A POBREZA NA EUROPA DESENVOLVIDA

Foto: Assessoria / SETE

Hoje abrimos espaço para meditação sobre emprego e salário nos países desenvolvidos. Uma oportunidade para se fazer comparações e até definir se vale à pena deixar o país e partir para trabalhar na União Europeia.

“Apesar do bom nível de desenvolvimento socioeconômico da Europa, têm aumentado os índices de pobreza em alguns países do continente. Uma das principais causas dessa realidade é o aumento das taxas de desemprego. Os países da União Europeia vêm organizando estratégias para conter o desemprego, que atinge cerca de 10% de seus habitantes, de acordo com dados do site oficial da União Europeia (2014).

Dentre as medidas que estão sendo propostas para criar empregos, destaca-se a adoção de políticas flexíveis de contratação e a dispensa de trabalhadores. Na Itália e no Reino Unido, o trabalho autônimo vem crescendo em virtude da terceirização e da subcontratação na indústria e nos serviços.

Paulatinamente, por pressão das empresas, os trabalhadores vêm aceitando definir acordos de ampliação da jornada de trabalho sem aumento de salário ou acordos de redução da jornada com diminuição de salário, a fim de garantir seus empregos. Além disso, muitas empresas europeias optaram por investir em outros países e continentes, entre eles, a China.

Todo esse processo de alteração na estrutura de empregos está sendo acompanhado pela deterioração das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores, mesmo nos países desenvolvidos, o que se traduz em queda de salários reais, instabilidade no emprego e desemprego dos menos qualificados.

É claro que os critérios de classificação da pobreza nos países desenvolvidos da Europa são bastante diferentes dos padrões dos países subdesenvolvidos, como o Brasil, por exemplo. Pela definição da União  Europeia, as pessoas consideradas ‘ameaçadas de pobreza’ recebem menos de 60% do salário médio líquido pago em seu país. Na Alemanha, por exemplo, cujo salário médio é de 1.427 euros mensais, é considerado pobre quem recebe menos de 856 euros.

LUCCI, Elian Alabi & BRANCO, Anselmo Lazaro. Geografia homem e espaço (9). São Paulo, Saraiva, 2015. Págs. 75-76”.

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de julho de 2018

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano – Crônica: 1933

NEGROS E NEGRAS

Foto: Divulgação

Os negros nunca demonstraram ser passivos. Ante tanta humilhação, muitos utilizaram o suicídio como forma de protesto e resistência. Mostravam, assim, que a vida lhe pertencia e tiravam de seus donos esse privilégio’.

“Muitos se deixavam morrer de tristeza, outros fugiam.

Nas senzalas, para onde os escravos eram levados por seus compradores, a situação não era muito diferente daquelas dos navios.

Durante o dia, trabalhavam duro na lavoura (o trabalho já era conhecido por muitos deles, pois muitos grupos eram agrícolas na África). Outros se dedicavam aos trabalhos em bronze, cobre, ouro e madeira; outros ainda eram tecelões, ferreiros e criavam animais de subsistência. Isso explica porque os negros são considerados a base da colonização do Brasil. Sem eles não existiria Brasil. Eram os escravos que fabricavam os móveis e utensílios da casa-grande; os tecidos mais grosseiros eram confeccionados por eles e mais tarde, no ciclo do ouro, o braço escravo foi amplamente utilizado como mineradores e ourives”.

VALENTE, Ana Lúcia. E. F. Ser negro no Brasil hoje. São Paulo: Moderna, 1996. P.15.

No Sertão de Alagoas os negros estavam em diversas profissões. Grupos trabalhavam em família fazendo cercas de pedras que ainda hoje existem. O líder era chamado de Mestre e muitos desses mestres ficaram famosos na região. Outros indivíduos faziam e vendiam nas ruas, o mungunzá e o fubá. Adaptaram-se bem na profissão de carreiro e vaqueiro, pois era notório o cuidado carinhoso com os animais. Muitos viviam do artesanato de caçuás e balaios de cipó. Alguns chegaram até a vestir a farda policial.

