Blog do Fábio Campos: SEM ANA ( Para sempre…)

14 out 2014 - 18:00


Terça-feira

Havia uma menina, tinha os olhos grandes. Olhos que vasculhavam o mundo como quem precisava urgentemente descobrir coisas. Conhecer pessoas, de certa forma interessante. Sem essa de medir olhar. Isso pra ela, era como emprestar pro mundo palmo e meio de atenção. E não eram os outros, (fosse quem fosse) o que de mais importante existia na face da terra. Academia só a partir das terças-feiras. As coisas que precisavam deixar de serem feitas eram as que mais lhes interessavam. E ficava assim, a ouvir música, enquanto olhava, e roia as unhas.

Quarta-feira 

Ana teve um sonho. Sonhou que estava num lugar onde as pessoas tinham os rostos voltados pra trás. E ela só conseguia ver-lhes a nuca. Quem havia roubado os rostos das pessoas? Nesse sonho sua mãe morria (provavelmente às três horas da tarde) num dia de quarta-feira. Por isso não tinha limões na geladeira, que eram comprados na tolda de Seu Alípio, bem próximo ao Mercado de Carne. Desse modo não podia fazer limonada. Mesmo morta sua mãe lhe sorria. O mais incrível disso tudo é que ela mesma não via nada de anormal em nada daquilo. A mãe mortinha da silva e ela nem aí, nem se quer chorava! O caixão teria sido colocado no cais do porto, por quatro homens de terno preto e cartola, que ficavam parados por alguns instantes, mas logo iam embora. Um barco com marinheiros viria buscá-la. Num dia de chuva, mas só chovia no cais, lá no horizonte havia sol. Os homens do mar tinham boinas na cabeça, camisas brancas com listras pretas. Eram galegos fortes, de braços hercúleos e longas costeletas. Sorriam e acenavam pra Ana, enquanto se iam com sua mãe.

Quinta-feira

Ana ficou com Carlos Antonio. Eles sequer namoravam. Eram apenas bons amigos, e vizinhos. A casa onde moravam ficava afastada do povoado. Ao voltarem da escola já era noite, desceram do ônibus (nenhum irmão de Ana teria ido à escola naquela noite) tinham que andar ainda um quinhentos metros até chegarem as suas casas. Ao passar próximo ao campinho, sem saber por que pararam. Ficaram um de frente pro outro, daí começaram a se beijar. E despiram-se, e fizeram amor com frenesi. Ana passou a quinta-feira toda dormindo. Uma da tarde, e continuava deitada, trancada no quarto, tentando entender porque fizera aquilo. Arrependida? Talvez, porem não dava o braço a torcer. Vá lá entender, quem sabe fez só pra se mostrar pra amigas. Ou a dizer pra si mesma que não era careta. Quantas vezes na roda de conversas, ela mesma vira as amigas ralhar outras meninas, só porque sabiam que eram virgens. Tantos mitos criados, tantos tabus caíram por terra. E as coisas que nunca tivera com quem tirar dúvidas se dissiparam. Delas que dizia que na primeira vez doía muito. Que a mãe iria descobrir, e que pra isso bastava olhar fixamente nos olhos, ou descobriria simplesmente ao vê-la andar.

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