Era uma vez, assim que o dia nasceu. Mais uma vez era. A casa continuava no mesmo canto, encostada nas outras. Se tivesse sozinha já teria caído. O salitre, os tijolos frágeis, de barro cozido. Ao ver aquela cena, vieram lembranças que fez tudo voltar ao passado de João Pedro. Pra construí-la foram dias de trabalho duro, o homem e a mulher somente. Da encosta do riacho arrancaram o barro. Com as próprias mãos moldaram os tijolos. Fizeram uma caieira que varou a noite queimando. E o bolo de fogo crepitou na catingueira verde azeitada que produziu um cheiro doce. A caninana buscou outro lugar pra se entocar. Os olhos gigantes da coruja assoviavam, causando arrepios de dar medo. O ponto de fogo lá no pé da serra, de cá da cidade parecia só o lume dum palito de fósforo aceso.
Pitava João, pitava Maria cigarros de palha, de rara beleza, singela ação pra quem via; raro sabor, um primor pra quem vivia. A cozinha baixinha, pretinha punha os mais taludos de cócoras e os pequenos aproveitavam pra desabarem nos seus colos. O menino viu e guardou, sem saber que guardava guardou. Os dias andaram de roda gigante, e fez miséria. A rua cresceu, e se multiplicou, fez como rezava no livro de Gênesis. Mas despois que cresceu, seus filhos foram embora, foram cuidar de suas vidas cortando o cordão umbilical deles com a rua. Rua que lhes amamentara, lhes embalara lhes pusera pra dormir
E de tristeza a rua encolheu, definhou, tanto que morreu. No seu lugar nasceu outra. Que nem em sonho imaginava que um dia fora a outra. O tempo de bandidos saqueadores estava instalado, não mais agora, mas naquele tempo da Rua Nova. Os homens se reuniram em assembleia daí virou Rua da Assembleia. A dificuldade do governo de cobrir com um contingente policial todos os municípios facilitava a ação dos malfeitores. Dona Adelia e Seu Canuto eram os moradores mais ilustres, os mais abastados de recursos. Os facínoras os tiveram em mira. Os-leva-e-trás, os olhos do coronel deram com a língua nos dentes. Vulnerável se tornavam vítimas. Quem só tinha a vida, uma reserva de grãos no fundo da dispensa, e alguns tostões enrolado num lenço debaixo da camarinha. Outra alternativa não havia, a não ser fugir. Um vaso branco era peça de estimação, também ia pra o mato, nos dias de tribulação. Fugir talvez fosse a única saída pra quem não queria ir pro enfrentamento. Os declives do relevo, as encostas dos cursos d’água, as grotas, tudo que pudesse esconder um cristão servia de refúgio.
Veja o conto completo no Blog do Fábio Campos