O ponto de venda dos escravos em Santana do Ipanema, por exemplo, era defronte a chamada Cadeia Velha, situada na hoje Rua Nilo Peçanha que vai do Comércio à primeira travessa da Rua Antônio Tavares.

As mulheres negras, em geral, trabalhavam como domésticas em casa de brancos. Outras viviam do artesanato de barro, como panelas e, da palha como abanos, chapéus e vassouras. Contribuíram em muito com a culinária e a elas devemos pratos saborosíssimos consumidos no Sertão.

Sem fim são as histórias Afro no Brasil

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de julho de 2018

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 1.932

O FOLE RONCOU

Quadrilhão Do Helena. (Foto: Clerisvaldo B. Chagas)

O fole roncou, comadre, nesse sertão velho de meu Deus! Todas as cidades sertanejas fizeram os chamados palhoções para as danças de quadrilha. Quando não havia palhoções do poder público, havia os das diversas comunidades sertanejas nas ruas, nos becos onde a sanfona impagável gemeu à noite inteira. Sanfoneiro bom deu preço, Zé! E quem não pode contratar um cabra bom de verdade, teve que apelar para os CDs em famosos salões de festa, por aí. E se foi com Fala Mansa, Fala Grossa, Manoel Messias, Chameguinho ou com o finado Gonzagão, nem interessa muito. O importante era balançar a roseira com botina simulada e lenço de quadrado no pescoço. Haja cana, menino, que no São João desse ano, até raposa “Expromentou” da branquinha.

É bem verdade que o São João perdeu muito brilho devido ao asfalto em muitas ruas que não puderam acender fogueiras. Mas também ouve grande diminuição dessa prática em inúmeras outras de calçamento ou de terra. As fogueiras nas ruas sofreram uma baixa de mais de 50%. A festa do santo encolheu bastante e o geral passou a ser localizado. Mesmo os fogos de artifício deram o ar da graça, com rojões e foguetes esporádicos Na terra, bombas e traques procuravam lembrar os velhos tempos e muitas palhoças e bares amanheceram o dia despejando forrós.

Ontem mesmo, encerrando a sequência dos três santos, a quadrilha da Escola Helena Braga das Chagas, fechou a parte festiva do mês. A Culminância do Projeto Junino foi um sucesso do Bairro São José que movimentou o grande salão da escola. Vários tipos de brincadeira tomaram conta de alunos e funcionários nas fases antes e depois da quadrilha. Muito esperado também um forró que furou a rotina dos inúmeros dias de aula. No final da manhã, um lanche reforçado à base de comidas típicas, onde o milho novamente foi o rei. E por falar em milho, foi eleita a Rainha do Milho e o Rei do Sabugo, que distribuíram simpatia e mais simpatia pela animada plateia.

Para o ano tem mais, amigo, quem perdeu, perdeu. Foi tinindo de bom.

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de junho de 2018

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 1.931

O MOTE DA SELEÇÃO

Ex-jogador Pelé (Foto: Reprodução)

Como é que o Brasil ganha

Sem Pelé na Seleção?

 

O Brasil estar sofrendo

Pra ser o melhor do mundo

Até mesmo São Raimundo

Não estar compreendendo

Coutinho amadurecendo

Jesus não tem precisão

Ocultaram Felipão

Tite já perdeu a banha

Como é que o Brasil ganha

Sem Pelé na Seleção?

 

Bonecos correm na grama

Igual vaqueiro no mato

É jogo de gato e rato

Todo o ataque reclama

Chuteira foge da trama

Rasga a bunda e o calção

Lascaram Neymar no chão

O juiz diz que é manha

Como é que o Brasil ganha

Sem Pelé na Seleção?

