Os candidatos presidenciais participam do último debate da campanha preparados por sua equipe para evitar “gol contra”, passar uma imagem de confiança e mostrar habilidade de “esgrima” – de atacar e responder com contra-ataques -, na opinião de especialistas consultados pela BBC Brasil.
Dada a importância do debate da TV Globo, visto como “último round” na reta final para o primeiro turno no domingo, acredita-se que cada candidato reserve um dia inteiro de preparação, incluindo a formulação de estratégias de comportamento, de ataque e resposta, além dos cuidados com roupas, acessórios e maquiagem e da atenção ao gestual e linguagem corporal.
“Ninguém vai fazer nada que não tenha sido detectado em pesquisas de opinião”, explica Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos. “Se os ataques estiverem sendo vistos com maus olhos pela população, essa não será a estratégia. Agora se atacar for o último recurso, certamente não haverá hesitação”.
Seis pontos são destacados pelos entrevistados como de maior relevância para os candidatos durante o debate: tranquilidade, segurança, linguagem corporal e expressão facial, “fazer a ponte”, capacidade de “esgrima” (ataque e contra-ataque), demonstração de vontade e compromisso, e humildade.
Na visão deles, ganha pontos entre os eleitores quem mantiver a calma mesmo quando desafiado, e quem demonstrar segurança acima de tudo: a característica que mais define o sucesso de um candidato num debate como esse.
Candidatos e linguagem corporal
O especialista Paulo Sérgio de Camargo comparou os três principais candidatos à Presidência a três grandes líderes mundiais em questão de linguagem corporal:
DILMA ROUSSEFF – Se assemelha à chanceler (premiê) alemã Angela Merkel, pelo vestuário, gestual e postura corporal, além da dificuldade de lidar com críticas e perguntas difíceis.
MARINA SILVA – Parece-se com o líder indiano Mahatma Gandhi, pela postura arqueada e de intensa fragilidade física mas muito forte em termos de comportamento e temperamento.
AÉCIO NEVES – Tem algo do ex-premiê britânico Tony Blair. Boa aparência, fala bem, mas precisa de mais emoção, mais gestos, linguagem corporal mais expressiva.
A “ponte” se refere à capacidade do candidato de, ao receber uma pergunta complicada, acatar a questão, mas rapidamente ligar o assunto a outro de seu domínio, para que passe a falar sobre este assunto, mesmo que completamente diferente, e defenda seu programa de governo.
Com mais de 40 anos de experiência em campanhas, Manhanelli diz que esse debate requer estratégias para cada bloco.
“Tudo pode mudar. O momento de atacar, a hora de se blindar ou de se colocar como vítima para ganhar a simpatia e cooptar votos. Com certeza as equipes estarão atentas a tudo para aproveitar esta exposição ao eleitor da melhor maneira possível.”
Como os candidatos se preparam
1. Tranquilidade: manter a calma mesmo quando desafiado, e exercitar a capacidade de não demonstrar emoção. Há candidatos que jamais poderiam jogar pôquer, pois entregam que estão blefando;
2. Segurança, segurança, segurança: este é o ponto mais crucial para o eleitor;
3. Linguagem corporal e expressão facial: mesmo na saia mais justa, pode ajudar o candidato a se esquivar e mostrar que apesar da dificuldade, está no domínio. Equívocos ou gafes nesta área, no entanto, podem derrubar;
4. “Fazer a ponte”: ao receber uma pergunta complicada, acatar a questão, mas rapidamente ligar o assunto a outro de domínio do candidato, que passa a falar sobre outro assunto, mesmo que completamente diferente, defendendo seu programa de governo;
5. “Esgrima”: demonstrar que pode se defender e contra-atacar, apresentando seus pontos fortes e minando o desempenho do adversário;
6. Vontade e compromisso: se sai melhor num debate o candidato que consegue transmitir ao eleitor, permeando as outras estratégias, forte disposição e motivação para ser presidente. É algo que emociona e cria empatia com o eleitor;
7. Humildade: o eleitor quer ver segurança e força, mas também é uma demonstração de equilíbrio quando o candidato pede apoio, pede ajuda. Este pedido de colaboração é fundamental.
Gafes e imprevistos
Apesar da proximidade com o dia da votação, os especialistas dizem que imprevistos, surpresas, uma grande gafe ou uma performance muito ruim neste último debate ainda podem alterar intenções de voto – daí o nível de preocupação das campanhas.
“Se terminar no 0 a 0, tudo bem, permanece o cenário consolidado”, argumenta Ricardo Ismael, doutor em Ciência Política pelo Iuperj e professor da PUC-Rio. “Agora se um deles marcar um gol contra, ou caso algum saia-se muito bem, pode haver impacto, sim”.
Para os especialistas, os eleitores percebem detalhes do desempenho de cada candidato, de como se esquivam de perguntas difíceis, de como gesticulam, o tom de voz e o controle do nervosismo.
“Perguntas ruins sempre serão feitas. O diferencial é o quanto você foi preparado para lidar com isso, e o nível de transparência, de como os outros vão perceber ou não. É importante não perder o eixo”, complementa Carlos Manhanelli.
Para o professor Paulo Sérgio de Camargo, autor do livro Linguagem Corporal (Editora Summus, 2010), a presidente Dilma Rousseff tem sido a candidata “que tem demonstrado mais estresse, a ponto de quase perder as estribeiras quando contrariada por jornalistas em entrevistas na televisão”.
“Marina é a mais resiliente, e que teve que alterar o visual e o gestual de forma mais drástica, e Aécio tem sido o mais constante, o que manteve o mesmo tom”, avalia.
Camargo diz que o desafio comum a todos os candidatos será transmitir confiança.
“Dilma tem falado com queixo erguido, o que passa arrogância, não é bom. Se irrita com qualquer pergunta, faz caras e bocas e não consegue esconder que aumentou seu nível de ansiedade. Marina tem os ombros arcados, passa fragilidade. Seu desafio no debate será passar a imagem de alguém forte o suficiente para ser presidente. Já Aécio precisa de mais emoção, mais gestos”, diz.
Para esta quinta, analistas preveem que Dilma siga uma estratégia focada em ataques contra Marina. “Na visão da campanha do PT ainda é mais interessante disputar o segundo turno com Aécio, que é um inimigo conhecido”, diz Carlos Pereira, da FGV-Rio.
Na pesquisa divulgada pelo Datafolha na noite de terça-feira, no primeiro turno Dilma aparece com 40%, Marina com 25% e Aécio com 20%.
Numa simulação de segundo turno entre Dilma e Marina, a atual presidente ganha por 49% a 41%, e se a disputa ocorrer com Aécio, a petista venceria por 50% a 41%.
Por Jefferson Puff /Da BBC Brasil no Rio de Janeiro