Blog do Fábio Campos – Destinos em casas decimais

10 jan 2014 - 07:41


Negro Benedito depois de velho, já encabeçando os sessenta, botou na cabeça que era vidente. E se inventou de atender o povo, fazendo consultas sobre passado, presente e futuro. Essa história que vou contar aconteceu já faz certo tempo. Como tudo começou, não sei direito, por isso vou contar de onde, e até onde sei. Foi mais ou menos assim, primeiro conheci Damião, filho do velho Benedito. Damião não passava de um menino como eu. Nós nos tornamos amigo, vez outra ia ele a minha casa, e eis que um dia coloquei os pés dentro da casa dele. Senti um calafrio. Ali descobriria a história da vidência de seu pai.

Seu Benedito, era assim, parecia um preto velho desses que só se encontra originalmente na Bahia, no pelourinho ou na Baixa do Sapateiro. Se ao contrário fossemos nós o adivinho, diria que Seu Benedito teria vindo duma comunidade quilombola, nascido numa família prolífera, e que teria terminado de ser criado por um rico fazendeiro. Muito sofrera depois que a mãe morrera, e para sobreviver teve que ser engraxate, vender picolé, fazer frete de carro de mão, teria cuidado de animais na intendência, no vigor da idade fora estivador, conseguira um aposentadoria e agora estava ali, na minha frente. Devidamente trajado de branco, trazia uma quantidade razoável de colares cheio de contas coloridas, no pescoço, e outra dezena de amuletos e patuás, deles que descia até sobre sua imensa pança negra cujos botões da blusa branca de mangas compridas, punha à mostra. Uma barba branca, combinando com a carapinha, escondida em baixo de um chapéu de massa branco. Na beiçola um charuto, ora aceso, ora apagado, porém sempre fedorento. Os olhos do negro, estes mereciam uma descrição especial, primeiro porque eram enormemente incomuns. Além do que eram incomumente avermelhados. Projetavam-se para fora do globo ocular, como se a qualquer momento fossem pular fora da caixa. E se saltassem por certo me atingiria, em cheio, aumentando ainda mais meu medo.

Veja a crônica completa no Blog do Fabio Campos

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