 

Topete é muita frescura

Que salão não ganha jogo

É melhor curar o gogo

Balançar a perna dura

Se pelejar ninguém fura

Meta de outra nação

A rede de precisão

Vira casa de aranha

Como é que o Brasil ganha

Sem Pelé na Seleção?

 

O jogador só quer fita

Na hora do gol refuga

Leva bomba, não tem fuga

Abaixa o meião e grita

O juiz corre e apita

Trás a tinta mela o chão

Paulinho dá um balão

Neymar outra vez apanha

Como é que o Brasil ganha

Sem Pelé na Seleção?

 

Cassimiro vai correndo

Quer partir pelo miolo

Marcelo se faz de tolo

Wiliam sai se benzendo

Thiago se maldizendo

Na perna leva um tostão

Firmino dá um bicão

Que o treinador se acanha

Como é que o Brasil ganha

Sem Pelé na Seleção?

 

O torcedor se agita

Com medo duma derrota

O zagueiro mete a bota

Uma velhinha acredita

O capitão vem e grita

Chama o juiz de ladrão

Goleiro dá um chutão

Vem o contra e lhe arranha

Como é que o Brasil ganha

Sem Pelé na Seleção?

 

FIM

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de junho de 2018

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 1.930

RIACHO IPIRANGA/RIACHO DE OSCAR

Riacho Ipiranga em São Paulo (Foto: Dornicke / Reprodução / Wikipédia)

O riacho Ipiranga – queremos dizer: o riacho em cujas margens foi proclamada a independência do Brasil – fica em São Paulo. Dar nome ao bairro em que se situa. O riacho Ipiranga é relativamente pequeno, possuindo apenas 9 km de extensão. Suas nascentes estão situadas no Parque Estadual Fontes do Ipiranga, reserva natural de mata atlântica (floresta tropical), encravada em plena zona sul da cidade. Elas estão distribuídas nas instituições: Jardim Botânico de São Paulo, Zoológico de São Paulo e no Parque Cien Tec. Sua foz se encontra na margem esquerda do rio Tamanduateí. Se formos saber o seu topônimo, ele vem do tupi que significa: rio vermelho; é a junção dos termos ‘y (rio) e pirang (vermelho). Com a Independência o simples riacho ficou famoso a partir de 7 de setembro de 1822.

O nosso município não tem nenhum córrego denominado Ipiranga. Conhecemos o mais famoso deles que é o Camoxinga porque corta a cidade e originou o nome do bairro maior. E para quem ainda não sabe, Camoxinga significa em língua indígena: montanha que chora. Mas temos ainda o Salobinho, o Salgadinho, o Gravatá e o João Gomes, além de outros.  Referindo-se ao lugar em que nasceu, o escritor santanense Oscar Silva anotou que foi ali às margens do riacho João Gomes, desconhecido para todos os geógrafos do Brasil. Silva tinha razão na época.

O nosso projeto, aqui divulgado, sobre o resgate e apresentações dos mais de 130 sítios de Santana, inclui também o resgate de serras, serrotes, lagoas e riachos, caracterizando-se assim uma Geografia Física completa da nossa zona rural. Tendo apoio tudo se concretiza, sem apoio o projeto fica difícil.

 E se nós não temos o riacho Ipiranga de D. Pedro I, poderemos, quem sabe, “descobrir” o riacho João Gomes do escritor Oscar Silva e entregá-lo à sociedade.

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de junho de 2018

Crônica: 1.929 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

PARABÉNS SERTÃO/GOVERNADOR

Praça em Olivença (Foto: IBGE)

Há mais de vinte anos, correndo atrás do Saber, acompanhamos todo o asfaltamento da estrada Olho d’Água das Flores – Arapiraca. O ônibus lento da Viação Progresso fazia rodeios enormes pelas fazendas Batalha – Jaramataia, como se tivéssemos vivendo ainda no século XIX. Dois anos depois, um grupo pequeno em automóvel saía de Arapiraca após as aulas noturnas para chegar a Santana do Ipanema, nunca menos da meia-noite. Várias vezes, nas imediações de Batalha, entrávamos pela estrada de terra que dava acesso a Olivença, fugindo do rodeio enorme por Olho d’Água das Flores. A estrada de terra ora estava boa, ora péssima onde a poeira cobria no trajeto inteiro. Sempre com olhos futuristas, perguntávamos se um dia o asfalto chegaria por ali.

