AS DUAS FACES DE ALAGOAS

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de janeiro de 2015

Crônica nº 1.356

Foto: (impressãodigital.126.com.br)

Foto: (impressãodigital.126.com.br)

Com tantas notícias que nos envergonham lá fora e aqui, sobre o nosso estado, temos que ressaltar, quase como desabafo, o brilho de alvíssaras.

O anúncio concreto de instalação da 1º fábrica de equipamentos para energia solar do Brasil em Marechal Deodoro é motivo de comemoração sim. É preciso industrializar o estado diversificando seu parque fabril, escapar da monocultura canavieira e destacar-se no cenário brasileiro.

“As obras de construção da fábrica já foram iniciadas em uma área de 80 mil m² no Polo Industrial José Aprígio Vilela, em Marechal Deodoro. A fábrica vai gerar 100 empregos diretos. Após o início da produção e dos processos de instalação dos equipamentos, segundo o executivo da Pure Energy, Gelson Cerutti, a perspectiva é que até cinco mil empregos indiretos sejam gerados”.

Infelizmente nosso sertão vai contando nos dedos as fábricas instaladas em Murici, Maceió e Arapiraca e fica apenas conformado com galinhas e carneiros. Conformado porque não se vê um único movimento entre os prefeitos do semiárido que olham unicamente para o umbigo e o seus feudos calados como defuntos. Prefeito nenhum lança uma bandeira de industrializar o sertão, numa campanha séria e forte entre seus colegas e a bancada nula de deputados. Não trazem para seus respectivos municípios nem sequer uma fabriqueta de quebra-queixo. Se não são coronéis a quem só interessa o atraso, mas são filhotes da inércia, da acomodação, da vidinha corriqueira das bajulações, buchadas de bode e lapadas de aguardente nas chácaras dos compadres.

Sertão desgraçado, abandonado, acomodado, pessimamente dirigido, com o dedo indicador enroscado na reata da calça de cada gestor municipal. Sertão que ainda vive de esmola, onde a população é apenas massa, massa marroque, pão dormido de três dias, pisada e desprezada por lideranças dúbias, frágeis, enganosas, descompromissada com tudo que cheira a progresso, com raríssimas exceções.

As únicas indústrias que chegam ao sertão são as indústrias das drogas, da insegurança, dos crimes, da miséria, tudo gemendo debaixo da riqueza crescente dos espertos. A culpa não é dos governadores, mas dos próprios maus prefeitos que não gritam por sua gente, mas bocejam de tédio e roncam de destempero.

A sociedade civil organizada não reage e o legislativo só pensa em aumento de salário, mordomia e se exploda quem quiser.

Como pode apenas uma voz solitária como a nossa fazer alguma coisa? Onde estão os outros. Por certo em lugares alagadiços só com a cabeça de fora como cágado jabuti.

O URSO PRETO DE SANTANA

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de janeiro de 2015

Crônica Nº 1.355 

Foto: Ilustração

Foto: Ilustração

Os velhos carnavais de Santana do Ipanema têm seus registros mais antigos na década de vinte, através do escritor santanense Oscar Silva. Oscar comentava até com detalhes sobre alguns blocos masculinos e femininos e fala muito mais sobre o “Negras da Costa”, oriundo de Quebrangulo. O “Negras da Costa” daquela cidade Agrestina dançou várias vezes nos carnavais de Santana do Ipanema. Esta cidade, porém, inspirada na brincadeira de Quebrangulo fundou o seu bloco fazendo grande sucesso pelas ruas da cidade, tendo como brincantes, entre outros, os saudosos Zé Urbano e Filemon. Esse bloco formado de homens vestidos de branco, imitando baianas, roda e requebra pela cidade, numa cadência de causar inveja. Recentemente o bloco de “Negras da Costa” apresentou-se em Maceió, continuando com a mesma beleza impressionante dos carnavais da década de 20.

Entretanto, um dos blocos mais antigos e tradicionais de Santana é o do “Urso Preto” do malandro Zé Nogueira, Seu Caroula, Chico Paes e outros personagens que tornaram esse animal imorredouro nos tempos carnavalescos.

As histórias do bloco do urso e suas presepadas ainda hoje podem ser conhecidas nos bares e nas esquinas centrais da minha terra.

