“Nas festividades quando soltam o boi, uma fina camada de poeira levanta do chão. Rapidamente os vaqueiros vão se embrenhando na vegetação. O espectador de longe ouve apenas o som dos chocalhos e os gritos atrás do barbatão. Alguns minutos se passam e logo se vê os vaqueiros retornando com a recompensa na mão. Os aboios e toadas vão surgindo pouco a pouco marcando a comemoração. São cantigas que falam do gado, da caatinga e da saga da profissão. Todas sempre bem rimadas, emocionantes e com uma boa entoação. Veja quanta beleza está por trás da destreza do herói do sertão.”
O vaqueiro é um grande possuidor de destreza e habilidade, e não foi por acaso que sua arte se tornou a mais famosa de todas as ocupações do campo e sua lenda ecoa até hoje pelo meio rural. Verdadeiro herói das matas, símbolo de força, resistência, coragem e trabalho, representa muito bem o povo do Nordeste.
Desbravador pioneiro de muitas localidades brasileiras, na busca de novos pastos para criação de gado, deixou marcas sobre a caatinga, sobre as matas, agrestes e cerrados, que, montado em seu cavalo arisco e ligeiro, correndo atrás de uma rês desgarrada, foi costurando um caminho marcado por destreza, coragem e maestria.
Hoje, dia 19 de março de 2019, Santana do Ipanema e região perde um dos seus maiores símbolos, “Senhor Manoel de Lourival” como era conhecido, deixa esposa, filhos, netos e um legado para todos aqueles que tiveram o prazer de lhe conhecer.
Grande atleta das selas, desde cedo mostrou bravura e domínio sobre o cavalo e o gado, quando começou a se aventurar nesse meio ainda criança, ajudando seu pai a tanger o gado pelos campos. Nasceu no Sítio Olho d’Água do Amaro, município de Santana do Ipanema e aos 12 anos de idade ganhou do pai seu primeiro gibão, desde então não parou mais de embrenhar-se pelas matas em busca de animais ariscos, para ele, quanto mais bravo era o animal, melhor era a festa.
Ao lado de Luiz Ferreira e outros vaqueiros, participou de muitas pegas de boi pelo sertão a fora, uma delas foi na Ilha do Ferro, na cidade de Pão de Açúcar-AL, onde passou dois dias no campo atrás do boi piaba, um dos mais ariscos que já pegou.
Manoel de Lourival, possuidor de uma fé fervorosa, sempre frequentava as missas na Igreja matriz de Senhora Sant’Ana. Homem educado, tratava todos com respeito e muito carisma, quando chegava nas festas de vaquejada animava os vaqueiros com os lindos aboios que soltava, conduzia o gado com maestria e pegava boi com grande bravura e determinação, tornando-se assim um verdadeiro herói do sertão.
A morte pode ter fechado seus olhos, mas deixou sua imagem e seu legado aberto em nossa memória. Sua figura jamais será esquecida, pois ficará eternamente marcada na história.
Por Lícia Maciel* – colaboração
*Lícia Maciel é natural de Santana do Ipanema e graduanda no curso de História em Palmeira dos Índios. É integrante da União Sertaneja de Escritores (Usesc) e da Academia de Letras do Amplo Sertão Sergipano (Alas).