Quando criança, Jorge de Lima costumava contemplar a Serra da Barriga da porta de casa. Impedido de explorar o lugar devido à asma, o menino se contentava com as lendas que as tias lhe contavam sobre o Quilombo dos Palmares. Muitos anos depois, a memória afetiva do poeta resgataria toda a simbologia do berço de Zumbi dos Palmares em Serra da Barriga – “Aqui não há cangas, nem troncos, nem banzos”.
É este poema de 1928 que embala o filme institucional do Governo de Alagoas alusivo ao Dia da Consciência Negra, celebrado neste 20 de novembro. Com 100% de atuação de profissionais pretos – desde criação, elaboração, direção, edição e elenco –, a peça é uma reverência à resistência simbolizada na luta de Zumbi, líder do quilombo encravado no alto da serra de União dos Palmares.
Desenvolvida pela Artecetera Comunicação Integrada, a produção contou com 70 profissionais, entre atores, bailarinos, equipes de criação, direção e figurino. Criador do filme ao lado de Renato Nascimento, Luciano Quirino lembra que as gravações na Serra da Barriga emocionaram o elenco pelo simbolismo da resistência daquele que foi um guerreiro literal contra a escravidão.
“Pra gente foi um grato desafio porque a Artecetera sempre teve em seu DNA a diversidade e a inclusão. Quando recebemos o desafio [do Governo de Alagoas de fazer uma peça com 100% de profissionais negros], logo reunimos os integrantes de nossa equipe que são pretos pra desenvolver a campanha”, completou.
Em poucos dias de lançada, a campanha ganhou destaque na mídia nacional pelo ineditismo. Em reportagem veiculada nesta terça-feira (14), a revista Exame enfatiza os conceitos da representatividade trabalhados no vídeo. “O lugar escolhido para as gravações foi a Serra da Barriga. Foi ali, na cidade alagoana de União dos Palmares, que por quase 100 anos existiu o Quilombo dos Palmares, o maior do Brasil, referência na resistência negra contra a escravidão no país”, diz trecho da matéria.
“[A campanha] É uma iniciativa inédita na história da comunicação oficial e está em perfeita sintonia com a política do Governo de Alagoas, que é de referenciar cada vez mais nossa identidade e tudo o que significou a resistência na Serra da Barriga. O filme traz uma forte carga simbólica e emite sinais sobre respeito ao próximo, diversidade, tolerância e liberdade. A gente se vê nele”, destacou o secretário de Estado da Comunicação, Joaldo Cavalcante.
O diretor de Operações da Artecetera, Luiz Moreira, ressalta a importância do filme, lembrando que o país vive um momento de resgate e entendimento de raça. “Então a iniciativa do governo de Alagoas em priorizar que toda a equipe fosse preta só reforça o quanto podemos ocupar todos os lugares na sociedade, seja qual ele for”, defende.
No filme, que foi produzido pela VTK, o poema de Jorge de Lima é interpretado pelo ator alagoano Chico de Assis, que tem uma vasta experiência na poética do autor dos consagrados O Acendedor de Lampiões e Essa Negra Fulô – ambos declamados uma infinidade de vezes por Assis nos palcos da vida.
Além dar protagonismo à população preta, a peça também reverencia o Príncipe dos Poetas alagoanos, no ano em que se celebra os 130 anos de seu nascimento. 2023 também é marcado pelos 70 anos de sua morte, ocorrida em 15 de novembro de 1953, aos 60 anos, no Rio de Janeiro. Imortalizado, Jorge de Lima é mais uma voz da resistência que fez questão de cobrir seus poemas de preto, como enfatiza os versos de Serra da Barriga:
“As outras montanhas se cobrem de neve,
de noiva, de nuvem, de verde!
E tu, de Loanda, de panos-da-costa,
de argolas, de contas, de quilombos!”
FICHA TÉCNICA
Cliente: Governo de Alagoas
Agência: Artecetera Comunicação Integrada
Atendimento: Luciano Quirino
Criação: Luciano Quirino e Renato Nascimento
Produção: Luiz Moreira
Mídia: Claudia Alcântara
Produtora: VTK Vídeo Produções
Direção de cena: Lucas Cachalote
Direção de Fotografia: Gerson Barros
Coordenadora de Produção: Paula Amaral
Produção: Roseane Conceição
Assistente de produção: Saulo Emanuel
Figurinista: Pedro Braz
Maquiagem: Gabriella Gomes
Som direto e trilha: Christiano Reis
Interpretação: Chico de Assis
Locução: Diva Gonçalves
1º Assistente: Dalio Marinho
2º Assistente: Marcelo Lenhador
Gaffer: Valterlin
Assistentes de Maquinaria: Edson Oliveira e Paulo
Edição: Anderson Conrado
Fotografia: Romildo Soares
Grupo de Dança e Percussão Afro: Olóómi Áyyéé – Comunidade Remanescente Quilombola Muquém