Quase três décadas depois, o nosso instinto futurista é recompensado. Semana passada, disse o governador em Olivença: “Vamos fazer uma estrada muito importantes que vai encurtar os caminhos para Santana do Ipanema, fortalecer a cidade de Olivença e o comércio de Batalha, que é a ligação Batalha – Olivença. São 17 quilômetros que vão tirar Olivença do fim de linha. Com mais essa estrada, o desenvolvimento vai chegar a Olivença”. Ainda o governador: “As pessoas vão passar pela cidade. Vão abrir um negócio, um posto de gasolina, um restaurante, uma pousada. Isso gera mais empregos, mais salários e tudo isso vai trazer o desenvolvimento e a prosperidade a Olivença (…)”.

O homem está com a razão. E como está sendo o maior construtor de estradas, depois de Divaldo Suruagy, não duvidamos da sua palavra. Entretanto, a estrada já existe, achamos que ele quis dizer, “iremos asfaltar”. Quem sai de Santana para Arapiraca, o trajeto mais provável é passar por Olho d’Água das Flores. Com essa promessa, o condutor do veículo seguirá direto por Olivença que tem entrada asfáltica, mas não tem saída. Não será mais preciso rodear por Olho d’Água. Mais outra grande vitória espetacular para o Sertão alagoano e particularmente para Olivença que fica fora do eixo viário e só vai ali quem tem negócio.

E se Olivença está felicíssima com a promessa da autoridade, pois irá engatar a quinta marcha para o progresso, estamos muito mais felizes de que Olivença, pela nossa previsão, sacrifício no passado por ali e a promessa de Renan.

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de junho de 2018

Crônica: 1.928 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

SÃO JOÃO DO TEMPO BOM

Foto: B. Chagas

O Sertão alagoano está completamente ligado nos festejos juninos. O Sertão alagoano e o Sertão do São Francisco, devido às chuvas que vêm se arrastando desde o mês passado. Principalmente à noite surge à frieza cabulosa nos costumes da quentura, sem respeitar altitudes, sim senhor.

Desde lá nas alturas, Mata Grande, Água Branca, Pariconha, o São João vai ganhando espaço por Delmiro Gouveia, Inhapi, Canapi, Poço das Trincheiras, Maravilha, Ouro Branco. Espoca o foguetão sobre Olho d´Água das Flores, Olivença, São José da Tapera, Carneiros, Senador Rui Palmeira, Olho d’Água do Casado, Piranhas, Pão de Açúcar e Palestina. Tem quadrilha em Batalha, Jacaré dos Homens, Monteirópolis, Major Isidoro, Jaramataia e Belo Monte. Muito forró nas ruas, nos arraiais improvisados, repleto de comidas típicas, inclusive, em Dois Riachos, Cacimbinhas e Minador do Negrão.

Mas o bom mesmo para a posteridade é o São João realizado nas escolas, porque mantém a tradição e assegura a continuidade dos velhos tempos. Em Santana do Ipanema, além dos vários pontos da brincadeira pela cidade, a Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas, colocou em prática seu projeto chamado Projeto Junino: Sabores e Cultura. Todas as áreas participam e levam a culminância para o dia 28 próximo. A escola vive o clima e os próprios alunos com a professora de Arte, Vilma de Lima, fizeram a decoração geral sob inebriante alegria. Os próprios estudantes dizem que “a quadrilha estar tinindo de boa”.

