DOMINGO DE RAMOS

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de abril de 2014

Crônica Nº 1167

Ilustração (Foto: valterramos.blogspot.com)

Ilustração (Foto: valterramos.blogspot.com)

Para não esquecermos a importância do dia de ontem: “A Igreja Católica proclama dois evangelhos no domingo de ramos: O primeiro, que narra à entrada festiva de Jesus em Jerusalém fortemente aclamado pelo povo; depois o Evangelho da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, onde são relatados os acontecimentos do julgamento de Cristo. Julgamento injusto com testemunhas compradas e com o firme propósito de condená-lo à morte. Antes, porém, da sua condenação, Jesus passa por humilhações, cusparadas, bofetadas, é chicoteado impiedosamente por chicotes romanos que produziam no supliciado, profundos cortes com grande perda de sangue. Só depois é que Ele foi condenado à morte, pregado numa cruz.

O Domingo de Ramos abre por excelência a Semana Santa. Relembra e celebra a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, poucos dias antes de sofrer a Paixão, Morte e Ressurreição. Este domingo é chamado assim porque o povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão onde Jesus passava montado num jumento. Com folhas de palmeiras nas mãos, o povo o aclamava ‘Rei dos Judeus’, ‘Hosana ao Filho de Davi’, ‘Salve o Messias’… E assim, Jesus entra triunfante em Jerusalém despertando nos sacerdotes e mestres da lei muita inveja, desconfiança, medo de perder o poder. Começa então uma trama para condenar Jesus à morte.

O povo o aclama cheio de alegria e esperança, pois Jesus como o profeta de Nazaré da Galileia, o Messias, o Libertador, certamente para eles, iria libertá-los da escravidão política e econômica imposta cruelmente pelos romanos naquela época e, religiosa que massacrava a todos com rigores excessivos e absurdos.

Mas, essa mesma multidão, poucos dias depois, manipulada pelas autoridades religiosas, o acusaria de impostor, de blasfemador, de falso messias. E incitada pelos sacerdotes e mestres da lei, exigiria de Pôncio Pilatos, governador romano da província, que o condenasse à morte.

O Domingo de Ramos pode ser chamado também de “Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor”, nele, a liturgia lembra e convida a celebrar esses acontecimentos da vida de Jesus que se entregou ao Pai como Vítima Perfeita e sem mancha para nos salvar da escravidão do pecado e da morte”. Leia também em clerisvaldobchagas.blogspot.com

*Adaptado Wikipédia.

AGRIPA RECEPCIONA NOVOS GUARDIÕES

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de abril de2014

Crônica Nº 1166

Foto: Assessoria Agripa

Foto: Assessoria Agripa

Ontem, sexta-feira, às 17horas, na sua sede provisória, Escola Prof.ª Helena Braga das Chagas, no Bairro São José, a Associação Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA realizou a sua primeira sessão ordinária de abril. A sessão foi longa com vários assuntos a ser tratados, principalmente à recepção aos novos guardiões. Passados pelo teste de firmeza nos seus projetos em defender o meio ambiente, os sócios novatos foram aplaudidos delirantemente pelos veteranos.

Para que uma pessoa se torne guardiã do rio Ipanema, precisa ter seu nome apresentado por um padrinho do quadro, ser discutido e aprovado por unanimidade. Foi assim que os novos guardiões do rio Ipanema chegaram à Associação e participaram da reunião de ontem.

Foto: Assessoria Agripa

ANTONIO (EMPRESÁRIO,) DILMA E LUCINHA (PROFESSORAS), CHARLES (POETA) E GESSÉ (MAQUETISTA). (Foto: Assessoria Agripa)

A sessão foi presidida interinamente por Clerisvaldo Braga das Chagas, conduzindo-a de acordo com seu ritual: leitura da ata da sessão anterior, leitura do expediente, ordem do dia, palavra à bem da AGRIPA, tempo de estudos e avaliação final da sessão através do seu orador.

A limpeza do rio Ipanema, no dia 20 ou 21, através da Secretaria de Obras, marca um dos grandes objetivos da AGRIPA e apenas o início de resgate do Panema. Este foi um dos assuntos da ordem do dia, juntamente com a divulgação do Dia do Rio Ipanema, 21 de abril.

