Blog do Fábio Campos: O sinal e a Santa Cruz (3ª parte)

17 set 2014 - 07:24


Enéas perdeu o emprego. Ficou somente alguns dias mais. Não suportando Seu Domício desabafou: “-Ô homem desligado da vida, meu Deus.” Tudo que se mandava fazer. Quando fazia, ou fazia pela metade, ou não fazia. E a resposta era sempre: “-Eu me esqueci…” Maura esperta, ofereceu-se e acabou ganhando a vaga do primo. Ativa, dedicada. Interessava-lhe aprender as coisas. O mundo vivia disso, de desenhar, moldar, modelar pessoas.

A rua brincava de azul, de um céu do mesmo tom de antes de ontem. Sonolentas, se aquecendo ao sol as casas iam se acordando. Pouco a pouco se dissipando o frio orvalho da madrugada. Enquanto os atores do dia a dia, como se saindo da condição de imagens congeladas, pra situação de filme, como de cinema mudo. Passando cada um, pra seus velhos afazeres. Se encontrando sempre, com os mesmos. Seu Ermínio já abrira a farmácia, Cazuzinha seu assistente, vestido numa bata branca, varria a calçada. Solícito a cumprimentar dona Ismênia que passava com as filhas Isabela e Isadora. As meninas iam pra casa de dona Carmem, pra aulas de flauta doce e canto. As atenções todas convergiam pra um ponto da cidade, o comércio. Donde emanavam todas as ações e reações. A torre da igreja um lápis de cor laranja gigante desenhando um sol amarelo gelado. Os meninos no passeio, tão carentes de cores. Feito homens feitos, como que esquecidos de serem meninos. Zezé e Tião com um carro de mão, de porta em porta, a vender macaxeira. As sextas-feiras além do tubérculo, peixe. O caminhãozinho de pau, o pião, a pipa, enquanto isso dormia dentro do baú, na gaveta da cômoda, embaixo da cama, sem pressa aguardariam o chegar da tarde pra irem à forra. Zé de Paulo morava no Pedrão, fazia rosário de coco de Ouricuri pra vender no meio da feira. Meio dia quando a fome apertasse, tiraria um tostão do bolso, ia a tolda de Seu Antonio da Garapa comprar pão e suco de anilina. As estripulias do Mateu, a fazer com que sorrisse um sorriso azul de pão doce. Rosa de Zefinha fazia cocada e tapioca, vendia na porta de casa. O pano branquinho de dar gosto bordado com duas flores vermelhas cobria a boca do pote. Donde repousava um copo de estanho verde.

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