Sobre Clerisvaldo Chagas

Romancista, historiador, poeta, cronista. Escritor Símbolo do Sertão Alagoano.


BEIJA, BEIJA, BEIJANDO

23 Maio 2018


 

Foto: Reprodução / Pixabay

Para a sensibilidade da professora Vilma Lima e do escritor Avelar

Ele veio devagar, tudo observou e de repente: vupt! Para trás. O tempo adiantou, ele veio novamente e anotou na sapiência de que não mais havia intrusos na vigilância. Fomos carinhosamente observá-lo na pequenez, no balanço compassado do seu ninho.

Pé ante pé, com medo de um voo súbito, alcançamos êxito. Ele estava ali concentrado na sua missão, o Cuitelinho, a bizunga, o colibri… O beija-flor, porque seu feminino não existe. Deitadinho, chocava os dois minúsculos ovos que havíamos visto antes. Que maravilha! Exclamava o vigia da escola e eu.

Sim, foi mesmo na Escola Helena Braga das Chagas que a folhagem abrigou a ave da inocência e da formosura. Naquela rotina abençoada do trabalho, logo viramos cúmplices, eu e o vigia, da perpetuação do belo.

A sensação de que estávamos protegendo aquela criaturinha de Deus, nos fez um bem danado! Contudo, a nossa iniciação como protetores da Natura, nos rendeu também um casal de rolinhas brancas namoradeiras que, sentindo a mão amiga da escola, chega todas as manhãs no passeio apaixonado por sobre o muro amarelo-ouro.

O casal observa como se indagasse se pode andar por sobre os tijolos rejuntados. E como se tivesse absorvido um “Sim”, ambos mergulham no verdume que cobriu Adão e Eva no começo do mundo. As rolinhas brancas, simbolizando a paz, arrulham entre si e, o beija-flor, depois, sobrevoa os apaixonados da árvore vizinha, voando para frente, para trás, parando no ar e aprovando o remexido selvagem no abrigo.

Os ovinhos irão eclodir e, as mamães daquelas aves, irão se preciso ofertar à vida para alimentá-las, criá-las e entregá-las aos perigos do mundo. E como disse o repentista: “coração de mãe é cofre de se guardar amargura”, o da minha mãe, da sua e da humanidade. Sigo o caminho da paz das rolinhas brancas; e sobre o colibri, ave troquilídia, melhor lembrar o compositor Zeca Baleiro:

“Não se admire se um dia
Um beija-flor invadir
A porta da tua casa
Te der um beijo e partir
Fui eu que mandei o beijo
Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo
Ai que saudade d’ocê”.

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de maio de 2018

Crônica 1.907 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

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