadores de acesso a crédito e compra de bens duráveis são os que apresentam menor satisfação por parte dos consumidores, em junho. “Isto faz sentido, haja vista que a compra de bens duráveis, a exemplo de móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, demanda crédito e esse movimento é corroborado por ser o subíndice de maior variação negativa no conjunto, com -3,9%”, avalia o economista.
Em relação ao acesso ao crédito, embora tenha havido redução de 0,9% na variação mensal, na comparação anual houve aumento de 44% em termos de nível de satisfação das famílias (95%), o que pode ter sido motivado pela mudança, em maio, pela interrupção da tendência de queda da taxa de juros do Banco Central e pelo fato de os agentes de crédito terem modificado suas taxas para o mercado ou mesmo restringindo a liberação de crédito.
Quanto à Perspectiva Profissional, apesar de a percepção atual sobre o emprego estar mais favorável (+1,1%), houve um recuo geral de -0,1% entre maio e junho. Mesmo na margem, isto demonstra que os consumidores estão com um pouco de cautela em relação aos próximos resultados do mercado de trabalho. Na comparação anual, houve redução de -3% na perspectiva do emprego atual, indicando um consumidor mais pessimista sobre seu emprego.
A pesquisa do Instituto Fecomércio AL demonstra, ainda, que o acesso ao crédito recuou – 0,9%, em junho; fato indicador de que “o consumidor percebe o momento desafiador no mercado de crédito e o risco de inadimplência, conforme mostrado na última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência (Peic), do Instituto Fecomércio. Contudo, esse valor ainda é pequeno, e está na margem, quando comparado com o crescimento de 44% da variação anual”, observa Rosário.
Na percepção dos alagoanos, o acesso ao crédito está mais fácil para 30,4%, mais difícil para 35% e igual ao ano passado para 8%. Em termos de análise do volume de consumo, existe também uma relativa estabilidade em termos de famílias que estão comprando mais (32,5%), quando comparado mensalmente, e um crescimento entre as que estão mantendo seu poder de compra adquirindo o mesmo volume de produtos no mês anterior (39,1%). Observa-se também uma ligeira redução no percentual de famílias que estão consumindo menos (28,5%), na comparação mensal.