Cansado e velho ia o mundo. De tantas artimanhas, ainda mais cansado andava aquele ano. Ia lento, claudicante, debaixo do peso do tempo curvado. A infância carnavalesca, a fremência junina, a festeira juventude de julho, agora era passado. Augusta idade madura, descambando pra caduquice setembrina. Todo velho tem uma história de guardar coisas. De ajuntar quinquilharia porque um dia de alguma forma pode servir. A repetir sempre as mesmas coisas. E suas falas sempre se iniciam com: “No meu tempo”. De esquecer onde deixou as chaves. De não querer tomar banho. Comer também não, porque nada tinha mais gosto como antigamente. De muitas vezes se pegar no meio da sala, parado, a pensar o que ia mesmo fazer?
“Existirá
Em todo porto tremulará
A velha bandeira da vida
Acenderá
Todo farol iluminará
Uma ponta de esperança”
Na frente da igreja se havia uma mulher. Assim que se abriram as portas, foi sentar-se na primeira bancada, diante do altar. Era assim por se dizer bonita, bem apanhada, visto a meia idade. Os cabelos escorridamente sedosos, em dois tons de loiro ornavam seu colo rijo. O rosto gracioso, amplamente marcado pelo ruge carmim, boca carnuda. Uma blusa dum vermelho intenso de tecido leve vaporoso que valorizava seus ombros. Decote generoso pra lá iam qualquer olhar decaído sobre o seu ser. A calça jeans sobrepujava suas curvas dadivosas, a alvoroçarem nervos quaisquer, dos mais metálicos aos mais tenros então. Abriu a bolsa, pegou um livro, pôs-se a ler. Decorrido certo tempo tirou os calçados. O zelador da igreja aproximou-se curioso. Aproveitaria pra perguntar ao moço se podia deitar-se ali, estava muito cansada. O rapaz diria que não era permitido. Pediu então que ao menos olhasse sua bolsa enquanto ia a rua comprar água, e algo pra comer, tinha sede, e fome.
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