Editoriais de grandes jornais e revistas especializadas do mundo confirmam – o Brasil é exceção no cenário da crise mundial. O Brasil se robustece enquanto Alagoas se desfalece. Por que? Como explicar (e compreender, obviamente) esse caminhar inverso de Alagoas?
É preciso ser radical, isto é, ir às raízes do fato para compreender a herança maldita que Alagoas carrega e que a faz caminhar em reverso, em versões falaciosas, mentirosas e por isso se desfalece.
É fundamental ser radical para não cairmos no mesmo beco sem saída onde já se encontram a maioria dos juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), a mídia nativa, uma geração inteira de sociólogos e economistas e as autoridades do Estado de Alagoas, inclusive o governador.
As raízes do conflito entre PT e PSDB situam bem antes do Golpe Militar de 1964. Antes mesmo da novela da i/legalidade do Partido Comunista produzida pelo STF (e que novela ridícula! A ignorância desses juízes explica tamanha desfaçatez!) e que contribuiu decididamente para arroubos e tragédias que só mesmo a clandestinidade (devido a ilegalidade), como base forçada, possibilitaria emergir ou submergir e, desse modo, sempre trazendo a suspeita: será verdade ou mentira? Sendo que nunca se questionou a falibilidade do STF, no entanto, a própria Igreja já mostrou que não existe nem a infalibilidade do Papa. Ora togados! Que vayan todos!
Nas raízes do fato, encontramos o brasileiro / mineiro Ruy Mauro Marini, exilado no México, e que desenvolveu a teoria de Marx com suas teses sobre a Teoria da Dependência e a Sociologia Crítica a ponto de se tornar um ícone para o mundo acadêmico (seus livros, desde a época 1960/70, são traduzidos para dezenas de idiomas) e principalmente para a América Latina, por ser um dos fundadores do Pensamento Crítico Latino-americano e da Sociologia Crítica. Marini criticou (e apresentou argumentos originais, inéditos) a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL); apresentou pessoalmente, contra-argumentos ao Celso Furtado (então membro da CEPAL e fundador da SUDENE), fazendo o mesmo com intelectuais europeus e norte-americanos renomados, porém é quase que completamente desconhecido no Brasil. Mesmo com a Anistia, tornaram impossível seu retorno ao cargo de professor da Universidade de Brasília (UNB), pois os trâmites burocráticos somados a perseguição política impediram seu retorno. Marini escreveu o texto intitulado de – Memória – no qual presta conta de sua vida intelectual e profissional para atender uma exigência acadêmica da UNB e assim retornar ao cargo que conquistou através de concurso público (este texto e outros encontram-se na página da Universidade Autônoma do México)[1]. Por ironia socrática, este método inovador de apresentar o curriculum vitae que em nada ajudou o Marini, acabou sendo utilizado pela UNICAMP para “adotar” muitos de seus professores (sem o concurso público, evidentemente).
Por outro lado, Fernando Henrique Cardoso (sociólogo) e José Serra (economista) também exilados, foram até a UNAM para solicitar permissão do Ruy M. Marini para a tradução e publicação de um de seus artigos – Dialética da Dependência – na revista do Centro Brasileiro de Análises e Planejamento (CEBRAP), revista produzida pela USP e financiada pela Fundação Rockfeller, sendo que a primeira “adotou” FHC e a UNICAMP “adotou” o Serra.
Porém, a dupla – que junto com Covas (cassado pela Ditadura Militar) e outros, mais tarde, fundariam o PSDB – não publicou o referido artigo, ao contrário, fez publicar o artigo dela própria criticando aquilo que Marini alardeava mundo afora. O que surpreende nessa atitude indecente e desonesta da dupla é que o artigo-crítica é completamente débil, falsifica dados da realidade com o intuito de substanciar algumas poucas categorias de Marx utilizadas no artigo-crítica intitulado com –As Desventuras da Dialética da Dependência – que, por sua vez, não tem o menor rigor científico, é pura troça.
Entretanto, assim que Marini soube da desonestidade da dupla – atitude típica de “intelectual” invejoso porque incompetente – fez publicar num número especial daRevista Mexicana de Sociologia seu artigo – As Razões do Neo-desenvolvimentismo: resposta a F.H. Cardoso e José Serra. No entanto, também este artigo alardeado mundo afora, só recentemente (2007) apareceu num livro publicado na Argentina.[2]
Considerando que todos três (Marini, FHC e Serra) foram forçados pela Ditadura Militar ao exílio e à clandestinidade, obviamente, logo é previsível que daí surgisse tantas “verdades” quantos “garimpeiros” se embrenhassem nesse terreno movediço.