O Nordeste se agita com tanto sanfoneiro e forró pé de serra que a nação nordestina se engasga com tanta música, dança e comidas típicas. O milho predomina por todos os lugares e os transportes carregando o produto cruzam por rodovias, estradas e veredas. E se os balões foram proibidos, mas as fogueiras ainda não. Nas feiras e mesmo em dias normais, as espigas verdes do milho fazem montes nas praças das cidades trazendo o sorriso largo e sertanejo pela fartura apresentada. “Tá barato, gente!”, grita o vendedor. Mas grita por gritar, pois o produto está mesmo ao alcance de todos. E assim também rola a inseparável aguardente, porque em nossa terra não se anima festa sem cachaça.

Espere compadre, depois continuarei que tem um rabo de saia me provocando para dançar. FUI.

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de junho de 2018

Crônica 1.927 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

AMENAS HISTÓRIAS SANTANENSES

Serrote do Cruzeiro (Foto: Clerivaldo B. Chagas)

No tempo em que os homens tiravam o chapéu na igreja e as mulheres cobriam a cabeça com tule, estávamos no catecismo. Ótimas e amadas catequistas havia na Matriz de Senhora Santana que conquistavam a todos nós, os pequenos. Ficávamos à vontade dentro daquela igreja grande e bela. Sempre saíamos andando pela nave, visitando, a sacristia, o altar-mor, o coro e o oitão direito da igreja ainda sem construção. A casa vizinha possuía um longo roseiral de rosas vermelhas e brancas. Depois o padre Cirilo construiu ali o salão da paróquia, ficando extinto o roseiral. Esta antiga residência onde hoje é o Museu, foi onde morou o maestro Seu Queirós. Salvo engano morou ali por alguns tempos, Frederico Rocha que chegou a ser interventor em Santana e construiu a praça defronte a Matriz. A última pessoa a habitar o casarão foi a moça velha Antéia, filha do maestro Queirós e que em certo período trabalhou no museu. Muito educada, pessoa finíssima.

Vez em quando as catequistas faziam um passeio conosco. Os lugares aprazíveis preferidos ainda eram distantes do centro com raras habitações: Lajeiro Grande, serrote do Cruzeiro e Barragem. Pense na felicidade da meninada! O Cruzeiro sempre foi o monte sagrado da cidade; a barragem tinha espaço e água de sobra; e o Lajeiro Grande apresentava como atração o próprio lajeiro, a igrejinha do padre Cícero, erguida como promessa de um político, pilão de pedra por trás da igrejinha e a verde vegetação periférica da pedra enorme.

Santana se expandiu e atualmente o casario vai além do Cachimbo Eterno lambendo os pés do serrote do Cruzeiro, um dos pulmões da cidade. Além da barragem, o bairro formado pelos trabalhadores da rodagem – os cassacos – originou o Clima Bom e a parte de baixo rumo à Mata Verde. E quem mais se expandiu foi o Lajeiro Grande, que hoje é tão bonito quanto perigoso.

Estamos deixando rastros e mais rastros sobre a nossa urbe, para futuros pesquisadores da terra.

Véu descoberto.

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de junho de 2018

Crônica 1.926 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

MONTADO NO PEIXE

Foto: Marcos Santos
/ USP Imagens

Estava escutando uma entrevista política, em que a entrevistada defendia os bons políticos. Não sabemos muito o significado de bom. O próprio Jesus, ao ser chamado de bom Mestre, afirmou que ele não era bom, bom era o pai que estava no céu. A entrevistada dava conselho para que o eleitor estudasse a vida ativa do político para excluí-lo ou reelegê-lo. Mas o nosso povo ainda não tem consciência política. E talvez seja essa a grande arma dos candidatos a alguma coisa, principalmente, as chamadas raposas, que além de raposas, ainda são velhas raposas. Conhecem mais o eleitor do que intimidade da própria mulher ou vice-versa.