Ficou decidido também a cobrança à câmara municipal das leis ambientais do município e uma solução da CASAL e da Codesvaf sobre o esgotamento sanitários da cidade.

Os guardiões se preparam para uma visita à Capelinha para se juntar à luta dos Guardiões de Mata, à população e a um canal de TV, contra multinacional que objetiva extrair areia naquele povoado, cuja população e animais bebem água das cacimbas do rio.

O presidente em exercício lançou o projeto de condecoração da AGRIPA, em evento solene, sempre em seu aniversário, dia 10 de agosto, aos que muito fizeram pela AGRIPA e pelo rio Ipanema. O desenho, material e confecção da peça terá a concorrência de artistas locais e de fora e será representado pelo símbolo da AGRIPA, com o nome: Condecoração pote de barro. O símbolo da AGRIPA é uma homenagem a mulher, cabocla sertaneja, “carregadeira d`água” das cacimbas do rio Ipanema, desde a fundação da cidade até os anos 1960. A ideia foi aprovada por unanimidade.

Todos os novatos se comprometeram a lutar pelo rio Ipanema, riachos e o meio ambiente do município de Santana.

Duas ou três crônicas ainda não diriam sobre todos os assuntos tratados na AGRIPA, cuja sessão entrou pela noite e foi encerrada com poesia, forró e muitos aplausos.

No final, o orador Ariselmo Melo avaliou a sessão tarde/noite como altamente positiva. O presidente em exercício, Clerisvaldo Braga das Chagas, encerrou a sessão.

PANEMA CHEIO, DÁDIVA CELESTE

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de abril de 2014.

Crônica Nº 1164

Foto: Clerisvaldo

Foto: Clerisvaldo

O regougar dos trovões na madrugada da última terça, trouxe constrangimentos e esperanças. Todo mundo tem medo do trovão assustador que traz consigo os perigos de raios matadores. As pessoas se metem debaixo da cama e os cachorros da rua, sabiamente, disparam para casa. E lá vai o ritual do povo esclarecido, desligando tomadas e se afastando de metais. A energia vai embora e volta várias vezes deixando assanhado o repouso noturno. João corre atrás da caixa de fósforos e Maria procura as velas no escuro. O calor abafado clama pelo ar refrigerado e, a muriçoca vinga-se das investidas humanas, atacando no breu. O sertanejo passa uma noite mal dormida e apela para o antigo abano de palha do tempo da vovó. Lá fora os sucessivos clarões no céu, mostram, entretanto, que as chuvas não estão muito perto, pelo menos em Santana do Ipanema que tanto precisa de boa chuvarada. A noite tortuosa finalmente vai embora e somente a “rebarba” do aguaceiro chega por aqui. Uma frustração. Mas as notícias aos poucos vão chegando de municípios vizinhos que receberam as cargas d´água em toda plenitude.

Ontem correu o boato de cheia no rio Ipanema com águas vindas de Pernambuco. Há muitos anos o rio sertanejo temporário não vem com uma grande massa d’água. De fato as águas barrentas foram chegando e tomando a largura da barragem, correndo pelas sete bocas da ponte firmada na BR-316, dentro da cidade, porém, não foi a cheia aguardada de tempos passados. A profecia do sertão diz claramente que quando o Panema bota cheia nessa época o inverno é bom. Pelo menos essa esperança permanece no coração do homem do campo que espera o final de mais um ciclo de seca em Alagoas.

O pessoal da Associação Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA esteve no Panema à jusante da barragem, enfrentando a fedentina insuportável do matadouro, filmando e fotografando a pequena cheia.

Todos os habitantes do sertão sabem como as chuvas são importantes para a lavoura, para o criatório, e o tema é uma constante da tradição interiorana. Fora o vaticínio das cheias do Ipanema para ser ano de bom inverno, também existem várias outras experiências que o povo sem rádio, sem televisão, sem Internet, aprendeu e ainda hoje repassa para a juventude sequiosa de conhecimentos. Com muita ou com pouca água é assim: PANEMA CHEIO, DÁDIVA CELESTE.

