Começou, na manhã desta quarta-feira (19), o segundo dia do Tribunal do Júri dos réus José Henrique Queiroz e Bruno Barbosa, acusados de matar o empresário Gilmário Alencar dos Santos, popularmente chamado de Gil da Funerária, crime ocorrido em fevereiro de 2021.
O Juiz Antonio Iris da Costa Junior abriu os trabalhos, informando a dinâmica de hoje, no qual são travados os debates entre a acusação e a defesa. O magistrado explicou que cada uma das partes tem direito a usar 2h30 de fala. Ambos ainda tem direito a réplica e treplica, de 2h cada.
O promotor João de Sá recebeu a palavra e falou por pouco mais de uma hora. Sem cerimonia ele já disse a tese acusatória: “Trabalharei pela condenação dos réus, mas adianto que farei uma acusação justa”, falou.
O membro do Ministério Público de Alagoas falou para o corpo de jurados e relembrou da sua importância nessa plenária. “Vocês representam a sociedade (…) Hoje é um momento de botar uma pedra nesse caso. Dar um final justo”
João de Sá fez uma cronologia do dia do crime. Ele releu o depoimento de José Henrique, rebatendo o argumento que o réu trouxe depois, falando que foi agredido pelos policiais, no dia que foi preso.
“No depoimento ele disse que foi agredido por policiais antes de chegar na Delegacia, mas porque, assim que chegou, na presença do seu advogado, ele não relatou isso?”, questionou João de Sá, já respondendo: “Não acredito que essa agressão existiu”.
Numa das falas, o promotor traz um detalhe importante no depoimento do José Henrique. “Eles disseram que quando chegaram para desovar o corpo de Gil, numa propriedade da família de José Henrique, um dos réus percebeu que a vítima teria aberto os olhos e mostrado sinais de vida. A fim de terminar o serviço, eles novamente enforcaram a vítima e ceifaram definitivamente sua vida. Com isso eles mataram o Gil duas vezes”, reforçou.
Ao finalizar, João de Sá alertou os jurados, para o resultado, caso seja acolhida a tese de defesa dos réus. “Se vocês condenarem os réus somente no crime de ocultação de cadáver (que são os que eles confessam) eles vão sair daqui desse Júri andando”.
Falas de Raimundo Palmeira
Ainda no tempo da parte da acusação, o advogado Raimundo Palmeira entrou em cena e trouxe mais emoção para a plateia, principalmente para a família do Gil da Funerária. Após os cumprimentos habituais, o defensor relembrou que não foi dado o direito da família de ver o corpo do ente querido pela última vez.
“Neste crime bárbaro, não se dá pra saber a hora da morte do Gil, pois os autores privaram a família de ver a face do filho pela ultima vez, ao queimar o cadáver, sobrando apenas alguns ossos. Eu aqui ouço a fala do filhinho do Gil, que disse a sua mãe para vestir a camisa da Justiça. Hoje estou vestindo a camisa da Justiça”, bradou o advogado.
Em alguns momentos das falas, vários parentes da vítima se emocionaram, principalmente quando se falava dos detalhes do crime. Também da parte dos réus houve comoção. A mulher de José Henrique estava abalada e até chegou a sair do plenário por alguns momentos. Seus parentes a todo instantes a consolava.
Ao final da fala de Raimundo Palmeira, o juiz presidente do Júri fez uma pausa de 10 minutos, antes da chamada dos advogados de defesa.
O crime
O caso da morte de Gilmário Alencar dos Santos foi apurado pela Divisão Especial de Investigações e Capturas (DEIC) da Polícia Civil. Segundo as investigações, Gilmário foi rendido e asfixiado até a morte dentro do Lava Jato de José Henrique.
Seu corpo foi jogado na carroceria do veículo Fiorino, pertencente ao proprietário e para tentar simular um sequestro, Henrique levou o carro da vítima para o município de Arapiraca, tendo o abandonado num posto de combustíveis.
Na sequência, conforme explicou a Deic, Henrique, Caetano e Bruno foram até uma propriedade da família de Henrique, na zona rural de Olho d’Água das Flores, e teriam jogado Gilmário “dentro de uma espécie de cisterna, onde foi carbonizado”.
Quando as equipes policiais chegaram ao local, “o corpo estava praticamente apenas cinzas, pois a cisterna foi tampada, funcionando com um forno, potencializando a cremação”, indica o relatório da PC.