O político conhece profundamente a região onde atua e leva dose alta de psicologia em busca do voto. E se a sua região, como a nossa, possui mais de 50% de analfabetos e pobreza extrema, como encontrar consciência política nesta seara de sobreviventes? É por isso que se diz que o que elege o político é o dinheiro. Balela é dizer que Fulano ou Beltrano não se elege mais nunca devido a sua má administração. Isto só funciona se o político não tiver dinheiro ou apoio financeiro sem limites. Pertinho das eleições os viveiros são abertos e os milhares de “peixes” procuram bolsos vazios, bocas famintas e consciências sem miolos.

Eles, os donos do poder, sabem que depois da eleição, o Zé Povinho, no geral, não procura saber nada a respeito da administração. Quer apenas uma visita, uma tapinha nas costas, um favorzinho de nada e a esperança de mais cedo ou mais tarde, outro “peixe” no bolso liso e nada mais. E se a maioria age dessa maneira, por que se preocupar com a minoria consciente? Ah, amigo, isso é no Sertão, no Agreste, no Mangue, seja onde diabo for. E não adianta aquela conversa de saber escolher. Como escolher se são sempre os mesmos! Dessa maneira bate-se na velha tecla tão usada por certo senador: só a educação pode mudar esse país. E como a educação também anda de muletas, esticam-se os dias de prestação de contas.

Segue o país montado no “peixe”, até quando Deus quiser.

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de junho de 2018

Crônica: 1.925 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

TITE: FOI NUM PINGO D’ÁGUA

Brasil x Suíça pelo primeiro jogo da Copa do Mundo 2018 (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Foi no peste do antigo vestibular. E vestibular e ENEN são um mesmo saco de se transportar gatos. Uns reclamam que nada sabem de Matemática, outros que estão voando em Física, outros ainda que vão fazer o teste como quem vai à forca. Quase sempre a redação possui um peso enorme, um peso descomunal para quem não gosta de ler e nem escrever. Mas na verdade sempre foi prato amargoso tanto para o fraco quanto para o sabido. É ali onde não se tem por quem gritar que se vê o valor do estudo. O conselho de tantos anos de pais e professores, mostrando o caminho certo, surge na mente enferrujada dos clientes nervosos. Muitos saem da sala com sentimento de culpa e outros aliviado pelos dever cumprido. E se vestibular e ENEN não forem purgatório, pode ficar certo que são vizinhos.

Após as provas e os risos amarelos, surgem muitas vezes às piadas criativas, as brincadeiras, as anedotas de desconcentração que não caem nos questionamentos oficiais. E foi assim que o estudante chegou diante desse tribunal, apreensivo com a tal redação. Quando tudo foi descoberto para as respostas, surgiu o tema da cuja dita. Muito difícil para os fracos, muito fácil para os inteligentes, mas no geral, um impacto desgraçado: Um pingo d’água. Passado o momento do susto, puxa a página, vira a página, chora sobre a página. Mas como o brasileiro não gosta de perder a piada, o gaiato responde a redação com apenas uma frase: Foi num pingo d’água em que me afoguei.

Na vida geral também as surpresas aparecem, sendo bom o sujeito não ser fanático em nada. Bem assim em nosso futebol que gera muitas expectativas onde os bons ficam doidos e doidos mais ainda. Depois de se esperar tanto pelo Brasil dos melhores jogadores do mundo, o que se viu ontem contra a Áustria, foi um aperreio só. Os jogadores brasileiros não se encontravam em campo e terminou sendo apenas um amontoado de estrelas, quase igual à abóbora de lixo anterior. Assistimos a todos os jogos até agora, mas nada igual ao vexame de ontem. É por isso que não se deve ser fanático em nada, nem em futebol. O Brasil jogou m… pura. E o nosso comandante – com o magote – afogou-se vergonhosamente na redação do pingo d’água.

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de junho de 2018

Crônica 1.924 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano