Tagor, e a praia. Tanto tinham pra descobrir um do outro. A faixa de terra, aos confins da terra indo. O cabelo de Antonieta gritava ao vento, almejando mesmo infindo mundo de areia. Os olhos, porem jamais alcançariam. Coqueiral feito pingente espetando o céu de longos palitos, marrons. Ostentação de buques, exuberância de palmas verdes. Cachos frutíferos de alvas polpas, dente de leite, de caldo salubre. Embora não parecesse, havia civilidade, havia vestes de bordados, vestes de muito esmero. Seu perfume tinha um quê de selvagem. Fio de fina poeira, batizando de sal, e de sol, o dia. O mar declamando poesia ao vento de barcos e jangadas, que nunca atracavam. O mar, recitando versos, de marinheiros que jamais pisaram terra firme. O mar, de piratas e corsários que viviam buscando tesouros perdidos. Tesouros guardados por espíritos de gente morrida de morte atormentada. E não satisfeitas, nem conformadas com a partida adiantada, jamais aceitariam que viessem buscar o que sempre lhes pertencera.
Os meninos das bicicletas. Do nada, se perceberam que velhos estariam ficando. Cinco, sete e nove anos tinham, quando se deram conta disso. E quedaram de tristeza, ao descobrirem que os velhos eram pessoas tristes. E desejaram do fundo de suas almas jamais ficarem grandes, e velhos. E ter que assumir destinos que fizesse com que ficassem distantes uns dos outros. E nunca mais se veriam, não como antes. Por ocasião das festas do padroeiro da vila, quando tivessem oportunidade, ao se verem, disfarçariam, baixariam a cabeça, olhariam pro lado contrário. E tristemente seguiriam seus pobres caminhos. Sem o menor escrúpulo a sepultarem meninos vivos. Por asfixia morreriam seus pobres coraçõezinhos. Aqueles meninos precisavam conhecer TagorFashall. Com ele buscariam o que mais queriam, o segredo para chegar a ilha da eternidade. Onde eternamente meninos brincavam na praça. Onde eternamente seria o para sempre de suas vidas. Marcos, João e Lucas iam pra escola. Lucas estudava em duas escolas. Uma na vila, e outra que ficava num lugar além do que permitia seu entendimento. Nenhuma ficava perto de sua casa. Tão distante que ele pensava que talvez não existisse, porque tinha que acordar muito cedo e saía de casa praticamente dormindo. Escovava os dentes dormindo, tomava café dormindo, entrava no ônibus dormindo. E sonhava que estava indo. Por isso considerava que uma escola era de verdade e a outra só existia em um mundo onde não havia homens, nem velhos. Somente meninos sagazes como TagorFashall.
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