NEGROS EM SANTANA

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de abril de 2014

Crônica Nº 1163

Foto: Clerisvaldo

Foto: Clerisvaldo

Situado a 210 quilômetros de Maceió e a 300 da serra da Barriga, palco de luta do Quilombo dos Palmares, o município foi colonizado pelos arrendatários de terras e sesmeiros descendentes de portugueses. Pelo primeiro documento encontrado sobre Santana do Ipanema, datado de 1771, vê-se claramente que a região sertaneja já estava semeada de proprietários rurais instalados em léguas de terras selvagens que caracterizam o início do povoamento branco.

A área era ocupada pelos índios Fulni-ô ou Carnijós que habitavam o território da vizinha Águas Belas, Pernambuco. Os Fulni-ô foram acessíveis àqueles diferentes que chegavam ao Sertão. As raças foram se cruzando, formando o mestiço curiboca, mameluco ou caboclo, sendo esta última, a expressão mais usada até hoje. O caldeamento branco mais índio formou assim um novo tipo humano resistente de pele branca, queimada: o caboclo nordestino.

O gado há havia invadido o rio dos Currais e as pequenas ribeiras do semiárido alagoano, surgindo à figura destemida do vaqueiro, caboclo tratador do gado por excelência e que ao boi dedicou a sua vida. Foram assim formadas a origem e a descendência do povo santanense com a aristocracia rural branca de sangue português e a coragem bravia dos índios da caatinga.

Os negros em Santana, todavia possuem um elo que tentamos descobrir com o quilombo da serra da Barriga. É bem possível que Martinho Rodrigues Gaia, fazendeiro vindo da Bahia, tenha trazido escravos que ajudaram no abrir de picadas até Santana, em 1787, data da fundação da cidade.

Moradores do povoado negro Tapera do Jorge - AL (Foto: Clerisvaldo)

Moradores do povoado negro Tapera do Jorge – AL (Foto: Clerisvaldo)

Entre 1640 e 1695 (morte de Zumbi) ocorreu o auge e as guerras dos negros refugiados na Barriga. Levando-se em conta a data de 1687, apenas 100 anos separariam o espaço entre os acontecimentos. É de se supor, contudo, que, tanto pela extensão do quilombo de Zumbi que ia até a foz do rio São Francisco, quantos pelos desertores das várias batalhas com os brancos, tivessem chegado por aqui os primeiros e esporádicos elementos ou representantes da raça negra.

Mas, nem todos os negros fugidos de fazendas iam para Palmares. Alguns, desorientados, procuravam apenas ficar o mais distante possível do patrão. Na realidade, negros por essas bandas já havia muito antes do primeiro documento, 1771. De qualquer modo a influência negra pode ter sido maior do que os vestígios deixados no Município nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Negros em Santana eram tão raros que logo quando surgiram eram apontados com a palavra “negro” à frente do nome: “negro” Fulano, “negra” Beltrana”.

*Texto e imagens extraídos do livro “Negros em Santana”.

PREFEITURA E AGRIPA FECHAM PARCERIA

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de abril de 2014

Crônica Nº 1162

Foto: Divulação

Foto: Divulação

Finalmente a Associação Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA chegou ao início dos seus objetivos, planejados durantes meses. Assim como o rio Ipanema, trecho urbano foi dividido em seis partes, para melhor ser trabalhado pelos guardiões, o socorro também foi planejado por etapas. Primeiro remover o lixo doméstico, comercial e entulhos, além de uma campanha permanente. Depois virão outras fases como as das cercas de arame, construção no leito, pocilgas, esgotos, currais, lava-jato e mais. As escolas já estão aderindo ao resgate total do rio Ipanema e a população começa a sentir e a juntar-se à AGRIPA por uma melhor qualidade de vida.

Uma representação dos guardiões esteve ontem à tarde com a comissão dos festejos da emancipação política, levando sugestões para a inclusão do Dia do Rio Ipanema no programa da festa. Houve entendimentos e em breve serão divulgadas as atividades do dia 21.

Ainda na tarde de ontem o prefeito Mário Silva recebeu os representantes dos guardiões, quando se pôs à disposição para ajudar o resgate do rio Ipanema. Haverá uma grande movimentação nos areais do rio, principalmente entre o Poço Grande (acima da barragem assoreada) até a ponte molhada, imediações da Rua da Praia, parte mais crítica da zona urbana, incluindo trecho do riacho Camoxinga e Salgadinho. Campanhas deverão ajudar na mobilização de escolas, comunidades e população em geral.