Estamos, porém, com mais de uma década de fracassos carnavalescos, muito embora haja muita propaganda. Os brincantes resolveram abandonar o torrão e partir para cidades como Pão de Açúcar e Piranhas, principalmente por causa do banho no rio São Francisco.

Existem, porém, os insistentes que teimam em brincar, independente de ajuda do poder municipal.

Esse ano, com a crise particular que aperta as goelas de Santana do Ipanema, nova machadada cai na cabeça dos foliões sem condições de nada.

E lá na Rua Delmiro Gouveia, no restaurante Zé de Pedro, um desses brincantes mais pobres, estava a se lamentar.

Foi ele mesmo quem disse que para tirar o prefeito da apatia, a solução era desenterrar uma cabeça de burro na entrada da cidade e sentar um urso preto, como totem nos degraus da prefeitura.

Alguém perguntou ao folião se isso resolvia.

Ele respondeu:

─ Se resolve mesmo, não sei, mas pelo menos é um fantasma a mais diante de quem tá dentro.

VELHO CEPA

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de janeiro de 2015

Crônica Nº 1.354

CEPA (Foto: Clerisvaldo)

CEPA (Foto: Clerisvaldo)

Quem diria! Deixando um colégio particular tão famoso de Maceió, mas em decadência, não suportei mais de um ano naquele lugar tão esquisito. Saí levando na bagagem apenas à frustração e a certeza de um ano perdido. As únicas coisas boas que transportava dali eram as aulas do professor Douglas Apratto e o bê-á-bá filosófico do padre Teófanes.

Resolvi arriscar o 2º Ano do Curso Médio em escola pública e parti para o Moreira e Silva, chamado na época de Cepinha. Um ginásio de esporte, uma velha piscina e o casarão à frente com o título da escola, eram tudo que havia naquele imenso espaço, praticamente vazio. Foi a melhor coisa que fiz. Peguei um ensino de qualidade, bons professores com frequência regular e em dose dupla por matéria: dois professores da língua portuguesa, dois de Biologia, Dois de Física, dois de Química e assim por diante.

Sertanejo enraizado olhava o terreno vazio, largo e comprido do CEAGB e mergulhava na melancolia da saudade.

CEPA (Foto: Clerisvaldo)

CEPA (Foto: Clerisvaldo)

E ali, à margem da Avenida Fernandes Lima, passava o tempo com uma lentidão enervante, aguardando o mês, o dia e a hora de rever os meus serrotes, minhas serras, meu Panema e o meu cheiro de caatinga.

Dois anos se passaram. Foi construída outra piscina, reformado o ginásio, novas construções foram surgindo naquele massapê… E eu fui deixando para trás aquele colega Marcos que era doido pelas músicas de Gonzaga, o Armando que tocava piano, os três inseparáveis riquinhos, a morena indiferente e caidíssima pelo professor de Biologia, dessa vez levando um mundo de coisas boas aprendidas no estado.

O Cepinha cresceu agigantou-se, tornou-se o maior complexo educacional da Terra dos Marechais e recebeu a denominação de CEPA (Centro Educacional Público de Alagoas). Atualmente ali funciona também a Secretaria de Educação.

CEPA (Foto: Clerisvaldo)

CEPA (Foto: Clerisvaldo)

E hoje, ao correr atrás de uma aposentadoria rosqueada, percorro o CEPA, sem mágoas, sem saudades, sem alegria e sem tristeza. Para mim, apenas um CEPA e nada mais.

CORONEL, PRUDÊNCIA E CASCAVÉIS

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de janeiro de 2015

Crônica Nº 1.352

Ilustração (Foto: Imagens Google)

Ilustração (Foto: Imagens Google)

Caderno e lápis à mão tínhamos que cumprir o dever. Como entrevistar pessoas na fazenda do famoso coronel do sertão? O que dizer à porteira da fazenda do homem que metia medo até em governadores? Aquele coronel se tivesse contabilidade, já deveria ter eliminado muito mais de quinhentas pessoas. Sua fama corria mundo. Os famosos fazendeiros do gatilho entravam em declínio nos anos 60, mas o dono absoluto do alto sertão ainda espalhava medo desde aos mais frágeis das cabanas aos mais pomposos do palácio.

