Há algo de estranho no silêncio dos chamados formadores de opinião quanto à obrigatoriedade do voto no Brasil. Mais grave ainda é quando se fala em reforma política: coloca-se em debate o financiamento de campanha sempre com o intuito de colocar mais gasto para o bolso do cidadão, questiona se o voto deve ser distrital ou não, e nada se diz sobre a liberdade de votar do cidadão.
Outro ponto que não se discute é a diminuição do número de deputados, senadores e, principalmente, de vereadores. Talvez manifestações mais fortes do que as de junho ajudem a trazer à pauta do Congresso Nacional.
Choca, porque se discute o secundário em detrimento do essencial. Num país tido como democrático, não há dúvida quanto ao voto ser seu elemento principal. Entretanto, ele deve ser exercido com liberdade, como deveria ser a prestação do serviço militar. Quem defender o contrário, só pode fazer por interesse pessoal, por omissão ou por má-fé.
Quando os especialistas renomados tratam do assunto, o que é raro, seguem a boiada no argumento de que o povo brasileiro ainda não estaria preparado. No mínimo, uma desfaçatez. Essa justificativa vem sendo utilizada há décadas, sem dizerem o que deve ser feito para preparar os eleitores. Também não fazem nada para que se alcance essa preparação. Se nada for feito, o povo continuará sempre despreparado, pois somente o passar do tempo não qualifica ninguém para coisa alguma.
Como o mais conceituado constitucionalista brasileiro, José Afonso da Silva defende uma tese que envergonharia um calouro da Ciência Jurídica. Grosso modo, numa confusão de conceito, chega a afirmar que o voto no Brasil é livre; obrigatório seria apenas o comparecimento ao local de votação. Tão fora de propósito que dispensa réplica.
Nenhum comentarista da Rede Globo, da Rede Record e das demais emissoras diz uma vírgula. Os jornais e revistas não trazem nenhuma matéria, as emissoras de rádio, os atores, os jornalistas, os jogadores de futebol e todos os desportistas silenciam; assim como os advogados, os juízes e os promotores, todos emudecem.
Afasta de mim esse “cale-se”. É preciso achar um momento oportuno para se tirar de vez a obrigatoriedade do voto do que agora, uma mácula indelével da nossa democracia.
Os eleitores deveriam deixar claro aos políticos que, em 2014, ou votam por opção ou nulo.
*Pedro Cardoso da Costa é bacharel em direito