Brinque com repentista

04 dez 2013 - 07:59

Foto: Anderson Barbosa / G1

Foto: Anderson Barbosa / G1

A foto acima que ilustra a situação de seca no Rio Grande do Norte, faz lembrar um objeto não muito comum chamado “galão”. Com uma lata d’água pendurada em cada extremidade de um pau, este é conduzido nos ombros pelo sofredor. Mas a palavra “galão” tem vários significados, como por exemplo, galão de tinta, divisa dourada usada como distintivo militar e outros mais.

Por outro lado, o violeiro-repentista nordestino é valorizado pela criatividade em qualquer circunstância. Mostremos como primeiro exemplo uma cantoria que estava havendo numa fazenda. Era hora de arrecadar dinheiro e a cada nome assinalado pelos versos, vinha à pessoa para depositar num prato, ali no centro, uma significativa oferta monetária, após rasgado elogio do violeiro. Eis que havia ali no meio daquele pessoal, um senhor pobrezinho, pobrezinho que tinha apenas no bolso uma nota de pequeno valor. A esse tipo de nota o nordestino chama de “piniqueira” ou couro-de-rato. Joaquim, o pobrezinho, não quis, entretanto, ficar sem a sua colaboração diante do chamado do poeta. Ao colocar sua nota no prato, a criatividade do vate foi maior do que a sua misericórdia:

“Parece que seu Joaquim

Passou a noite no mato

Com uma faca amolada

Tirando couro de rato

Deixou o rato sem couro

Jogou o couro no prato”.

Pois bem, voltando ao caso do galão, dois poetas cantavam na feira, também pedindo dinheiro através das estrofes criativas, quando se aproximou um cabo e um tenente. Um dos vates iniciou a sextilha dizendo que iria promover o tenente a capitão, mas logo a estrofe tomou um rumo novo. Disse o repentista:

“Eu agora vou botar

Um galão nesse tenente…”

Mas o tenente não gostava de pagar a cantador, puxou o cabo e disse: “Vamos embora, deixe esse corno pra lá”. O poeta conseguiu ouvir e terminou a estrofe dizendo:

“…Mas o galão que eu falo

É um galão diferente

É um pau com duas latas

Uma atrás outra na frente”.

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de dezembro de 2013

Crônica Nº 1098

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