O IBGE se reuniu nesta terça-feira (2) com as lideranças do povo indígena Wassu-Cocal, na cidade de Joaquim Gomes, em Alagoas, para tratar da coleta domiciliar de dados do Censo Demográfico.
A tradicional “Reunião de Abordagem” costuma anteceder o trabalho de campo com o objetivo de apresentar os recenseadores que trabalharão nos setores censitários em que residem membros da comunidade, além de obter permissão para a realização do recenseamento.
O encontro foi o primeiro dos mais de 100 que serão realizados em Alagoas, e marcou também o início da operação censitária nos territórios e agrupamentos indígenas do estado.
Na oportunidade, a recenseadora Andreza Alves, que também pertence à comunidade Wassu-Cocal, aplicou o “Questionário de Abordagem Indígena”, uma das novidades do Censo 2022. Ele foi respondido pelo cacique Edmilson e possibilitou a identificação de dados de infraestrutura, recursos naturais, educação, saúde e hábitos relativos à aldeia.
O objetivo é auxiliar a coleta no agrupamento, trazendo ao recenseador características que devem ser consideradas nas adaptações metodológicas do questionário domiciliar. A aplicação também ajuda a levantar informações importantes sobre a realidade socioterritorial da comunidade.
“É uma oportunidade muito boa poder participar como recenseadora e dentro da minha comunidade. Muitas pessoas daqui têm capacidade de prestar concurso público e os próprios indígenas daqui ao verem que tem uma pessoa da própria terra, um representante como recenseador, é ainda melhor”, declarou Andreza. “Meu olho já encheu de lágrima só de ver o nome Wassu-Cocal no aparelho do IBGE durante o nosso treinamento”, concluiu.
Os Wassu-Cocal residem em áreas de vários municípios da região, como Joaquim Gomes, Matriz do Camaragibe, Novo Lino e Colônia Leopoldina. Representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) também estiveram presentes no encontro.
Grupos culturalmente diferenciados
Os povos e comunidades tradicionais são definidos no Decreto 6.040/2007 como grupos culturalmente diferenciados que têm suas próprias formas de organização social. Os territórios e recursos naturais pertencentes a esses povos são necessários “para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição”.
Dentre esses povos etnicamente diferenciados estão os indígenas e os quilombolas, cujos dados serão levantados pelo Censo 2022. É apenas por meio desse estudo, que faz uma varredura completa do território nacional, que é possível ter uma captura mais completa e detalhada desses grupos.
Para o IBGE, que segue normativas nacionais e internacionais, quilombola ou indígena é a pessoa que assim se identifica. A pergunta de identidade étnica para indígenas apareceu pela primeira vez no Censo de 1991 e manteve-se nos Censos seguintes (2000 e 2010).
No Censo realizado em 2010, houve um aprimoramento da pesquisa em relação a essa população, com a inclusão de perguntas sobre pertencimento étnico, línguas indígenas faladas e se falava português.
O quesito cor ou raça foi transferido do questionário da amostra (parte dos domicílios) para o do universo (total dos domicílios), o que melhora a captação dessa característica. Foi a primeira vez que esses temas foram levantados pela pesquisa. Essa inclusão representou uma evolução na caracterização demográfica, étnica e linguística da população indígena e gerou demandas por informações mais detalhadas referentes tanto aos indígenas quanto aos quilombolas.
“Esse primeiro contato é fundamental para assegurar o sucesso da coleta e também para dar segurança à comunidade. Aproveitamos também para sensibilizar e mostrar a importância de responder ao questionário do Censo, um dos caminhos para que seus membros possam se conhecer melhor”, explicou o analista censitário de Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs) do IBGE em Alagoas, Renato Vargas.
Outro avanço foi a comparação da população nas terras indígenas oficialmente delimitadas com a que reside fora delas, por meio da compatibilização das malhas censitárias com os limites dessas localidades. Isso também permitiu, por exemplo, a divulgação de dados relativos a esses povos com recortes para grandes regiões, unidades da federação e municípios.
O Censo 2010 também foi o primeiro com questionário georreferenciado nas áreas rurais, o que possibilitou a aplicação de uma pergunta sempre que o recenseador estivesse trabalhando dentro de uma terra indígena oficialmente delimitadas e que houvesse sido declarado como tendo uma cor ou raça diferente de indígena. Ao informante era questionado: você se considera indígena?
Protocolo de saúde específico
Os recenseadores que vão atuar em Terras Indígenas seguirão um protocolo definido em conjunto pela FUNAI, SESAI e IBGE, tendo sido observadas todas as medidas definidas pelo Supremo Tribunal Federal, que inclui a vacinação completa para COVID-19, testagem e em algumas situações específicas quarentena.
Treinamento diferenciado
Os profissionais que vão trabalhar nas áreas de povos e comunidades tradicionais receberam um dia a mais de treinamento para realizar as práticas de abordagem e aprenderem mais sobre as normas de conduta adequadas àquele território.
O treinamento das equipes de coleta para atuação em áreas de Povos e Comunidades Tradicionais envolve os conceitos relacionados à metodologia do Censo junto a indígenas e quilombolas, o uso de mapas específicos para essas áreas, as orientações de conduta nos territórios tradicionais e as orientações para aplicação do Questionário de Abordagem Indígena e para aplicar as adaptações metodológicas previstas para os questionários domiciliares.
As equipes de coleta contarão ainda com um Manual do Recenseador – Povos e Comunidades Tradicionais e com um Guia de Abordagem às Lideranças Indígenas e Quilombolas.