Por outro lado, a AGRIPA esteve presente na palestra Lagoa Viva, através do seu orador, Ariselmo Melo. Segunda-feira, Ariselmo Melo e Sérgio Soares Campos, estarão guiando o pessoal do CAPS, num breve passeio em ponto apropriado do rio. A AGRIPA recebeu outros convites e ainda estará participando de encontro sobre resíduos sólidos, em Maceió e, ministrará palestra na Escola Cenecista, após entendimento com a professora Dilma. Hoje, os guardiões Clerisvaldo B. Chagas, Sérgio Soares Campos, Marcello Fausto e Manoel Messias, estarão novamente viajando com a reportagem da TV Gazeta de Alagoas, rumo à foz do rio Ipanema, para novas filmagens.

Os Guardiões do Rio Ipanema estão solidários com a população de Capelinha e seus Guardiões da Mata na batalha em que aquele povoado ora enfrenta contra os que querem dominar o rio Ipanema naquele trecho e matar suas cacimbas. Vamos à luta em defesa do maior rio que corta Alagoas.

ESCRITORES E GAZETA DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (V) (Série de 5 crônicas)

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de março de 2014

Crônica Nº 1160

Escritor Clerisvaldo B. Chagas detalha para a TV Gazeta as belezas da região (Foto: Manoel Messias)

Escritor Clerisvaldo B. Chagas detalha para a TV Gazeta as belezas da região (Foto: Manoel Messias)

O povoado Barra do Panema estava ali sob meus pés. Mal acreditava naquilo. Dava uma tremenda vontade de chorar ao fluir à lembrança de 1986 quando cheguei ali com Wellington Costa e João Quem-Quem, a pé, pelos areais do rio Ipanema. Havíamos saído de Batalha, povoado Funil, às três da madrugada e adentramos a Barra às cinco da tarde. Vejamos trecho do livro “Ipanema um rio macho”. “Penetramos triunfantes no povoado Barra do Panema às cinco horas da tarde do dia 9 de janeiro de 1986. Fomos comemorar com aguardente no bar Toca da Raposa, aonde havíamos chegado. Não havia tira-gosto. No povoado não tinha pão. Não havia bolachas para vender. Não havia peixe, nem carne, nem nada (…)”. A zeladora da igreja de N.S. Assunção nos recebeu bem e falou que a igreja, no morro-ilha, estava fechada para reforma. Desistimos de ir lá agradecer à santa. Dormimos num grupo escolar indicado pela zeladora. No livro “Ipanema um rio macho”, falamos da miserabilidade do povoado de Alagoas e o progresso de outro povoado bem à frente, em Sergipe. Diz o livro: “Voltei infeliz e envergonhado com o que constatei no lado alagoano”.

Igreja centenária em morro do São Francisco. (Foto: Clerisvaldo)

Igreja centenária em morro do São Francisco. (Foto: Clerisvaldo)

A única mudança que encontramos foi a estrada boa de acesso; a rua da frente calçada com pedras; um prolongamento do povoado em direção à foz do Ipanema e algumas barracas na praia porque a estrada melhorada de acesso ao povoado estava atraindo pessoas de fora em final de semana. Afora isso, várias residências desabando ou desgastadas significando regressão. O rio São Francisco continuava bonito, mas assoreado.

Parcial do povoado Barra do Panema (Foto: Clerisvaldo)

Parcial do povoado Barra do Panema (Foto: Clerisvaldo)

Peguei o livro “Ipanema um rio macho”, abri na página 60 e indaguei aos moradores se eles conheciam a foto de uma mulher com sua netinha. Todos reconheceram dona Eliete, a zeladora que nos recebera na época. Não pude lhe abraçar porque ela estava em Salvador, fazendo exame de vista. A netinha de colo deveria estar com quase trinta anos agora, mas também se encontrava em outra região. Deixei um livro autografado para ser entregue à zeladora. Fui, então, ao Bar Toca da Raposa. Estava lá ainda o bar, o desenho da raposa, a dona do bar (antes bonitona) completamente envelhecida. Foi uma farra de alegria. Depois o marido apareceu e disse me haver reconhecido. De homem atlético, passou àquela figura típica de homem sessentão. Li trechos do livro sobre “A Toca da Raposa” e deixei um com eles. Para outros moradores indaguei sobre fotos de um casal perto de uma camioneta que nos traria de volta do povoado à Batalha, em 1986, páginas 62, 63 e 64. Ela seguiu conosco como passageira, o marido ficou. Muita bonita a fumante cabocla sertaneja. As pessoas identificaram os personagens na hora. Ela já havia falecido e ele também um ano depois. Fiquei triste novamente.