Baseados na fé, no trabalho decente e numa conduta responsável, todavia, tínhamos que enfrentar a fera na própria toca. Não se deve sofrer muito por antecipação e a boa conduta abre todas às portas. Em primeiro lugar não podíamos demonstrar medo; segundo, não chamar o homem de coronel, ele detestava e, nós sabíamos dessa particularidade. E em terceiro lugar comportar-se normalmente como se estivéssemos diante de pessoas comuns.

Na entrada da fazenda, por tudo que se dizia, esperávamos encontrar, no mínimo três ou quatro capangas. Não havia um sequer. Nada também de correntes e cadeados. Avançamos rumo à casa-grande num extenso império de terras na caatinga.

A capangada armada até os dentes deveria estar no pátio da casa. Mas, como a porteira de entrada, nada de capanga na sede. Apenas dois belos cavalos brancos amarrados à sombra. O coronel de terno e chapéu branco, fazendo pose com charuto grosso, ficou apenas na literatura robusta e cangaceira.

Um empregado trajado humildemente nos recebeu e logo saiu o coronel do interior da casa, parecendo tão humilde quanto o morador. Foi à terceira surpresa. Cumprimento de praxe, dissemos que estávamos fazendo o Censo demográfico. O homem, sem nenhuma pergunta falou que poderíamos ir para o lugar indicado, algumas casas juntas que ficavam a cerca de 2 km da sede. O coronel falou apenas que era longe e, disse ao morador que selasse os dois cavalos. Fomos e voltamos, eu e o companheiro, em animais que pareciam dois automóveis. Fizemos o nosso trabalho, agradecemos pelas cortesias e deixamos à fazenda da mesma maneira que entramos.

Como foi dito, não havia terno branco, não havia capangas, não havia arrogância. Mas quem quiser esqueça a verdade e brinque com cascáveis criadas nos lajeiros!

A FÉ QUE NÃO SE QUEBRA

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de janeiro de 2015

Crônica Nº 1.351 

PRAÇA E IGREJA PADRE CÍCERO, EM MARIBONDO. Foto: (Clerisvaldo)

PRAÇA E IGREJA PADRE CÍCERO, EM MARIBONDO. Foto: (Clerisvaldo)

Felizmente nessa conturbação mundial onde se grita tanto por Justiça, a fé permanece crescente nos corações de homens e mulheres. Não a fé maculada pelo fanatismo que distorce, renasce e continua infeliz. Mas a fé tranquila, cabocla e serena dos humildes que removem montanhas diante dos incrédulos.

Os templos, grandes e pequenos, erguidos nas montanhas, nos rochedos, no barro, puxam, mostram, clareiam uma jornada de vida bombardeada cotidianamente pelos percalços que atormentam o ser humano. O maior dele, o maior de todos, o mais esplendoroso de todos, é aquele erguido no cantinho mais puro do coração, livre das maldades, dos engodos, das tormentas que afligem os mortais.

Quanto prestígio tem o santo escolhido, apontado, testado nas adversidades…

E nas batalhas, particularmente nordestinas, lá vai à multidão atrás do santo do povo, o santo que entende a linguagem da região, que comanda e aplica o milagre no coração limpo cujo grito de socorro ecoa rápido pelos emaranhados do universo. Olhar as estrelas é fugir do meteorismo tresloucado das notícias que corroem a frágil estrutura dos que não têm raízes.

E a fé da noite vai fazendo a limpeza do dia, afastando os males pegajosos como faz a “vassourinha” (planta) da rezadeira, no cair da tarde. As bênçãos ainda se multiplicam nos que as procuram na humildade, no fervor divino, na crença juvenil.

Cavando masmorras aos vícios, erguendo templos à virtude, não importam os arredores minados de garras gigantescas. A fé é verde sempre, mesmo nos rigores dos verões mais tormentosos, resistente às enfermidades físicas e morais jamais desistentes dos cercos periódicos.

E entre tantos e tantos intermediários dos céus, vamos apontando templos que representam presentes aos que nos ajudam na terra. São diferente nomes do catolicismo no regional nordestino que nos elevam e nos faz viver.

Viver sem fé é desintegrar-se na primeira tempestade.

Viver com a fé é apenas envergar-se sem quebrar durante os vendavais, assim como os galhos mais finos do salgueiro.

INSTITUTO HISTÓRICO RECEBE ESCRITOR

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de janeiro de 2015.

Crônica Nº 1350 

CLERISVALDO NO INSTITUTO. Foto: (Clerise Chagas)

CLERISVALDO NO INSTITUTO. Foto: (Clerise Chagas)

Terça-feira passada, estivemos em visita de cortesia ao Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, em Maceió. Algumas pesquisas feitas naquele respeitável casarão voltaram muitas vezes multiplicadas em forma de livros que servirão para outros pesquisadores de Alagoas e do Brasil.

Mesmo com o presidente do Instituto, ausente, ofertamos três livros que por certo serão apreciados e colocados à disposição dos seus visitantes. Autografados ficaram: Lampião em Alagoas (Clerisvaldo B. Chagas e Marcello Fausto); Negros em Santana (Clerisvaldo B. Chagas, Marcello Fausto e Pedro Pacífico V. Neto); e Ipanema, um rio macho (Clerisvaldo B. Chagas). 

MACEIÓ, RUA DO COMÉRCIO. Foto: (Clerisvaldo)

MACEIÓ, RUA DO COMÉRCIO. Foto: (Clerisvaldo)

Na fase de pesquisa para o Livro Lampião em Alagoas, colhemos duas fotos históricas nesse luxuoso museu alagoano, de personagens importantíssimas no combate ao cangaço lampiônico. Completamente inéditas para a história cangaceira (que apena cita nome, sem imagens), apresentamos em Lampião em Alagoas as fotos do governador Costa Rego (o mais famoso) e a de Osman Loureiro, em cuja administração aconteceu a hecatombe de Angicos.

Aproveitando a recepção em nossa visita, colhemos outra foto de outro personagem que teve intervenção marcante nas mortes dos onze cangaceiros abatidos em Angicos, inclusive Lampião e Maria Bonita. Seremos também, o primeiro a apresentar a imagem dessa pessoa que todo livro de cangaço fala, mas não apresenta foto. Esse retrato virá no livro Maria Bonita a Deusa das Caatingas, completamente pronto, faltando apenas imprimir e publicar. Junto a essa foto, mais duas também inéditas do mesmo assunto e da capital Maceió.

Muitas pessoas, porém, não sabem que o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, funciona como museu de alto nível, talvez, por falta de divulgação.

Menino, é um luxo, uma organização, um zelo, um brilho!…

Vale apenas conhecer.

SANTA SOFIA E AGRIPA: AS PALESTRA DA NOITES

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de setembro de 2014.

Crônica Nº 1.263 

Cem alunos lotaram o pátio da Escola (Foto: Agripa/Assessoria)

Cem alunos lotaram o pátio da Escola (Foto: Agripa/Assessoria)

Novamente os Guardiões do Rio Ipanema ficaram honrados com mais um convite oficial da cidade. Trata-se da Escola Municipal de Educação Básica Santa Sofia, parte alta do Bairro Camoxinga. Fundada em 12 de junho de 1995, para atender a grande demanda estudantil da região, a escola tem fama de eficiência e dinamismo dos que fazem a unidade.

Fala o diretor Manoel (Foto: Agripa)

Fala o diretor Manoel (Foto: Agripa)

Trabalhando com o projeto Lagoa Viva e esbanjando compromisso com a Natureza, a Escola Santa Sofia recebeu representantes da Associação Guardiões do Rio Ipanema ─ AGRIPA e o diretor municipal do meio ambiente, Manoel Messias F. dos Santos, para duas palestras consecutivas sobre a organização da AGRIPA e sobre resíduos sólidos, por parte da Secretaria de Agricultura.

Diante de uma plateia de cerca de cem alunos lotando o pequeno pátio escolar, procuravam dar os últimos retoques, a coordenadora pedagógica Evaneide Ricardo Medeiros Alécio, as diretoras Gilcélia Gomes e Evaneide Camilo e várias professoras.

