O TREM DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de agosto de 2014

Crônica Nº 1.239

Foto: Ilustração

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Toda a movimentação entre o interior sertanejo e a capital Maceió, era feito através de navios. Ia-se até Pão de Açúcar, cidade ribeirinha do rio São Francisco, onde se embarcava em um navio (vapor) até deixar o rio através de Penedo, ganhando-se o oceano Atlântico.

Quando a via férrea em Alagoas, chegou da capital até a cidade de Viçosa, já foi considerado um grande avanço para o sertão. Quem tinha negócio a resolver na capital, saía do sertão e alto sertão a cavalo até a cidade de Viçosa, onde tomava o trem. Não temos a certeza em quanto tempo o cavaleiro rompia as léguas que separavam o semiárido de Viçosa, Zona da Mata Alagoana. Calculamos em, aproximadamente, três dias.

Foto: Ilustração

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No livro “O boi a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema”, vamos ler sobre o ex-intendente de Santana, padre Manuel Capitulino de Carvalho, chegando de Maceió a Santana do Ipanema, com mais de cem cavaleiros, vindos do desembarque do trem, em Viçosa. Entrava-se na cidade pelos subúrbios Bebedouro, Maniçoba e a festa era grande com duas bandas de músicas santanenses em recepção aos cavaleiros.

Depois o progresso adiantou os passos e o trem de Viçosa chegou mais perto, até a cidade de Quebrangulo, no patamar dos 500 metros, entre o Agreste e a Zona da Mata. Isso fez com que os cavaleiros reduzissem suas cavalgadas, porém, chegar a Maceió ainda era um grande sacrifício.

Posteriormente o trem chegou até a cidade de Palmeira dos Índios, perto da fronteira entre agreste e sertão. Houve ainda projeto para o cavalo de ferro chegar até Santana, mas nada disso aconteceu e o trem foi desviado rumo a Arapiraca e rio São Francisco.

Nessa fase, ainda dá para lembrar quando alguém da família levou-me até Palmeira dos Índios numa longa viagem de estrada de barro. Na Princesa do Agreste, dormimos para embarcar no trem antes de amanhecer o dia, andando pelas ruas escuras de Palmeira dos índios.

O progresso continuou e tivemos, então, a primeira rodovia asfaltada de Alagoas, década de 50, Palmeira-Maceió. Aliviava para o sertanejo que saía do sertão a Palmeira através de carro de aluguel ou “sopa”, apelido do ônibus, na época. Pensemos nas dificuldades, principalmente em tempo de inverno.

Somente quando o asfalto chegou a Santana do Ipanema, tudo mudou. Viagens com os mais diferentes transportes que duravam dias, passou a acontecer em apenas três horas.

Hoje procuramos o trem. O TREM DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS.

BULHÕES E O TEMPO

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de agosto de 2014

Crônica Nº 1.238 

Foto: Divulgação

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Vendo a figura de Silvio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, nas redes sociais, demos uma boa recuada no tempo. É que sempre tivemos a expectativa de que o professor do curso médio e funcionário público estadual escrevesse um livro sobre o seu pai adotivo. Achamos, porém, que Silvio não pensou no assunto quando na realidade tinha o “diabo louro” na cabeça.

Ficamos pensando, então, porque outras pessoas ilustres que viveram e conviveram com o pároco não o fizeram. No livro “O boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema”, todos os padres que serviram as duas Paróquias estão representados, entretanto, o significado do padre José Bulhões para Santana do Ipanema e sertão alagoano, ganha relevo na influência regional do catolicismo no semiárido.

O vigário, oriundo da região sanfranciscana de Belo Monte, Alagoas, nascera em 03 de junho de 1886. Ordenara-se na Catedral de Maceió, em 08 de dezembro de 1912 e, dois dias após, celebrava a sua primeira missa na capela do Senhor Jesus do Bonfim, no Bairro do Poço, na mesma Maceió.

Em 1917, Bulhões chegou a Santana do Ipanema como coadjuvante do padre Manoel Capitulino de Carvalho que também era político. Tomou posse como vigário da Paróquia de Senhora Santa Ana aos 26 dias de janeiro de 1919, contando com trinta e dois anos de idade, completos. Passou para a história conhecido como padre Bulhões e, seu período foi muito conturbado entre secas, cangaceirismo e movimentos volantes da polícia de Lucena Maranhão.

Bulhões se entendia muito bem com Lucena. A partir da morte do coronel comerciante, Manoel Rodrigues da Rocha, em 1920, assumiu papel preponderante da história municipal, tornando-se figura de destaque em parceria com José Lucena, até o seu falecimento acontecido em 17 de outubro de1952.

Muitos episódios em Santana e região envolvem o padre Bulhões que depois se tornou cônego. Foi ele o responsável pela segunda reforma da igreja Matriz da Padroeira, com o padre Fernandes Medeiros (pró-pároco) natural do Poço das Trincheiras, 1949-1951.

Bulhões participou de todos os eventos sociais de Santana, exercendo rigorosa liderança local.

Com o seu falecimento, o padre Fernandes Medeiros foi deslocado para Penedo, ganhando assim a Paróquia um novo vigário, vindo da serra da Mandioca, Palmeira dos Índios. Começa nova fase santanense com o padre Luiz Cirilo Silva, o mais popular dos vigários de Santana. É assim que o livro da nossa autoria: “O Boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema”, apresenta isso e muito mais em BULHÕES E O TEMPO.

ONDE O GUERREIRO MORA

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de agosto de 2014

Crônica Nº 1.237

Foto: Ascom Maceió

Foto: Ascom Maceió

A friezinha do mês de agosto não quer me deixar sair da cama. O quentinho do leito faz imaginar que lá fora está caindo gelo. Sertão de Alagoas. Chuva fina sem parar, noite e dia, comadre. O espanta-boiada corta os ares com o seu grito estridente, anunciador. Vai para as baixadas do relevo, às margens encharcadas do rio Ipanema. Uma força segura no lençol, outro impulso chama para o cafezinho quente, para a luz do dia. É o mês de agosto com suas caracterizadas chuvas constantes e frio de matar lavoura. Nem sei o porquê, vem à cabeça o guerreiro, peça folclórica genuína desse território. Lembro-me de uma empregada da casa de meu pai ─ figura de guerreiro – e reforço o pensamento da moçona Expedita:

O avião

Subiu

Se alevantou

No ar

Se peneirou

Pegou fogo

E levou fim…!

Os pingados maneiros sobre o teto, os garranchos da chuva fina, tangidos pelas lufadas do vento brando, trazem a voz também de espanta-boiada de Clemilda, a cantora, que tanto admiro:

Mestre Pedro

Eu saí de Penedo

Domingo bem cedo

Às seis horas…

Só agora

Estou recordando

Sou alagoano

Onde o guerreiro

Mora…

E diante da xícara fumegante, parece que chegam as explosões folclóricas como se dissessem: “Vamos dançar guerreiro, Clero”. Credo em cruz! Sabem até o meu apelido carinhoso, de família. Volta Expedita com o seu folguedo:

Toda mata tem espinho

Toda lagoa tem peixe

Toda velha tem “me deixe”

Toda moça tem carinho…

O mundo hoje está mais para crônica do que para cronista. Ô meu Deus, só mais um pouquinho na cama, Jesus.

É o canto da Clemilda:

Me lembrei

De Palmeira dos Índios

Pra lá vou seguindo

Agora…

Sou devoto

De Nossa Senhora

Sou alagoano

Onde o guerreiro

Mora…

Arre! Que frieza! Só tenho compromisso à noite. Ah é? Vamos dormir mais um pouquinho, eita quenturinha boa, a do lençol.

Sou alagoano

ONDE O GUERREIRO

MORA!…

JUAZEIRO

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de agosto de 2014

Crônica Nº 1236

Ilustração

Ilustração

Após a nossa série de quatro crônicas sobre o padre Cícero, tornou-se necessário apresentar um pouco da árvore chamada juazeiro.

O juazeiro é uma árvore típica do sertão nordestino, muito apreciada pelo sertanejo e que resiste a seca. Cantada e decantada por inúmeros cantores do Nordeste ─ inclusive Luiz Gonzaga ─ ela é uma planta de lugar quente, adaptada ao semiúmido e semiárido, mas também viceja em clima úmido.

O juazeiro é uma planta de regiões secas, mas gosta de lugares onde possa retirar água do subsolo, em baixadas e margens de riachos. Interessante é que encontramos essa árvore em todas as zonas ecológicas do Nordeste, inclusive no norte de Minas Gerais, apesar de ser espécie típica da caatinga.

Acredite se quiser, o juazeiro pode até crescer lentamente, mas pode passar com facilidade dos cem anos.

Interessante é que o juazeiro prima pelo isolamento, isto é, não gosta de formar capão de mato como outras espécies sertanejas bem conhecidas.

Apesar dos fazendeiros não apreciarem derrubar o juazeiro, mas sua madeira pode ser usada em diversas atividades rurais, por causa da sua durabilidade.

Além da sombra, refrigério dos rebanhos, seus frutos amarelos, pequenos e abaulados e, suas folhas, alimentam bovinos e gado miúdo. O juazeiro também pode ser abortivo para as vacas e causar problemas aos animais que ingerem seus frutos em grande quantidade.

Seus espinhos são longos, duríssimos e torneados, causando uma imensa dor grossa e duradora.

Sua madeira também é usada para cabo de ferramentas, caixões, portas, canzis, tarugo e mesmo lenha. As rapas da entrecasca servem de dentifrício e sua casca é bastante usada como tônico capilar e contra a oleosidade. A água do fruto amacia a pele, a casca é usada em dermatoses, a entrecasca, sabendo usar serve contra indigestão e blenorragia, além de tratamento contra tosse, úlcera e bronquite em xarope extraído das folhas. Essa árvore tão querida do sertanejo ainda possui outras propriedades medicinais usadas pelos populares.

E para não cansar o leitor com tantas informações desse símbolo do sertão, suas flores chegam com os meses mais secos, novembro e dezembro, fazendo com que as abelhas aproveitem bem suas floradas (quase única, nessa época) para o mel tão apreciado no mundo rude e civilizado. É assim O JUAZEIRO.

O FIM DA SEDIÇÃO

Padre Cícero (IV) Final da série de 4 crônicas

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de agosto de 2014

Crônica Nº 1.235

Foto: Divulgação

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 Em 9 de dezembro de 1913, os jagunços já haviam invadido o quartel da força pública e tomado as armas. Após esse acontecimento o “Círculo da Mãe de Deus” foi feito. As forças estaduais retornaram ao Crato e pediram reforço. Franco Rabelo enviou mais soldados e um canhão. O canhão falhou e a tropa foi derrotada.

Passaram-se alguns dias para a reação do governo central. Tropas da capital juntaram-se aos soldados do Crato. Sem conhecer o terreno e nem a disposição dos jagunços, os atacantes fracassaram. O reforço sofreu demora e o tempo não ajudou no segundo ataque realizado em 22 de janeiro. Outra humilhante derrota para os legalistas. Parte das tropas deixou a região. Enfurecidos, os defensores do Juazeiro partiram para invasão e saques de cidades da vizinhança, inclusive o Crato. Os saques, dirigidos para alimentos e armas, ficaram incontroláveis, pois, aproveitadores partiam também para o roubo de bens pessoais.

Foto: Divulgação

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Houve ainda outra investida legalista, cujo comandante chamava-se José da Penha e que acabou morto na refrega durante o mês de fevereiro, apontado como o último combate.

Foi importante a ida de Floro Bartolomeu ao Rio de Janeiro em busca de apoio como o de Pinheiro Machado.

A Marinha procurou realizar um bloqueio marítimo em Fortaleza com o avanço dos rebeldes em direção à capital. Cercado e sem ter como escapar, Franco Rabelo não passou do dia 14 de março, quando foi deposto. Foi nomeado interinamente Fernando Setembrino de Carvalho, pelo presidente Hermes da Fonseca e novas eleições foram convocadas. Já vimos o resultado com Benjamim Liberato Barroso eleito governador, padre Cícero eleito vice, de novo com o retorno da família Acciolly ao poder.

Em relação ao médico e articulador da luta armada, Floro Bartolomeu, foi eleito deputado estadual e depois federal.

A influência política do padre Cícero Romão Batista, continuou juntos aos coronéis e se estendeu até o final do período da História Brasileira chamada República Velha.

Nem os percalços da política ou da Igreja evitaram a fama adquirida pelo sacerdote do Juazeiro, considerado conselheiro, visionário, ecologista, taumaturgo e santo.

O padre Cícero Romão Batista, nascido em 24 de março de 1844, era filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana. Faleceu em 20 de julho de 1934. Após a sua morte aconteceu mais uma das suas inúmeras profecias: “Quando eu morrer é que Juazeiro vai crescer”.

Cícero foi eleito o cearense do século. O povo nordestino canoniza–o a seu modo: PADRE CÍCERO, O SANTO DO NORDESTE.

* Final da série de 4 crônicas sobre o padre Cícero.

A SEDIÇÃO DO JUAZEIRO

(Padre Cícero (II) série de 4 crônicas)

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de agosto de 2014

Crônica Nº 1.233

DEPUTADO FLORO BARTOLOMEU E PADRE CÍCERO

DEPUTADO FLORO BARTOLOMEU E PADRE CÍCERO

As desastradas fórmulas da chamada República Velha, fizeram com que acontecesse uma revolta no sertão cearense e que ficou na história como “A Sedição do Juazeiro”. Governava o país, Hermes da Fonseca, sobrinho do Marechal Deodoro, entre 1910 e 1914 quando nesse último ano a revolta foi gerada. Era a intervenção do governo central na política dos estados.

Querendo ampliar o mando da situação e impedir que opositores ocupassem cargos importantes como governador, Hermes criou a “política das salvações” para interferir nos estados contra seus opositores. O presidente apoiava as oligarquias estaduais em troca de apoio à Presidência.

No Ceará, Hermes da Fonseca procurava impedir o acesso das oligarquias de oposição ao governo do estado. O senador gaúcho José Gomes Pinheiro Machado liderava essas oligarquias. As medidas do presidente Hermes, causaram insatisfação nos políticos daquele estado.

Desde 1911 que havia uma disputa entre o padre Cícero e o presidente porque o padre queria manter a família Acioly no poder. Entretanto, em 1912, o presidente retirou os Acioly do comando. Nessa época o padre Cícero ocupava o cargo de prefeito do Juazeiro e de vice-governador do estado.

O interventor nomeado, Coronel Marcos Franco Rabelo, em 1914 começou a perseguir o padre Cícero. Destituiu o sacerdote dos dois cargos políticos e ordenou sua prisão. Os grupos oligárquicos revoltaram-se fazendo com que Floro Bartolomeu liderasse um batalhão formado por jagunços e romeiros em defesa do padre Cícero.

Franco Rabelo envia uma expedição para prender o padre Cícero. No Juazeiro do Norte, porém, havia sido construída uma trincheira em redor da cidade em apenas sete dias e que recebeu o nome pelo sacerdote de “Círculo da Mãe de Deus”. Houve vários combates, sempre com a vitória dos revoltosos. As tropas do governo retornaram à Fortaleza em busca de reforço. Floro Bartolomeu foi ao Rio de Janeiro em busca de apoio de Pinheiro Machado. Enquanto isso, os revoltosos partiram para Fortaleza e depuseram o governador Franco Rabelo.

O jeito que houve foi o presidente Hermes da Fonseca convocar novas eleições para o governo do Ceará. Ficou no cargo Benjamim Liberato Barroso e o padre Cícero retornou ao cargo de vice-governador do estado.

* Continua amanhã.

O SONHO DO PADRE CÍCERO

(Padre Cícero (I) série de 4 crônicas)

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de agosto de 2014

Crônica Nº 1.232

Juazeiro do Norte, antiga (Foto: Portal do Juazeiro)

Juazeiro do Norte, antiga (Foto: Portal do Juazeiro)

Após a sua ordenação, o novo padre permaneceu no Crato, aguardando o seu destino. Convidado para visitar um lugarejo chamado Juazeiro, pelo professor Simeão Correia de Macedo, o padre celebrou ali a missa do galo no Natal de 1871. Os habitantes dos ermos do Cariri ficaram impressionados com aquele jovem de 28 anos, olhos azuis, cabelos louros e voz melodiosa. A empatia também atingiu Cícero que, poucos meses depois, em 11 de abril de 1872, estava de volta com família e bagagem disposto a fixar residência no lugar.

Naquele lugarejo o padre, certa feita, fora descansar após um dia inteiro de confissões. O descanso fora num quarto contíguo à sala de aulas da escolinha onde improvisaram seu alojamento. Ao pegar no sono, Cícero teria tido uma visão que, depois, contada por ele, passou a fazer parte de vários livros a seu respeito. Viu Jesus Cristo e os doze apóstolos na mesma disposição da pintura “A Última Ceia” de Leonardo da Vinci. “De repente entra uma multidão carregando suas trouxas como os retirantes nordestinos. Cristo vira-se para aquele povo e fala sobre sua decepção com a humanidade, mas disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente ordenou: ─ E você, padre Cícero, tome conta deles!” Alguns livros falam que foi por essa razão que o padre resolvera fixar-se por ali.

O minúsculo arraial de casas de taipa tinha uma pequena capela erigida em honra a Nossa Senhora das Dores, padroeira do lugar, pelo primeiro capelão, padre Pedro Ribeiro de Carvalho. Cícero, com a cooperação geral, procurou melhorar o aspecto daquele templo.

O padre soube conquistar o povo com visitas, conselhos e pregações além de moralizar os costumes acabando com excesso de bebedeiras e com a prostituição.

Após essas iniciativas nunca vistas antes, muita gente vinha das redondezas para conhecer o novo capelão e ficavam morando por ali.

Cícero convocou, então, mulheres solteiras e viúvas e organizou uma irmandade leiga formada por beatas.

Ainda não havia acontecido o célebre milagre da hóstia.

O padre nascera em 24 de março de 1844 e se ordenara em 30 de novembro de 1870.

* Continua amanhã.

MIGRAÇÕES INTERNAS BRASILEIRAS

Clerisvaldo B. Chagas, 1º de agosto de 2014.

Crônica Nº 1.231

PADREFatores econômicos e sociais mobilizam pessoas dentro do território nacional. Esses fluxos migratórios já ocorreram em várias direções conforme as atividades produtivas, em fases brasileiras. Assim tivemos a fase econômica da cana-de-açúcar, no Nordeste; a expansão da pecuária no Sul; mineração em Minas gerais e no Centro-Oeste; o surto da borracha, na região Norte; a produção do café na região Sudeste, entre outras, ao longo da nossa história.

Em torno de 1930, a industrialização passou a atrair pessoas, destacando as migrações rural-urbanas, denominadas êxodo rural quando acontecia em grande volume e também as migrações de uma região para outra, como aconteceu com os nordestinos rumo ao Sudeste.

As migrações foram apresentando novas facetas, sempre acompanhadas pelos pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ─ IBGE.

Atualmente um novo quadro se apresenta com as migrações em massa rareando em direção a São Paulo e Rio de Janeiro. Os inúmeros problemas dos grandes centros urbanos e a descontração industrial, não atraem migrantes como em outras décadas.

O Nordeste, o maior emigrante de outrora, agora recebe imigrantes, muitos retornando de São Paulo em procura de oportunidades na região de origem. O Censo de 2010 mostra o Nordeste como a única região de saldo positivo em relação aos migrantes. Os estudiosos mostram que as regiões Sul, Centro-Oeste e Norte, permaneceram praticamente estáveis. Já o próprio Sudeste, antes grande centro receptor passa a ser a grande exportadora de gente, na primeira década do século XXI.

Entre os problemas do Sudeste, está o esgotamento do emprego, a carestia dos terrenos, a mobilização urbana, o racismo, entre outros, como o surpreendente problema atual da falta d’água na própria capital paulista e em vários centros importantes.

Muito ainda se tem para se falar sobre esse novo Nordeste que teve um crescimento econômico muito maior do que o restante do país. Será que a região poderá transformar-se em rica e poderosa como um todo? Só o futuro dirá. Pelo menos faço com toda a dedicação possível a minha parte… E a sua? ORGULHO EM SER NORDESTINO E SERTANEJO.

O CAVALO DO TEMPO

Clerisvaldo B. Chagas, 31de julho de 2014.

Crônica Nº 1.230

Pinturas rupestres na Serra da Capivara

Pinturas rupestres na Serra da Capivara

Vendo esse marzão de Maceió, aprendemos que milhares de anos atrás, o nível do mar era mais baixo. Isso fazia com que o litoral fosse muito mais extenso. Se as florestas eram pequenas, o ambiente de cerrado cobria grande porção do território. Com certeza viviam por aí macacos, antas, preguiças e tatus, guardados por um clima mais seco e mais frio. Os vestígios mais antigos encontrados onde hoje se chama Brasil, estão no estado do Piauí, no sítio arqueológico denominado Pedra Furada.

Restos de carvão, utilizados pelo homem em fogueiras, objetos de pedras e grande quantidade de pinturas rupestres, fazem os estudiosos pensarem em 40 mil anos atrás o povoamento da América. Mas não é somente o Piauí a testemunha dos fatos históricos. Ficaram famosos pelas suas descobertas também vários outros lugares do Brasil, como Lagoa Santa, por exemplo, em Minas Gerais, que rastreia a presença de seres humanos bem recuados no tempo. Objetos pontiagudos de ossos e pedras, machados, sepulturas com ossadas de adultos e crianças, são afirmações da presença humana e da competência dos pesquisadores.

Os fósseis nos revelam coisas incríveis como a estatura daqueles habitantes: nem altos nem fortes. Viviam da coleta de frutos silvestres, da caça e da pesca, porém, rodeados por tantos perigos que geralmente não chegavam aos 30 anos de idade.

Um sítio arqueológico, por pequeno que seja, pode revelar o inédito ou apenas complementar dados importantes de outros sítios, mas não deixa jamais de ser um achado significativo na história da humanidade.

Famoso mesmo no mundo inteiro é o Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, no Piauí, que abriga 737 sítios arqueológicos. Entretanto, as dificuldades para manutenção do parque são inúmeras, pois tudo falta para que ele não seja destruído pelas ações dos moradores da área, pela intempérie e por alguns tipos de animais.

A Arqueologia caminha ao lado da História em benefício dos habitantes da Terra. Montemos O CAVALO DO TEMPO.

* Pintura rupestre. Serra da Capivara.

O CANDIDATO E O ANUM-PRETO

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de julho de 2014.

Crônica Nº 1.229

Foto: Internet

Foto: Internet

Zé Neguinho era a ave humorista das capoeiras. Pássaro miúdo e negro gostava de vigiar o mundo no cabeçote das estacas. As balas roliças de barro seco zoavam sem parar, mas Zé Neguinho pulava, trilava, batia as asas como quem diz: “acerta o alvo cagão!” O bizaco de balas ia-se esvaziando e, às vezes, nem pedrinhas substitutas havia nas veredas.

Outro passarinho protegido, era o anum-preto. Medonho comedor de insetos derrubados pelos bovinos levava ─ sem merecer ─ a fama de devorador de carrapatos e por isso não era perseguido pelo homem. Entretanto, na raiva, pelo dia ser da caça, bem que o caçador procurava descontar a frustração em cima do Cuculiforme cuculídea das caatingas. Anum-preto não zombava como Zé Neguinho, mas parecia possuir uma rede protetora invisível. Meter-lhe bala de peteca ou chumbo de espingarda, somente matava de raiva o atirador. O bicho era tão difícil de ser atingido que o povo caboclo do sertão repetia o ditado: “Quem tem pólvora pouca não atira em anum”.

Estamos vivendo mais uma fase de campanha eleitoral. Como mandar é bom e gastar dinheiro alheio também, não faltam brigas de raposas pelas tocas idolatradas. Está cada vez mais difícil cordeiro jantar com carnívoro canídeo, isto é, entrar no seu a pulso como diz o povo.

Em Alagoas, concorre a genética, pois nada muda entre os aspirantes ao continuísmo.

O ex-candidato a governador Eduardo Tavares, ouviu muito bem o canto da sereia. O canto faz esquecer as condições do barco. Sem ser ainda bastante conhecido para um embate desse porte, o, então, candidato Tavares pelo menos mostrava ser bem intencionado em relação ao nosso território. Alagoas precisa com urgência de um nome novo com respaldo moral em garantia. Os donos da política, entretanto, não permitem que o alagoano sonhe com o novo. Quem sabe se o nome tão esperado pelos sofredores caetés, não seria o Tavares! Entrando pela porta errada e tendo que recuar, Eduardo deixa o povo a vê os mesmos dentes afiados de sempre. Que pena! O dito popular continua em voga: “QUEM TEM PÓLVORA POUCA NÃO ATIRA EM ANUM”.