Marcílio e Manoel Messias animam a noite da Rua Delmiro Gouveia, em final de reportagem (Foto: Clerisvaldo)

Marcílio e Manoel Messias animam a noite da Rua Delmiro Gouveia, em final de reportagem (Foto: Clerisvaldo)

Após saborosa peixada, escritores, profissionais da TV Gazeta de Alagoas e acompanhantes pisaram fundo de volta as suas bases.

Eu lembrava de 1986, página dinâmica, pura e nostálgica da minha vida.

* Final da série de cinco crônicas sobre o trabalho para o programa “Terra e Mar” da TV Gazeta de Alagoas.

ESCRITORES E GAZETA DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (IV) (Série de 5 crônicas)

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de março de 2014

Crônica Nº 1159

Escritor e geólogo Clerisvaldo B. Chagas fala à TV Gazeta. Ao fundo, foz do Ipanema (verde) e rio São Francisco (Foto: Manoel Messias)

Escritor e geólogo Clerisvaldo B. Chagas fala à TV Gazeta. Ao fundo, foz do Ipanema (verde) e rio São Francisco (Foto: Manoel Messias)

Parte física da barra do Panema

Estava tudo registrado no livro “Ipanema, um rio macho”, paradidático que concedeu identidade e CPF a Santana.

Vinha à cabeça qualquer sentido de mudança em relação ao paupérrimo povoado Barra do Panema. Aquele mesmo povoado em que eu chegara a pé vindo da minha cidade através do rio Ipanema, com meus companheiros, radialista Wellington Costa e João Soares Neto (João Quem-Quem), em janeiro de 1986.

A região toda é formada de solo pedregoso com um mar de pedras soltas fragmentadas de grandes rochas desnudas. As enxurradas cada vez mais agem no solo raso deixando à mostra a formação rochosa. A expressiva variação de temperatura entre o dia e a noite, fragmentam as matrizes, deixando que as enxurradas cuidem do restante, é a chamada meteorização.

Equipe da TV Gazeta entrevista  Clerisvaldo B. Chagas em morro-ilha do rio São Francisco (Foto: Marcello Fausto)

Equipe da TV Gazeta entrevista Clerisvaldo B. Chagas em morro-ilha do rio São Francisco (Foto: Marcello Fausto)

A estrada agora estava boa e larga, completamente forrada de terra e pedregulho. Marcílio conduzia o automóvel velozmente, levando os escritores Clerisvaldo B. Chagas e Marcello Fausto (irmão de Marcílio) e mais o diretor de meio ambiente de Santana, Manoel Messias. Atrás seguia o jipão de reportagem da TV Gazeta de Alagoas com o trio profissional. Já havíamos entrado na tarde do dia 21 de março de 2014, ao deixarmos o sítio Telha. Ao vencermos seis ou oito quilômetros, chegamos ao povoado Barra do Panema, lugar pertencente ao município ribeirinho de Belo Monte. O povoado está à jusante da sede aproximadamente a seis quilômetros.

É a esquerda do povoado aonde o rio Ipanema forma a sua foz, desembocadura ou barra, como é chamada no sertão. A barra não havia mudado em nada, nesses quase trinta anos da nossa primeira visita. A mesma planície de aluvião; a foz em forma de delta, pela ilha de material trazido pelo rio Ipanema, sempre rasa, aplainada pelas cheias do São Francisco; a várzea inundável na margem esquerda; o povoado na margem direita; o morro-ilha defronte a foz, no meio do rio São Francisco; a igreja de N.S. Assunção no cimo do morro com seus túmulos defronte, onde o padre penedense Francisco José Correia de Albuquerque (um dos fundadores de Santana) pregava e vaticinava; tudo continuava como antes.