Simpatia refletida da Escola (Foto: Agripa/Assessoria)

Simpatia refletida da Escola (Foto: Agripa/Assessoria)

A palestra teve início com belas palavras de recepção por parte da coordenadora pedagógica, Evaneide Medeiros. Em seguida, o guardião Cícero Ferreira, o Ferreirinha que também é cantor e compositor, abriu a jornada com uma belíssima página musical em forma de seresta. O guardião Clerisvaldo Braga das Chagas apresentou a equipe, agradeceu a recepção e indicou o guardião Ariselmo para ministrar a palestra. Prosseguindo, o guardião, professor e escritor Clerisvaldo, distribuiu gratuitamente livros para a plateia, “Conhecimento Gerais de Santana do Ipanema”, da sua autoria.

Manoel Messias, diretor do meio ambiente, também usando o recurso de slides, ministrou sua palestra sobre resíduos sólidos. Por coincidência Manoel Messias também é guardião (atual orador da AGRIPA) além de compositor e cantor plenamente conhecido em Alagoas como “MM o Imperador do Forró”. 

Encerramento chave de ouro (Foto: Agripa/Assessoria)

Encerramento chave de ouro (Foto: Agripa/Assessoria)

A palestra foi encerrada, como a AGRIPA costuma fazer, isto é, com um espetáculo à parte com os dois cantores animando o evento, fazendo a plateia cantar e acompanhar com palmas o ritmo dos artistas alagoanos.

Registramos a presença de alunas da UNEAL que prestigiaram as palestras e se engajaram na recepção impecável e carinhosa de todos os que fazem a Escola Santa Sofia, notadamente a anfitriã Evaneide Medeiros.

ROUBANDO NOSSAS XIMBRAS

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de setembro de 2014

Crônica Nº 1.262

ÍXIMBRASantana do Ipanema toda jogava ximbra. Moda interessante que dominava as ruas sem calçamento, fazia a meninada divertir-se a valer. Praticava-se ainda o pinhão e a bola nas mesmas ruas da cidade.

O bom pinhão era feito de goiabeira pelos artesãos da periferia mesmo. Depois começou a aparecer belos pinhões torneados a que chamávamos “pinhão de praça”. Eram vendidos na “Casa Imperial” de Seu Piduca, no Comércio. Mais tarde essa mesma casa implantava a moda de belos ioiôs coloridos. Vendia ximbras também, a princípio, lisas em variadas cores; depois coloridas e cada vez mais aperfeiçoadas e atraentes, incentivando jogo e coleção. Nunca chamávamos a ximbra de bola de gude. Seu Marinho Rodrigues, pai do primeiro médico santanense Clodolfo Rodrigues, era um grande vendedor de ximbras em seu armazém de secos e molhados no antigo “prédio do meio da rua”. Ficávamos admirados diante do grande frasco transparente cheio de bolinhas multicores, de vidro. Seu Marinho, homem muito alto e forte, metia a manzorra na boca do recipiente e com satisfação imensa nos passava a mercadoria tão cobiçada.

XIMBRA iiEm toda a extensão da Rua Antônio Tavares (antes Cleto Campelo) a sair no final do Bairro São Pedro, inúmeros grupos de meninos eram encontrados jogando “Papão”, brincadeira de ximbra que nos fazia cavar três pequenos buracos arredondados necessários ao mister. Parecia um imenso festival. Nossos odiados predadores era o senhor Aloísio Firmo (juiz de menor) acompanhado do soldado Genésio. Essas odientas criaturas faziam os meninos correrem para casa com o perigo iminente de tomadas de ximbras. Às vezes Aloísio aparecia montado numa burra e, o soldado, que morava próximo a minha casa, o acompanhava a pé. Era a dupla terror da criançada.

Quando medito sobre os péssimos governos que tivemos em Alagoas e em nossa querida Santana do Ipanema, concluo que apenas trocamos a idade. Deparamo-nos com outros Aloísios e outros Genésios, aterrorizando nossas purezas, matando nossa felicidade e roubando as nossas ximbras.

* Fotos: blog nananenem e retratonordeste.blog.

ALAGOAS NO SEU DIA

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de setembro de 2014.

Crônica Nº 1.261

D. JOÃO VI AJUDOU NA EMANCIPAÇÃO

D. JOÃO VI AJUDOU NA EMANCIPAÇÃO

Hoje Alagoas comemora o dia da sua Emancipação Política; fato que mereceu páginas e páginas de luta, trabalho, sofrimento e heroísmo pelos seus habitantes do litoral ao sertão.

