Blog do Fábio Campos: O barão e o disco voador

27 abr 2014 - 05:01


Naquela segunda-feira à tarde, resolvi ir à casa do visconde de Sinimbu. Sentia quão era bom, e como, fazia-me bem estar lá. Não exatamente pela companhia do Lorde. O que me fazia tanto bem era tão somente estar naquele lugar. A cada vez que ia mais e mais consolidava o que eu sentia.

Não me ocorria, ter estado lá alguma vez, pela manhã. Porém era muito provável, que algum dia, tenha ido, ao alvorecer. Muito embora a obrigação, o dever a cumprir, acabaria negando a oportunidade de contemplar a paisagem. De dar-me o direito de perder tempo admirando as coisas corriqueiras que se desfilavam a cada momento a minha frente. De modo que a manhã, jamais causaria a impressão que o vespertino imprimira. Como se nos fosse negado o prazer de gastar o horário da manhã com o descompromissado compromisso duma visita. Como se as primeiras horas cobrassem dos seres domésticos, preocupação com as coisas a serem feitas. Tinha o período matutino, essa capacidade incrível de furtivamente furtar a atenção pros afazeres. Em especial, no miolo da semana, os denominados dias brancos. Não permitia a um senhor de engenho tamanho desperdício, de contemplar a beleza dum amanhecer. Sendo dele próprio cobrado, inexorável acompanhamento dos trabalhos. Às ordens a serem dadas aos feitores que acompanhavam os escravos que iam pro desfrute dos coqueirais, era de muito mais importância. Ouvir dos capatazes que supervisionavam os trabalhadores no plantio de cana-de-açúcar que tantos negros haviam fugido. E de outros tantos safos dos trabalhos na olaria. E saber sobre quantos teriam morrido de maleita porque passavam dias a fio dentro da lama. As cantigas cantadas nas matinas vindas da senzala, carregadas de sortilégios de entidades da mãe África. Era o modo de despedir-se do preto velho, morto a mais de uma semana. Os negros andavam cheios de angústias. Arredios com seus mandantes. E a noite o baticum dos tambores ecoava na mata num choro, lamento.

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