Guardiões do Rio Ipanema com a reportagem da TV Gazeta (Foto: Marcílio)

Guardiões do Rio Ipanema com a reportagem da TV Gazeta (Foto: Marcílio)

O rio São Francisco, assoreado, não oferecia mais o caminho de praia para se chegar pelo lado oposto do morro. Fomos de barco para a face do monte, lado da foz do Ipanema. Fizemos como cabritos escalando a parte íngreme do morro de N.S. dos Prazeres.Filmagem, entrevistas, fotos, realizadas no alto, foram complementadas pelo som de forró com pandeiro, triângulo e zabumba no barco e nas barracas da praia, guiado pelo também forrozeiro Manoel Messias.

Sobre as cheias do Ipanema, disse um pescador: “O Panema quando dá uma cabeçada, rasga o São Francisco no meio e vai mexer nas ilhas do lado sergipano”. Ô Ipanema, um rio macho!

Momento de lazer dentro do barco (Foto: Clerisvaldo)

Momento de lazer dentro do barco (Foto: Clerisvaldo)

Tudo ali já havia sido descrito no livro de Clerisvaldo B. Chagas, mas as belezas naturais e exóticas do lugar precisavam ser mostradas ao mundo. A TV Gazeta de Alagoas iria complementar o trabalho de B. Chagas.

O social do povoado e a peixada ficam para amanhã, a última crônica da série de cinco.

ESCRITORES E GAZETA DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (III) (Série de 5 crônicas)

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de março de 2014

Crônica Nº 1158

ESCRITOR E GEÓGRAFO CLERISVALDO B. CHAGAS, EXPLICA OS FENÔMENOS NO RIO IPANEMA (Foto: Manoel Messias)

ESCRITOR E GEÓGRAFO CLERISVALDO B. CHAGAS, EXPLICA OS FENÔMENOS NO RIO IPANEMA (Foto: Manoel Messias)

Enquanto o automóvel engolia a estrada de terra pedregosa, eu pensava na frase escrita há 27 anos no livro “Ipanema um rio macho”: “Adiante, nada mais de veredas e sim uma longa descida de pedras gigantescas até chegar à areia, lá muito à frente, na parte central do abismo. Era um espetáculo tão grandioso e aterrador que eu tive a impressão de está em outro planeta”.

CLERISVALDO B. CHAGAS (CAMISA BRANCA) E EQUIPE DA TV GAZETA DE ALAGOAS (Foto: Marcello Fausto)

CLERISVALDO B. CHAGAS (CAMISA BRANCA) E EQUIPE DA TV GAZETA DE ALAGOAS (Foto: Marcello Fausto)

Lá íamos nós, Clerisvaldo, Marcello Fausto, seu irmão Marcílio e Manoel Messias. Atrás seguia a equipe de reportagem da TV Gazeta num jipão. Chegamos ao sítio Telha, nome local, ou Cachoeiras, apelidado pelos nossos antepassados santanenses. Estava ali o trecho mais fantástico do rio Ipanema em seus 220 km de extensão. Tudo intacto como eu o deixara ao passar ali a pé com meus companheiros Wellington Costa e João Quem-Quem, naquela tarde abrasadora de janeiro de 1986. O longo canhão rasgado pelo rio Ipanema, as montanhas marginais brancas e avermelhadas, a vegetação de caatinga no terreno pedregoso que a não deixava crescer; o extenso corredor de rochas lavadas no leito do Panema em variadíssimas formas e dimensões pelo declive imenso, as serranias mais distantes, a solidão de deserto e a bela e terrível paisagem num todo, deixavam-me repetir automaticamente a frase escrita: “Tenho a impressão de está em outro planeta”.

CLERISVALDO, MANOEL MESSIAS E MARCÍLIO NA CAATINGA DO SÍTIO TELHA (Foto: Marcello Fausto)

CLERISVALDO, MANOEL MESSIAS E MARCÍLIO NA CAATINGA DO SÍTIO TELHA (Foto: Marcello Fausto)

Quando o repórter se chegou a mim, repetiu a mesma frase, como se tivesse lido meus pensamentos: “Tenho impressão que estou em outro planeta”. Todos estavam extasiados e meditativos. Como é possível um cenário deste em pleno sertão alagoano? “Ipanema um rio macho” descreveu, a TV Gazeta de Alagoas vai mostrá-lo ao mundo.

O santanense dizia que a piracema esbarrava nas Cachoeiras. O peixe não chegava a Santana, com razão. Menos de 1% da minha cidade conhece o lugar Telha.

Não se pesca mais o pitu nas Cachoeiras para ser vendido em Sergipe. A estrada até o lugar foi alargada. Talvez tenha surgido umas duas casas de taipa, no restante tudo permanece igual como se o tempo nunca tivesse passado naquele fim de mundo, naquele deserto de outro planeta repleto de macambiras, facheiros e cobras venenosas.

RIO IPANEMA E O FANTÁSTICO (Foto: Clerisvaldo)

RIO IPANEMA E O FANTÁSTICO (Foto: Clerisvaldo)

Estávamos ali entre 6 e 8 km do povoado Barra do Panema, município de Belo Monte. Após filmagens, fotos e entrevistas, juntamos o material de pesquisa, retornamos pela mesma estrada em forma de corredor até a principal que leva ao povoado. Tarde do dia 21 de março de 2014.

ESCRITORES E GAZETA DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (II) (Série de 5 crônicas)

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de março de 2014

Crônica Nº 1157

ERMIDA NO LEITO DO RIO IPANEMA E SUA HISTÓRIA COLOSSAL. (Foto: Clerisvaldo)

ERMIDA NO LEITO DO RIO IPANEMA E SUA HISTÓRIA COLOSSAL. (Foto: Clerisvaldo)

Milagre na Capelinha

Em 1941, o rio Ipanema chegou com a maior cheia que se tem notícia em Alagoas.

Nos areais e pedregulhos do seu leito, no povoado Capelinha, município de Major Isidoro, o Panema trouxe longo choro. Uma família que habitava na margem direita, cuja residência ainda existe, foi lavar roupa no rio. As águas, porém, levaram uma criancinha de três anos de idade. A procura e o desadoro durou três dias pela região. No final dos três dias, um pastor de ovelhas ouviu um choro e encontrou a criança na crista de uma pedra, defronte a casa dos pais, porém na margem oposta. Imaginemos a alegria daquela pobre família. O garoto, chamado Antônio, não tinha um só arranhão! Indagado ele contou que uma mulher o agasalhara e o alimentara, colocando-o debaixo de uma pedra. Os pais e outras pessoas, devido ao sobrenatural acontecimento, mostraram ao garoto várias fotos e imagens de mulher para ver se ele identificava alguma. Antônio não vacilou e apontou para a imagem de Nossa Senhora de Lourdes. O povo, em agradecimento à santa, construiu uma igrejinha na pedra onde o menino fora encontrado. Ainda hoje a igrejinha é lugar de promessa, romaria e meditação.

Contam ainda que muito tempo depois, adulto e morando na região de Craíbas, Antônio viera visitar a igrejinha com outras pessoas. Chegando à porta da ermida, teria exclamado para todos: “Ela está aqui! A mulher que me salvou está aqui!”. Claro, todos correram para aquele ponto e nada viram. Entretanto, Antônio, que parecia ouvir alguém, virou-se para todos e falou o que ela lhe dissera naquele momento: “Eu o salvei não foi para você se tornar ruim do jeito que é”. A população conta que Antônio voltou para a região de Craíbas, por certo muito desgostoso, pois jogava, fumava e praticava outras coisas. Afirmam que ele ainda é vivo e deve contar com 76 anos de idade.

Ipanema

O povoado Capelinha é centro da Bacia Leiteira. Cria gado ovino e bovino selecionados, sendo também a terra de grandes fazendeiros e vibrantes vaquejadas. Ali perto, o rio Ipanema recebe o riacho Dois Riachos que vem de Pernambuco, banha a cidade do mesmo nome, em Alagoas, e se torna o mais importante afluente do Panema

DIVA, PESQUISADORA DA REGIÃO, FOTOGRAFA O RIO. (Foto: Clerisvaldo)

DIVA, PESQUISADORA DA REGIÃO, FOTOGRAFA O RIO. (Foto: Clerisvaldo)

Infelizmente o povo ainda precisa muito das suas águas de cacimba na estiagem e, a extração de areia do seu leito, está prejudicando o povoado. Foi criada em Capelinha a organização Guardiões da Mata que age como os Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA, em Santana.

