Junho Violeta: um olhar para a melhor idade
O período chamado de melhor idade é parte natural do ciclo da vida, do qual todos nós almejamos alcançar. Planejamos a aposentadoria, e idealizamos ter um tempo para somente esticar as pernas pro alto e repousar da correria de toda uma vida de ocupações. Imaginamos fazer todas as viagens que não deram tempo em tão curtos períodos de férias, e sonhamos em conhecer todos os lugares que foram abandonados na lista dos sonhos da juventude.
Ninguém quer partir aos 40. Ainda não deu pra ver tudo que o mundo tem pra oferecer. Queremos ser centenários, pois a sede de viver é algo insaciável. Sempre falta conhecer um lugar novo, uma pessoa nova, e sempre há novos assuntos para estudar, e novas áreas para trabalhar. Se tivéssemos a imortalidade como prazo, ainda assim, haveriam infinitas possibilidades para vivenciar. Mas, é justamente por ser finita, que a vida tem tanto valor.
Alcançar a terceira idade é algo a se comemorar muito, tanto por todas as experiências que já foram vividas, quanto pela perspectiva de alguns anos (e sonhos) a mais. Talvez, quando alcançamos esta fase é que nos damos conta da importância da vida, justamente por saber que a maior parte dela já passou. Mas, infelizmente, a realidade de manter uma vida ativa, saudável, e de qualidade durante a terceira idade no Brasil, não condiz com a situação de todos os idosos brasileiros. Embora devesse.
Em decorrência da pandemia, as famílias passaram a enfrentar diversos problemas sociais, emocionais e econômicos (entre tantos outros), e a violência entre familiares também cresceu junto a essa maré desastrosa. Segundo a Central Judicial do Idoso (CJI) só nos primeiros cinco meses de 2021 os casos de violência contra idosos ultrapassaram o total do ano passado. Dados do Disque 100, apontam que no primeiro semestre deste ano, foram registrados mais de 33,6 mil casos de violações de direitos humanos contra idosos no país. Na maioria dos casos, as denuncias notificam agressões verbais, físicas ou exploração financeira.
Atualmente, ainda é enfrentado mais um agravante: a fome. Olhar para a história do desenvolvimento do país em meados de 1940 e 50, é também olhar para o crescimento da desigualdade social, o êxodo rural, o alto índice de pobreza e, consequentemente, a fome. Com todos os problemas sociais desencadeados em efeito dominó pela pandemia, o Brasil está voltando ao Mapa Mundial da Fome a passos largos. E se fizermos um cálculo rápido, veremos que os idosos que estão em situação de vulnerabilidade social hoje, com as geladeiras vazias, são os mesmos que passaram fome numa árdua infância. Desencadear este problema é também trazer as sombras de cicatrizes emocionais que haviam sido guardadas, de volta à tona.
Se não fosse o bastante, a OMS sinalizou este mês, a iniciativa de incluir o termo “velhice” na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), a partir de janeiro de 2022. É isso mesmo, você não leu errado. Chegar à terceira idade será classificado como doença. Um enorme retrocesso que pode desencadear no aumento do preconceito para com a pessoa idosa, além de possíveis interferências em diagnósticos médicos, tratamentos e pesquisas científicas na área de geriatria e gerontologia. Imagine você, adoecer aos 60 anos e ser diagnosticado com “velhice”?! Qual seria o tratamento, afinal?
Diante de tudo isso, é de fundamental importância que todos nós, enquanto sociedade civil, possamos sempre abrir espaço para falar sobre o público idoso, e refletir sobre seus direitos e necessidades. No mês atual esta reflexão vem junto à campanha Junho Violeta, que busca combater a violência contra a pessoa idosa. O dia 15 de Junho é o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa, conforme declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e a Rede Internacional de Prevenção a Violência à Pessoa Idosa, em 2006. Assim como outras campanhas nacionais e/ou internacionais, a favor da garantia de direitos de vários outros grupos, esta foi criada pela sua urgente necessidade.
Pensar no público idoso é pensar em 10% da população do país, que serviu, educou, e construiu muito do que somos e alcançamos hoje, e a retribuição está acontecendo da pior forma. O olhar de respeito à nossa ancestralidade jamais deveria ser desviado. Todo o conhecimento e sabedoria passada para nós vieram e vêm da fonte de experiências vividas por eles, e reconhecer a importância dos nossos idosos é, acima de tudo, um ato de gratidão. A população se torna cada dia mais longeva, em breve o número de idosos será cada vez maior, e ainda maior, será a responsabilidade de todos de respeitá-los.
Em casos de violência de qualquer tipo e/ou violação de direitos contra idosos, denuncie. Disque 100. Como sabiamente falou Martin Luther King: “Quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele”. O seu silêncio também é violência.
19 jun
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