Blog do Fábio Campos: O míssil Fashall (5ª parte da saga)

14 jul 2015 - 11:00


Ilustração: Fábio Campos

Ilustração: Fábio Campos

Tudo o que Deus pôs no mundo estava bem ali na frente. O entardecer vinha, com a sua mania de arremedar o dia primordial. Um céu meio trevas, meio luz. O lado obscuro, borrado de farinha de estrela. O lado coral de tangerina, sangrado de dor mortalmente ferido morria, não sem incendiar a parte finita do infinito. O almofadado azul cândido de ruge e chamas não tinha mais nada pra dizer, além do que já havia dito. A estrada, as fachadas das casas magnificamente se amando, e se odiando na mesma proporção e intensidade.Tudo costurado de angústias, delírios, calafrios e neon. O menino que ia caminhando pela calçada da praça da vila parecia visivelmente perturbado. Talvez não acreditasse que ao fim do dia pudesse recuperar a paz interior. A grande estrela inflamada, como uma imensa lágrima incandescente, calma e lentamente ia caindo. Pra detrás da montanha de esconder esperanças, frustações e o rabo dos dias. Tudo havia sido terrivelmente rápido, incrivelmente aterrador. E era tudo tão sobrenatural. Estava-se, pelo menos, a uns três trilhões de anos-luz distante do que se podia considerar real.

TagorFashall, mil vezes por segundo, rememorava o que acabara de suceder. A cada vez que lembrava um novo detalhe se destacava. O por do sol, as crianças brincando no parque, nada daquilo cabia na sua cabeça. No momento sua mente totalmente se ocupava com o que acabara de suceder na casa de Dário. Aquele gato enorme, agigantado diante de si, ainda mais ao pegá-lo em flagrante. Seus imensos olhos acusadores lhe encarando, teve que agir, e agiu. Com a astúcia de uma cobra, cuidadosamente colocou o medalhão no chão. E como um lince partiu no encalço do felino que acabara de se tornar seu alvo e sua presa. O ódio, só ele é capaz de dotar um animal ameaçado, de qualquer espécie, de poderes estupendos. E aquele menino teve agilidade, astúcia e força nunca antes experimentada, pra alcançarnum salto descomunal o pobre e indefeso bichano. Assim que o teve entre as mãos torceu-lhe o pescoço. O estalo de vértebras se rompendo daria ainda pra se ouvir um pequeno grunhido e só, estava morto. Teve ainda sangue frio suficiente para pendurá-lo pela coleira, num galho dum pé de manga próximo ao muro que havia no fundo do quintal. Para dar ideia de que o infeliz tivesse acidentalmente se enforcado.

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