A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) é destaque quando o assunto é ciência. Um grupo de pesquisadores ligados ao Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) e ao Instituto de Física (IF) desenvolveu uma patente com ação cicatrizante e bactericida. O medicamento é composto pela mistura de óleo de copaíba e nanopartículas de prata. A produção em larga escala, no entanto, ainda depende de parcerias com a iniciativa privada.
A patente é resultado de um estudo que envolveu cerca de dez pesquisadores e foi liderado pelos professores Emiliano Barreto e Jandir Hickman. O professor Emiliano Barreto é vinculado à Ufal desde 2006 e tem experiência na área de Farmacologia associada à Biologia Celular e Molecular. A iniciativa contou, ainda, com a participação de pesquisadores do IF, sob o comando do docente Eduardo Fonseca.
“[Para a criação da patente] utilizamos óleo de copaíba, que é usado pela medicina popular para diferentes finalidades, incluindo para a cicatrização. Nós nos perguntamos se conseguiríamos incrementar essa propriedade cicatrizante com a propriedade bactericida, utilizando nanopartículas de prata”, explicou Emiliano Barreto, acrescentando que a mistura se mostrou eficaz após uma série de estudos científicos.
Mas, chegar ao resultado final não foi uma tarefa fácil. Os pesquisadores relatam que tiveram que superar desafios como chegar às quantidades exatas de cada substância usada no composto e a aplicação prática do produto em testes.
“O primeiro desafio foi sintetizar o produto em si – o óleo de copaíba carregado com partículas de prata. O segundo desafio foi fazer os ensaios biológicos, com a aplicação para verificar se a proposta cicatrizante e bactericida se mantinha. Segunda as investigações, sim. Para isso, foi utilizado um conjunto de animais, com autorização do Comitê de Ética, e conseguimos demonstrar que, de fato, feridas infectadas são capazes de ter a sua cicatrização acelerada com a utilização deste produto”, detalhou Emiliano Barreto.
Depois da comprovação científica, o passo seguinte foi a criação da patente, o que garante propriedade intelectual do produto criado na Universidade. Agora, os integrantes do projeto de pesquisa começam a pensar na possibilidade de interlocução com o mercado para a produção da substância em larga escala. No entanto, eles admitem que esse passo exige ações que estão além das possibilidades da Ufal.
“O nosso anseio é que o produto pudesse chegar nas prateleiras das farmácias. Mas isso depende de interlocução do mercado, de empresas que queiram seguir com a produção deste produto. Na ocasião, esse projeto em particular foi alvo do doutoramento de Cássio Santos e como produto dessa tese tivemos a patente. Gostaríamos de seguir adiante, mas precisamos de interlocução com parceiros”, afirmou Barreto.
Apesar da relevante conquista, o professor afirma que o produto é fruto do trabalho coletivo e, principalmente, da integração entre ensino, pesquisa e extensão, que formam o tripé da Universidade. “Nosso intuito é formar recursos humanos com alta capacidade, que tragam diferencial no mercado, seja na academia ou diretamente nas empresas. Hoje, nós contamos com egressos bem colocados em grandes organizações”, revelou.
Emiliano Barreto acrescenta: “Hoje a gente tem a formação de vários alunos, seja na graduação, seja na pós-graduação, que contribuíram com aplicações de produtos naturais ou sintéticos com propriedades farmacológicas, focando em ações anti-inflamatórias e cicatrizantes. A grande maioria desses estudantes se vinculou ao ICBS. Outra parte esteve vinculada ao programa de materiais, do Cetec [Centro de Tecnologia].”
Um desses pesquisadores é Julianderson Carmo, que hoje integra o laboratório como integrante do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde pela Ufal, em nível de doutorado. O pesquisador desenvolve um estudo sobre o efeito de substâncias naturais ou sintéticas em contextos de doenças, mais especificamente no contexto da asma, que rendeu a ele a oportunidade de um intercâmbio na França, como “doutorado sanduíche”.
“Nós utilizamos modelo in vitro e in vivo para avaliar se uma substância chamada friedelina tem capacidade anti-inflamatória nesse contexto. Nós escolhemos dois tipos de células específicas, que são células imunes, e avaliamos a influência da friedelina. O estudo também foi realizado em animais, com autorização do Comitê de Ética, e nós observamos que a friedelina tem a capacidade de inibir essa inflamação alérgica”, contou.
A relação entre Julianderson Carmo e a Ufal é antiga. O pesquisador é egresso do curso de Ciências Biológicas, onde desenvolveu projetos de Iniciação Científica, e do mestrado em Ciências da Saúde. Agora, explica ele à Saber Ufal, a ideia é finalizar, em breve, o doutorado e, quem sabe, vir a integrar a Universidade na condição de professor.
“Vejo que 70% da minha graduação foi pautada na pesquisa. É muito importante entender os conceitos, como os processos biológicos ocorrem, mas é mais importante ainda ver esse processo ser aplicado. Foi no laboratório que eu tive a oportunidade de ver essa aplicação e isso trouxe um grande crescimento. Agora eu pretendo continuar na academia. Passei em um concurso para papiloscopista, onde pretendo aplicar meus conhecimentos científicos, mas quero continuar na carreira acadêmica e quem sabe vir a atuar como professor na Universidade que formou como ser humano e profissional”, concluiu.
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