Blog do Fábio Campos: os pés de Julieta

11 jun 2014 - 07:51


A história de que mentira tem pernas curtas, quem somos nós pra refutar tal adágio. Podemos sim arvorar-nos na premissa, que a dita cuja talvez tenha sim, quanto ao mentiroso, nem sempre. Consideremos a existência de variado tipo de mentiroso. Existindo inclusive aquele que não convence nem a si próprio. Caso engendre-se nossa história de fantasiosas lucubrações. Deixaremos a cargo de quem lê-nos os auspícios das próprias conclusões.

O matuto verdadeiro. O homem do sertão com suas particularidades. Em essência é aquele que vive matutando. Se entre um colóquio e outro dá de falar de alguém que já passou dessa pra melhor, costuma dizer “-Que Deus tape as “oiças” lá onde ela estiver, pra não ouvir o que hei de dizer a seu respeito!” Julieta tinha nela dois defeitos. Pernas curtas e tortas, por conta de uma poliomielite, e mentia que era uma beleza. Num tempo que a gente haveria de chamar tempos idos. A ilustre figura, juntamente com sua família, fora vizinha de minha vó materna. Julieta era assim, cabocla, criada com leite de cabra. Nascida nas brenhas do sertão de Belém do Cabrobó. Trazendo no sangue linhagem Iatê-Tapuio. Da calada da noite tirou a cor dos cabelos, da casca do angico tirou a morenês da pele. Apesar do nome de personagem do clássico literário inglês uma Tiêta agrestina. Aliás, depois de saída da infância, assim que se entendeu de gente, Julieta dedicou-se com ferocidade de animal predador, a caçar o seu Romeu. Arremedo de pavão, bonita somente dos pés pra cima, ao atingir maturidade, buscou com sagacidade um homem pra chamar de companheiro. Desde a infância tornou-se amiga dos familiares de minha vó. Vizinho naquele tempo era adjetivado de “parede e meia”. Os matutos do mato, aos poucos iam se chegando a urbanidade. Atraídos pela concentração de luzes dos quixós, quando a copa da noite dava a cobrir o vilarejo. E as casinhas de taipa iam sendo construídas umas encostadas nas outras, pareciam meninos buchudos quando iam pra feira. Tímidas se espremiam na barra da saia da cidade.

Confira a crônica completa no Blog do Fábio Campos

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