Mesmo antes da sua data magna esse estado já apresentava indícios de prosperidade e desenvolvimento em algumas áreas, inclusive na economia e na cultura.

A principal cultura alagoana sempre foi a cana-de-açúcar que exportava para a Europa e sustentava mão de obra escrava em seu território. Outros produtos também eram exportados com força menor do que o seu principal, mas marcava também seus movimentos nos pequenos portos. Fumo, milho, mandioca, couros e peles complementavam sua atividade exportadora. O pau-brasil seguia esse ritmo de envio para longe o que aqui era produzido pelo homem e pela natureza. A Mata Atlântica sentia o alucinante ritmo dos machados na sua madeira nobre para os tablados dos navios.

Sermões, poesias e folclore eram praticados, escritos e publicados, principalmente na atual cidade de Marechal Deodoro e Penedo, por conta dos padres franciscanos.

Os movimentos acima se aproximaram e conseguiram criar a comarca de Alagoas em 9 de outubro de 1710. Esse ato régio, porém, só seria cumprido de fato em 1711 quando da sua instalação.

A prosperidade de Alagoas foi reconhecida pelo governador de Pernambuco, em 1730, em seus escritos ao el-rei. Alagoas contava com dez freguesias e quase cinquenta engenhos, coisas que rendiam bem para a situação da coroa portuguesa.

Em 1770 foi incrementada a cultura do algodão e, Alagoas também passou a fabricar tecidos com esse produto. Penedo e Porto Calvo fabricavam panos que serviriam para os escravos da terra.

Na parte cultural, tivemos a primeira obra publicada de um alagoano. Tratava-se de um livro de poesia e sermões que em 1754 foi lançada em Lisboa pelo Frei João de Santa Ângela.

Em 1816, a população de Alagoas estava registrada em 89.589 pessoas.

Após a Insurreição Pernambucana, Alagoas libertou-se de Pernambuco em 16 de setembro de 1817.

OS CORREIOS EM SANTANA DO IPANEMA

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de setembro de 2014

Crônica Nº 1.260

Foto: Clerisvaldo

Foto: Clerisvaldo

Prestando relevantes serviços ao município de Santana do Ipanema, os Correios, tudo indica, foram à primeira repartição federal a impor argumento que a vila necessitava. A cadeia e a igreja faziam com que uma vila merecesse atenção das autoridades e seus habitantes sonhassem com o progresso. Assim, Santana do Ipanema, que possuía sua capela desde 1787 e depois sua cadeia na Rua do Sebo ─ tempos depois chamada Cadeia Velha ─ complementou o seu trio com a repartição Correios, instalada em 1869.

Os seus serviços vêm, portanto, dos tempos de uma época difícil, em grande parte pelo atraso dos transportes e estradas.

Foi de uma importância ímpar a instalação do telégrafo por essas bandas, principalmente quando usado no combate ao banditismo entre 1920 e 1940. Esse meio de comunicação passou a ser um grande aliado das forças volantes que peregrinavam nos sertões perseguindo cangaceiros, notadamente, o bando de Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião.

Na trama em que foram criados os seis telegramas mais famosos do Brasil, os Correios ajudavam definitivamente, ao governo a extirpar o mal que assolava a região. Em 1938, os seis telegramas deixaram a pequena cidade de Piranhas e ganharam o mundo.

Foi, entretanto, na gestão municipal do prefeito Firmino Falcão Filho, que os Correios ganharam um terreno medindo 40 metros de frente e 30 de fundos, situado entre a casa de Leopoldo Fernando de Oliveira e a garagem de Antônio Augusto Barros, no Bairro Monumento. Então o governo federal construiu um prédio moderno que passou a servir o município e foi inaugurado como Agência Telegráfica em 17 de setembro de 1947. Depois de amanhã, portanto, os Correios estarão completando 67 anos da sua instalação nesse terreno, conforme o Decreto nº 35 de 17 de setembro de 1947.

Sempre procurando aperfeiçoar os serviços prestados, os CORREIOS completam esse ano, seus bem vividos 145 anos no município. Parabéns a todos os que fazem essa repartição.