O estudante da Universidade Técnica de Lisboa, Ido Alon, veio ao Brasil para identificar quais são as características das incubadoras da região Nordeste e compará-las com as existentes em seu país de origem, Israel. Desde março, ele atua como pesquisador do Mestrado em Economia Aplicada da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e após as primeiras apurações, notou que o atual estágio da cultura empreendedora alagoana apresenta semelhanças com a situação de Israel há duas décadas atrás.
“De alguma maneira a situação hoje, face à inovação e a tecnologia no Nordeste, lembra o que era em Israel há 20 anos, como o foco na agricultura e tecnologia básica, falta de cultura empreendedora e a dificuldade em aumentar investimentos estrangeiros. Seja por uma fama negativa, em relação ao perigo e instabilidade, no lado de Israel, ou pela corrupção e burocracia, existente no lado do Nordeste”, define o pesquisador.
Conforme Ido, atualmente a realidade das incubadoras israelenses é de alta competitividade no setor da tecnologia. Apesar dos investimentos serem de origem pública, as incubadoras são empresas com fins lucrativos, atuam fora das universidades e apresentam altos incentivos para o seu desenvolvimento. Os projetos passam por um processo muito concorrido e os selecionados recebem volumosos recursos do Estado e da incubadora.
No Brasil, a grande maioria das incubadoras vivem restrita a Universidade, os projetos têm fundos de origem dispersa e em muitos casos, ao contrário do que acontece em Israel, não chegam a ser registrados como empresas por um longo período de incubação.
Outra característica das incubadoras brasileiras é que elas são voltadas para inclusão social e o desenvolvimento regional. O fato lembra a situação anterior de Israel, quando as incubadoras foram inicialmente criadas para absorver o contingente imigrante de engenheiros e cientistas soviéticos, que ingressavam no mercado de trabalho israelense e mantinham foco no desenvolvimento das periferias.
“Pessoalmente estou muito interessado em conhecer as incubadoras tradicionais, um fenômeno que quase não existe em Israel. Acho importante que as incubadoras aqui não foquem apenas em tecnologia, mas também em responder a falta de produtos e serviços mais básicos, que podem perfeitamente ser produzidos aqui”, acredita.
Ido acrescenta que em comparação ao estado israelense, as oportunidades são bem maiores na região nordestina, mas seria necessário aproveitar melhor o seu potencial. “O nordeste tem um mercado nacional de grande dimensão, tem o acesso mais fácil as matérias-primas locais, tem poder de agricultura. Acho óbvio que Alagoas, como o Nordeste, não precise pôr como objetivo ser líder mundial de tecnologia (como Israel deveria), embora seria preciso melhorar as tecnologias da produção local, envolver um setor tecnológico produtivo ligado às indústrias tradicionais e até aumentar a produção e a diversificação de produtos e serviços locais tradicionais”, defende.
Parceria Feac-Iseg
Ido veio ao Brasil como bolsista, a partir de um convênio entre a Ufal e a Universidade Técnica de Lisboa, da qual ele faz parte. Ele passará seis meses cursando disciplinas do Mestrado em Economia Aplicada e conhecendo de dentro a experiência da Incubadora da Ufal (Incubal).
“Em 2009, uma aluna da Feac [Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade] foi fazer o mesmo tipo de intercâmbio no Iseg [Instituto Superior de Economia e Gestão] e o agora o Ido veio do Iseg para a Ufal para desenvolver seu projeto aqui. Ele está nos dando suporte em pesquisa na área de incubadoras, nos auxiliando com a publicação de artigos no exterior, além de construir uma ponte da Feac com a academia em Israel”, relata Francisco Rosário, um dos orientadores do projeto. Além dele, os docentes Josealdo Tonholo e Silvia Uchôa estão colaborando para a pesquisa do israelense.
Até agosto, quando finalizar a coleta de dados, Ido terá colhido dados como o número de empresas incubadas e de empregados por empresa, além origem de fundos e investimentos em empresas graduadas. As investigações no Brasil ainda estão no início, mas ele já afirma que “o nordeste tem um grande vácuo, que ainda deve ser preenchido”.
Por Ascom UFAL