Cerca de 90% das mulheres com SOP têm resistência insulínica Novas diretrizes para diagnóstico e tratamento foram publicadas recentemente em estudos internacionais

Ascom / Yezzi

12 out 2023 - 12:00


Foto: Ascom Yezzi

A Síndrome do Ovário Policístico, também conhecida como SOP, é algo que modifica a saúde e rotina de muitas mulheres, que sofrem, inclusive, para conseguir fechar um diagnóstico e começar o tratamento. Uma nova diretriz internacional para a avaliação e tratamento da doença, baseada em evidências, foi publicada pela International PCOS Network, na Human Reproduction e na Fertility and Sterility, para ajudar os clínicos a otimizarem os cuidados, bem como melhorar a qualidade de vida das pessoas que possuem este distúrbio hormonal.

A SOP é a endocrinopatia mais comum que acomete mulheres em idade reprodutiva, com prevalência entre 8 e 13%. Muitas vezes fazer seu diagnóstico não é algo tão simples e o seu tratamento pode ser um desafio tanto para o profissional como para a paciente.

A primeira orientação internacional apoia os critérios de diagnósticos de Rotterdam em adultos, “exigindo” hiperandrogenismo e ciclos menstruais irregulares para atestar a SOP. Ela ainda recomenda a exclusão de doenças da tireoide, hiperprolactinemia e hiperplasia adrenal congênita não clássica, além de exames adicionais para sintomas graves, como a amenorreia.

De acordo com a médica endocrinologista, Celina Albuquerque, a nova diretriz também diz que não é mais necessário o diagnóstico ultrassonográfico para mostrar que existem os ovários policísticos. Além disso, ela ressalta que o melhor diagnóstico acontece depois dos 18 anos, já que nos primeiros anos após a primeira menstruação costuma-se acontecer algumas mudanças hormonais que incluem as principais características do quadro clínico da SOP, como a irregularidade menstrual.

“É muito comum aparecerem jovens entre 18 e 20 anos no consultório que tiveram o diagnóstico muito cedo e quando se faz uma investigação mais profunda descobre que a paciente nem tinha a síndrome e estava fazendo tratamento medicamentoso há um bom tempo sem necessidade. Nos primeiros dois anos após a primeira menstruação irão acontecer alterações, sendo normal que os ciclos sejam irregulares. Se após os dois anos persistir a irregularidade, é necessário procurar um médico para averiguar a situação”, explica.

O diagnóstico deve incluir uma história abrangente e exame físico, sintomas comuns e sinais de hiperandrogenismo clínico como acne, alopecia e hirsutismo, que podem ser graves em adolescentes. Os médicos também devem considerar variações étnicas na apresentação e manifestações da SOP.

Além disso, prevenir o aumento e monitorar o peso , além de incentivar um estilo de vida saudável baseado em evidências e socioculturalmente apropriado é importante na SOP, particularmente na adolescência.

“A alimentação e a rotina de exercícios físicos são os pilares para controle da SOP, além de manter um peso adequado, sendo possível controlar principalmente a resistência insulínica que é um dos principais desencadeadores do desenvolvimento da síndrome. A SOP é um desequilíbrio hormonal que envolve o sistema reprodutivo e outros hormônios que tem uma relação grande com a resistência insulínica e com o ganho de peso. Por isso muitas mulheres apresentam dificuldades em se manter no peso ideal ou reclamam do surgimento de acne ou queda de cabelo, por conta dos hormônios masculinos que normalmente tendem a estar aumentados nessa condição”, salienta a médica.

A desregulação do funcionamento ovariano, alteração no eixo neuroendócrino e resistência à insulina são as três principais alterações envolvidas na síndrome dos ovários policísticos. Cerca de 90% das mulheres que sofrem com o distúrbio hormonal apresentam uma resistência insulínica, tendo o seu excesso uma ação direta nos ovários, estimulando a produção de testosterona. Também é comum atestar que o excesso de insulina age em tecidos adiposos e no músculo, promovendo uma inflamação crônica e aumento de risco de doenças metabólicas.

Celina Albuquerque conta que essa resistência à insulina é um mecanismo que desenvolve o diabetes tipo 2, sendo enquadrado como um passo anterior ao diagnóstico diabético. Isso significa que o corpo produz a insulina de forma normal, mas ela não consegue agir de forma adequada nos receptores, fazendo com que aumente o nível de glicose no sangue e acaba também desenvolvendo algumas outras complicações.

Em muitos casos há uma dificuldade de gestação, podendo levar até mesmo à infertilidade, não sendo essa uma regra. Além disso, apesar de ser mais comum de ser atestado na faixa etária mais jovem, podem ocorrer diagnósticos tardios, já que o fechamento da condição é feito a partir da exclusão de outras possibilidades para as causas daqueles sintomas.

O tratamento é multidisciplinar, com atuação do endocrinologista, do ginecologista e também do psicólogo, e varia de acordo com o quadro clínico da paciente. “Nessa última diretriz foi visto que muitas mulheres que lidam com SOP também apresentam um transtorno relacionado a ansiedade e depressão, precisando investigar um pouco mais a fundo e ter um suporte psicológico a essas pacientes. Por isso é necessário estabelecer um hábito de atividade física e a inclusão de uma nutricionista que vai auxiliar na alimentação, como o controle de carboidratos, que interfere até mesmo no fluxo menstrual. Para a resistência insulínica pode-se utilizar uma medicação que é comum para o tratamento de diabetes e tratar a parte dos hormônios masculinos”, destaca a endocrinologista.

A médica ainda finaliza lembrando que a mulher que tem a síndrome precisa manter o controle do distúrbio ao longo da vida, já que é algo que não tem cura.

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