Sobre Sérgio Campos

Sérgio Soares de Campos, nasceu em 11 de novembro de 1961, em Santana do Ipanema, Alagoas. Possui crônicas publicadas em sites e livros como: À Sombra do Umbuzeiro e À Sombra do Juazeiro. É membro idealizador e cofundador da Associação Guardiões do Rio Ipanema (Agripa). Criou o projeto musical Canteiro da Cultura, lançado dia 14 de dezembro de 2019.


Luiz Gonzaga em Santana do Ipanema

13 dezembro 2018


Foto: Divulgação

Nascido em Exu, Sertão de Pernambuco, filho de Januário e Santana, Luiz Gonzaga, que se consagrou “O Rei do Baião”, saiu de casa aos 17 anos, em 1929, depois de levar uma pisa dos seus pais, após criar um contratempo com um fazendeiro da região, por causa de um namoro com sua filha.

Para mim, Luiz foi o artista que melhor retratou o Nordeste, entre interpretações e composições em parceria com grandes compositores, a exemplo de Humberto Teixeira, que compôs o maior ícone da música nordestina, Asa Branca, além de Assum Preto e Juazeiro.

Outra parceria do Mestre Lua foi com Zé Dantas, onde podemos citar Riacho do Navio, Acauã, A Volta da Asa Branca. E ainda tem João Silva, um dos maiores parceiro de Gonzagão na produção de mais de cem músicas, entre elas sucessos como: Danado de bom, Nem se despediu de mim e Pagode Russo.

Em 2 de agosto de 1989, depois de lutar por seis anos contra um câncer de próstata, Luiz Gonzaga do Nascimento, faleceu em Recife/PE, vítima de uma parada cardíaca. 

Dois momentos em Santana

Em minha memória eu guardei dois momentos em que Luiz Gonzaga passou por Santana do Ipanema, no Sertão de Alagoas; sendo um descontraído e feliz e outro nem tanto. O primeiro eu devia ter uns 10 anos de idade e aconteceu quando o Circo Jota Limeira armou sua lona por aqui, local onde hoje existe o Mercado de Cereais. Esta lembrança está viva na minha memória porque os circos, nesta época, armavam por trás da casa dos meus pais.

Me lembro que foi feito o anúncio da apresentação do sanfoneiro já consagrado no Brasil. No entanto, o show acabou não acontecendo, devido a falta de público. Creio que o que dificultou a realização desta apresentação foi a realização do espetáculo do Circo Garcia no mesmo local, circo este bem mais famoso que o outro, além de trazer à cidade, pela primeira vez, muitos animais, entre eles três elefantes.

A segunda vinda de Gonzaga a Santana, que eu me recordo, aconteceu no ano de 1974. Este sim foi um show prestigiado pelo público e bastante animado. O meu pai, João Soares Campos, era comerciante e tinha uma mercearia na Praça da Bandeira, hoje Praça Dr. Adelson Isaac de Miranda. Era comum eu e meu irmão Fábio ir buscar pão na Padaria Royal, Centro da cidade. Neste dia, um sábado, eu fui o escalado para esta tarefa.

No momento em que ia saindo da padaria ouvi um som de forró, vindo da feira. Perguntei a alguém quem tocava. Quando me contaram quem era, não pensei duas vezes, nem na possibilidade de levar uma surra, fui ver o show na praça. Luiz Gonzaga tocava e cantava em cima de um caminhão, em frente à loja A Imperial. Ali parei e fui escutar o meu grande ídolo da música. Na minha casa era comum eu ouvir os LPs de forró.

Um episódio que me chamou a atenção e contei aos amigos como uma forma engraçada foi a brincadeira que ele tirou com um fã que o assistia e insistia em pedir uma música que era muito tocada na época “Apologia ao Jumento” – O Jumento é Nosso Irmão – ( Luiz Gonzaga e José Clementino). Todos ali sabiam que o Velho Lua iria cantar aquela música: primeiro porque era um dos seus grandes sucessos, e segundo porque a cidade que ele visitava naquele momento tinha sido a primeira no Brasil a homenagear o jumento através de uma estátua em uma das suas entradas. 

Outro dia eu assisti um vídeo em que Dominguinhos dizia que Luiz Gonzaga não se agradava muito quando alguém na plateia insistia que ele cantasse tal música, devido talvez ao repertório já previamente organizado. 

Pois bem, eu acabei presenciando uma dessas cenas. Só que Seu Luiz tirou de letra a insistência do matuto, que gritava lá de trás “Seu Luiz cante a música do Jumento”…

Depois de ouvir por várias vezes, o irreverente Gonzagão soltou esta para plateia, que caiu em gargalhada: “Olha só pessoal, aquele rapaz ali quer a do jumento”. Se o show já estava animado, ficou ainda melhor com o bom humor do Gonzaga. E assim foram as duas vezes em que Luiz Gonzaga visitou Santana do Ipanema. 

Além das visitas 

A história de Luiz Gonzaga com Santana do Ipanema não fica apenas nestas duas visitas. Em 1979 ele lançou um PL intitulado “Eu e meu pai”, homenageando assim o seu pai que faleceu no ano anterior. Este LP trás em sua 5ª faixa do lado 1 a música “Acordo Às Quatro”, do compositor alagoano Marcondes Costa. Na letra, que retrata o homem sertanejo em seu esforço para educar os seus filhos, ao tempo que cuida da sua prole, Luiz Gonzaga canta: “E os meninos digo sempre a Iracema em Santana do Ipanema todos três vão estudar”.

Dia consagrado a Santa Luzia

Neste dia 13 de dezembro a igreja católica consagra Santa Luzia, conhecida como “Portadora da Luz”. Esta santa italiana sugeriu aos pais de Luiz Gonzaga a escolha do seu nome.

“Meu nome é Luiz Gonzaga, não sei se sou fraco ou forte, só sei que, graças a Deus, té pra nascer tive sorte, apois nasci em Pernambuco, o famoso Leão do Norte.

Nas terra do novo Exu, da fazenda Caiçara, em novecentos e doze, viu o mundo a minha cara. 

No dia de Santa Luzia, por isso que sou Luiz, no mês de Cristo, por isso é que sou feliz.”

Luiz Gonzaga

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