Recentemente uma aluna de Palmeira dos Índios resolveu se debruçar sobre a situação da unidade de Santana do Ipanema, do campus Sertão.
A expansão da Universidade Federal de Alagoas para todas as regiões é de fundamental importância para o crescimento socioeconômico do Estado. Essa é uma tese com a qual a comunidade universitária e a sociedade alagoana concordam. Mas a forma como foi feita essa interiorização e as condições dos campi no interior rendem muitas análises e debates.
O Campus Arapiraca foi inaugurado em 2006. Já o Campus do Sertão começou a funcionar em 2010, ainda em instalações provisórias, até que o prédio, em Delmiro Gouveia, ficou pronto, no final de 2013.
Embora a unidade de Santana do Ipanema permaneça funcionando em escola particular alugada. Nesses 10 anos de interiorização, muitas conquistas foram alcançadas, por alunos e professores, e muitos problemas ainda são enfrentados.
Recentemente, a aluna de Psicologia da unidade de Palmeira dos Índios, Andressa Santos de Goes, resolveu se debruçar sobre a situação da unidade de Santana do Ipanema, do campus Sertão.
Esse foi o foco da monografia da estudante (CLIQUE AQUI PARA BAIXAR) apresentada no início deste ano, e que obteve nota dez com recomendação de publicação, pela banca examinadora formada pelas professoras do curso de Psicologia Danielle Nóbrega, Maria Augusta dos Santos e Lídia Ramires (COS).
A Ufal chegou ao sertão
A monografia de Andressa é intitulada: “A Ufal chegou ao Sertão: um estudo sobre os sentidos e significados da interiorização para estudantes da unidade educacional de Santana do Ipanema”. A orientação do estudo foi feita pela professora Danielle Oliveira da Nóbrega, do curso de Psicologia da unidade de Palmeira dos Índios.
Essa dificuldade que os estudantes do interior encontram ao pensarem como continuar os estudos diante das poucas opções, quando não têm condições de se deslocarem para estudar na capital, é uma realidade que Andressa conhece bem. “Desde sempre, prestava atenção no quanto a educação me transformava e cresci vendo a educação superior como um sonho. Depois, quando comecei a entender as relações de poder dentro da sociedade, percebi que não seria tão fácil para mim, filha de agricultores, ingressar na universidade, principalmente, em me deslocar para a capital”, relata a estudante.
Na monografia, a Andressa faz um histórico da criação do Campus do Sertão, em 2010, com recursos do plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), e expõe os resultados de uma pesquisa qualitativa realizada junto à dois grupos de estudantes: um denominado Grupo “Oportunidades” e o outro Grupo “Resistências”.
Os estudantes que participaram do estudo falaram sobre a realização do sonho de estudar numa universidade pública, a rotina de estudos, as deficiências da assistência estudantil, sobre o movimento estudantil, entre outros temas.
A autora explica que a motivação para a realização da pesquisa surgiu da própria experiência dela como estudante da interiorização. Andressa critica a “falta de estrutura e planejamento de um projeto de universidade no interior e o quanto que tais questões afetam a qualidade da educação superior”.
A partir disso, surgiu na universitária o desejo de entender como os demais estudantes percebem esse processo. “Depois que consegui passar no PSS e viver a universidade, comecei a entender o quão pobre o interior é. Pobre de acesso às oportunidades que, na verdade, são direitos nossos”, conta.
A estudante diz ter começado a entender a interiorização por um viés político, passando a questionar o porquê da universidade chegar ao interior de forma tão precária e porquê nenhum esforço estava sendo feito para que as coisas melhorassem. “Vi na interiorização uma oportunidade de transformação social, mas que também precisa ser problematizada, pois, ela ainda não dá conta de tudo”, destacou.
Visão de futuro
Mesmo com tantos obstáculos a serem enfrentados, o cenário projetado pela estudante é otimista. “Agora, com uma nova gestão, eu acredito que a Ufal no interior irá crescer. Terá sua importância democratizada. Acredito que mais pesquisas sobre a interiorização serão feitas e que elas irão apontar um caminho para onde ir”.
Mas para garantir esse cenário positivo para o futuro, Andressa acredita que é preciso organização e participação política, principalmente dos estudantes. “O horizonte que enxergo é um horizonte de conquistas. E meus anseios são mais direcionados à educação superior como um todo, temo chegar ao ponto de ver a educação privatizada explicitamente, mas confio no movimento estudantil, e que ele lutará muito para que isso não aconteça”.
E assim surgiu a pesquisa
A luta estudantil motivou a pesquisa acadêmica. Andressa conta que no terceiro período, numa disciplina de pesquisa em Psicologia, sua equipe decidiu discutir a Ufal no interior como um processo de inclusão precária.
Já no quinto período foi numa conversa com a professora Danielle que a estudante revelou o desejo de estudar a educação superior em Santana. “Ela se assustou dizendo que era cedo para eu tomar a decisão do que pesquisar. Mas eu estava tão engajada com a militância estudantil que pesquisar seria a minha forma de lutar”, conta.
Depois de superado mais esse desafio de concluir a graduação, e tendo conquistado uma ótima nota no Trabalho de Conclusão de Curso, agora Andressa Góes planeja os próximos passos. “Não me vejo longe da academia. Pretendo fazer mestrado e doutorado. Tenho alguns projetos em andamento e tentarei em universidades diferentes, tanto em Maceió, quanto pelo país afora. Infelizmente, o interior só conta com graduação no que se refere à Psicologia”, concluiu a estudante.
Da Assessoria Ufal com edição da Redação