O dia nem bem havia nascido. Mas de certeza em trabalho de parto estava. Vinha vindo, vinha vindo. As entranhas da terra parindo, dando à luz, magnífico ser, sol nascente. A neblina láctea a derramar-se dos seios da montanha amamentado. Dos arroios das quebradas do sertão se nutrindo. Pelo sal da terra batizado. Sob as grinaldas, risonho e límpido, véu de orvalho, suspenso nas teias de aranha. Sertão impávido colosso somente dele (e nele) nasce o dia realmente.
“Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor”
O que vamos contar vem dum tempo lá de trás. De um daqueles anos que rabiaram a década de trinta Ano entrançado de sucedências ruins, uma atrás da outra. Por essa época perambulava em riba do couro do mundo um preto chamado negro Lino do Pedrão. O negro era assim um amontoado de músculo, encima duma cabeça que de tão feia só podia ter sido moldada pelas mãos do ‘Coisa ruim’. Brabo que não precisava muita coisa pra criar uma arenga. Nas rodas de conversa diziam que o nome Lino vinha de Virgulino. E o peste gostava de ser comparado a Lampião. Seu verdadeiro nome era Rosalino, que odiava e, preferia que chamassem de Nêgo Lino mesmo. Vem desse tempo o costume de se ajuntar o nome das pessoas ao nome do lugar donde vinha. Pedrão era um arruado fincado entre o Sítio Capim e o Gameleiro. Muito comum também agregar ao nome, o nome dos familiares de mais recurso, pra se ter algum reconhecimento, algum valor. Por exemplo, dona Adélia de Seu Canuto, Leônidas, neto de Seu João Lola, Mara Célia irmã da professora Dália. Dona Amália de Seu Doroteu, pais de Domingos, Mara Célia e Dália. E tinha Zé Costa, Enéas, Seu Esaú, e alguns outros mais, estão por aí porque gostam de prosear boa prosa, mas nem garanto que vão entrar na história. Um dia, no meio da feira um repentista vendedor de livreto de cordel tirou uma treta com o negro. Dele tirou estes versos:
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