No entanto, esse debate quase natimorto devido a indecência e desonestidade da dupla, agora pode e deve ser revitalizado. Mesmo porque, temos, entre outros, dois fortes argumentos para contrapor a débil e vergonhosa crítica que a dupla fez às teses do Marini.
O primeiro deles é a realidade socioeconômica brasileira cuidadosamente construída pelo PT e partidos aliados e/ou governos Lula/Dilma. Se a mudança (pra melhor, é claro) da realidade brasileira é um fato consumado e até indiscutível para muitos, para nós acadêmicos é e deve ser amplamente debatido para, desse modo, não só aprimorá-la ainda mais como também convencer (vencer com) a oposição, mesmo porque, o objetivo maior é o bem-estar de todos, e a prova disso é a presente democracia que temos trabalhado duro (vários de nossos iguais tombaram ao resistirem à Ditadura Militar) para que seja perene, permanente.
O segundo se refere à relação entre a dupla e Ruy Mauro Marini. Relação esta que, à primeira vista, parece estritamente acadêmica, mas a história tem nos mostrado que é política e completamente nefasta à academia e à sociedade, principalmente à Alagoana.
Entre as teses do Marini encontram-se embriões daquilo que vem fazendo a fama (mundo afora, é claro) dos governos Lula/Dilma e que o PSDB – com apoio da USP/UNICAMP e da mídia nativa – tenta passar como se fosse herança e/ou invenção do governo FHC (a Bolsa Família, por exemplo). Outros embriões referem-se ao Desenvolvimento Desigual e Combinado, a Troca Desigual e a Revolução Permanente (já inscritas nas teses de Marx / Engels / Lênin / Trotsky / Mandel e outros), teorias muito bem alentadas nos textos, artigos e livros do Marini.
Dois exemplos. Fazendo analogia da teoria do Desenvolvimento Desigual e Combinado com a troca de ideias da dupla com o icônico Marini, constata-se que a indecência e a desonestidade da dupla perpetrou a troca desigual, ou seja, o oposto da troca de equivalentes que é o cerne da teoria do valor de Karl Marx. Agora com relação à Revolução Permanente, a qual implica o contrário de tudo aquilo que a história, até então, tem nos mostrado, ou seja, se a morte de Lênin possibilitou a ascensão de Stalin e o consequente desmoronamento da URSS e a queda do Muro de Berlin; se a morte de Hugo Chávez representar a encruzilhada para a Venezuela naquilo que diz respeito a Revolução Bolivariana; ao Brasil pouco importará se o próximo presidente (eleito democraticamente, é claro) não for do PT, não for a Dilma ou o próprio Lula.
Sendo neste quesito que Alagoas pode (e deve) inverter a caminhada e começar a se fortalecer, se robustecer com o Brasil, porém, ao Governador de Alagoas resta uma única alternativa. Se apoiar incondicionalmente a candidatura do Senador Aécio Neves (PSDB) terá que ajuda-lo a carregar esse pesado fardo da herança maldita (mal comentada por que muito mal compreendida). Considerando que o sonho do PT é enfrentar o Aécio Neves, mesmo porque, este necessariamente terá a dupla como mentores teóricos do partido e, consequentemente, das mentiras e safadezas agora não mais revestidas com o manto, digamos toga, do mea-culpa (ou meia-verdade?), logo serão todos defenestrados do cenário político.
O governador de Alagoas não consegue (porque não pode) ser radical e se tivesse conhecimento dessa herança maldita, com certeza já teria aberto o debate para se livrar da herança, do mesmo modo que o Menestrel das Alagoas fez ao dar apoio ao Lula que encarou, completamente desarmado, a Ditadura Militar. O lula sem diploma universitário, mas com a teoria revolucionária do Marini, se fez presidente do Brasil que agora tem a Dilma diplomada (é economista e foi liderada por Marini nos anos sombrios da Ditadura Militar) para deserdar tutti-quanti.
Ao debate companheiro(a)s!
Por Vladimir D. Micheletti – UFAL/FEAC vlamiche@ofm.com.br