A professora Diva Correia de Morais, é avó, pesquisadora, cordelista e está à frente dos guardiões. Foi ela quem narrou a história acima e, sua luta pela preservação da natureza na região é árdua, insistente e quase solitária.

O rio Ipanema banha praticamente toda a Bacia Leiteira, tornando a região rica e agrestada. Lá mais a leste, o rio Traipu, faz parte dessa força que impulsiona a agropecuária sertaneja, fazendo trio com o rio Capiá, no alto sertão, formando assim a trinca mais importante dos caudais sertanejos.

Amanhã desceremos mais o rio até o sítio Telha e o povoado Barra do Panema.

ESCRITORES E GAZETA DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (I)

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de março de 2014

Crônica Nº 1156

IPANEMA EM ALAGOAS

PROFESSORA E GUIA, ELIANE, MOSTRA O RIO IPANEMA NA DIVISA (Foto: Clerisvaldo)

PROFESSORA E GUIA, ELIANE, MOSTRA O RIO IPANEMA NA DIVISA (Foto: Clerisvaldo)

Era quinta-feira (20) primeiro dia de outono, quando os escritores Clerisvaldo B. Chagas e Marcello Fausto mais o secretário de Agricultura e Meio Ambiente, de Santana, Luiz Carlos e o diretor de meio ambiente Manoel Messias, partiram de Santana do Ipanema em direção ao município de Poço das Trincheiras. Do Bairro Barragem, após o encontro com a equipe de reportagem Gazeta de Alagoas, comandada pelo repórter Giovani, a caravana seguiu até o minúsculo povoado Barra do Tapera. Seria o primeiro ponto entre os quatro escolhidos do rio Ipanema, pelo escritor Clerisvaldo B. Chagas, para serem apresentados no programa “Terra e Mar”, exibido aos sábados pela TV Gazeta.

RIACHO TAPERA (ACIMA DA CERCA) DESPEJA NO IPANEMA. (Foto: Clerisvaldo)

RIACHO TAPERA (ACIMA DA CERCA) DESPEJA NO IPANEMA. (Foto: Clerisvaldo)

Passando pela sede do município, pelo povoado Quandu e dali guiados pela professora Eliane Gomes, até o seu natural, povoado Tapera, chegamos ao destino.

Ali, aonde o rio Ipanema vindo de Pernambuco, penetra em Alagoas, recebe o seu primeiro afluente importante, o riacho Tapera e outros menores. O riacho Tapera tem leito de areia fina, calha considerável de aproximadamente 10 metros de largura e suas nascentes estão no lugar chamado Barra Verde, proximidades da cidade pernambucana de Itaíba. É riacho de fronteira e na confluência com o rio Ipanema, mostra como cenário em terras alagoanas a serra da Tapera completamente salpicada de rochas brancas desnudas.

Toda a calha do rio Ipanema, suas margens e várzeas no município de Poço das Trincheiras, exibem o verde de árvores, bosques de craibeiras, algarobeiras, capim, grama, plantações de sorgo, milho e palmas forrageiras irrigadas através de bombas nas cacimbas escavadas do rio.

A última vez em que Ipanema tinha botado grande cheia fora em janeiro de 2004, segundo a professora Eliane Gomes que também é fazendeira na serra da Tapera. O riacho Tapera e o rio Ipanema, além do fornecimento de água para a Agricultura local, também são pontos de lazer nas cheias violentas de ambos.

INÍCIO DO RIO IPANEMA EM ALAGOAS (Foto: Clerisvaldo)

INÍCIO DO RIO IPANEMA EM ALAGOAS (Foto: Clerisvaldo)

O vale do rio Ipanema é bastante habitado no município do Poço das Trincheiras, cercado pela serra da Tapera, serrote do Quandu e serra do Poço, a mais alta daquela região.

O Quandu é o maior povoado e já tem boa parte da rua principal calçada com paralelepípedos e possui várias escolas municipais e estaduais.

Não confundir a palavra guandu com quandu. Guandu é uma espécie de feijão, também chamado andu. Quanto à palavra Quandu, é o mesmo significado de ouriço-caixeiro, mais conhecido no sertão como porco-espinho. Tapera: casa pobre feita de taipa.

Após várias entrevistas, partimos para o povoado Capelinha, município de Major Isidoro.

Assunto de amanhã.