Em um ano, inadimplência das famílias alagoanas aumentou 29% No mesmo intervalo, praticamente dobrou o número daquelas que não têm condições de pagar suas contas, saindo de 5,4% (maio/23) para 11% (maio/24).

Ascom / Fecomércio Alagoas

22 jun 2024 - 10:00


Foto: Marcus Santos / USP Imagens

Apesar de o nível de endividamento famílias alagoanas se manter em patamar semelhante ao registrado há um ano, variando apenas na margem dos valores, a inadimplência não só  aumentou 29% nestas famílias, como praticamente dobrou o número daquelas que não terão condições de pagar suas dívidas, saindo de 5,4% (maio/23) para 11% (maio/24), conforme constatado pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) do Instituto Fecomércio AL realizada em parceria com a Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo (CNC).

Esse aumento nas contas em atraso pode estar relacionado à forma como se contrai a dívida, uma vez que o cartão de crédito foi o meio mais utilizado para 97% das famílias, mês passado. Como a tendência é acumular parcelas de compras de meses diferentes e os juros são altos, em torno de 400% ao ano, isso acaba pressionando os orçamentos das famílias de renda mais baixa. Outros meios de aquisição de débitos foram o carnê, com 19%, e o cheque especial, com 0,5%.

Este cenário é visto com cautela pelos economistas, como explica Francisco Rosário, especialista ouvido pelo Instituto Fecomércio AL, embora a condição de endividamento seja comum para uma economia saudável. “O débito de alguém é crédito para outrem, e o crédito é fonte de investimentos e crescimento econômico. O problema é quando as dívidas não são pagas, gerando assim instabilidade e crises econômicas”, explica. Para o restante do ano, o economista fala que a expectativa é pela redução da inadimplência, “principalmente devido à nova legislação federal que limita os juros do rotativo do cartão de crédito a 100%; fato que irá impactar positivamente na condição financeira de muitas famílias”, complementa.

Sobre o endividamento, na comparação com maio do ano passado, no volume de famílias com dívidas – o equivalente a 65% – houve uma redução entre as que não têm dívidas dos tipos citados na pesquisa e o crescimento naquelas com menos dívidas e mais ou menos endividadas. “Dois fatos podem ter contribuído para essa redução: o efeito do programa Desenrola, do governo federal, e a redução da taxa de juros (Selic) ao longo de 2023, que repercutiu de alguma forma nas novas dívidas”, observa Rosário.

No contexto de 2024, na variação mensal entre abril e maio, o número de famílias muito endividadas saltou de 17,6% para 18,2%, fato que pode aumentar, mesmo que na margem, do risco de inadimplência para o grupo com renda de até 10 salários mínimos (10sm). Por enquanto, o endividamento destes alagoanos não está pressionando as taxas de inadimplência na mesma proporção. Comprova isto o fato de que o endividamento cresceu, entre dezembro de 2023 e maio de 2024, a uma taxa média de 1,3% ao mês, enquanto o percentual de inadimplentes em Alagoas, segundo a Serasa, aumentou a uma taxa de 0,6% ao mês, ao menos até abril de 2024. A redução do desemprego no primeiro trimestre deste ano, em Maceió – cidade que responde por 60% das ocupações nesse período, é um dos fatores que podem ter ajudado na contenção da inadimplência.

Entre os dados trazidos pela pesquisa do Instituto Fecomércio AL, o aumento do percentual de famílias com contas em atraso merece atenção, pois a taxa de crescimento foi de 5,3% ao mês. Já na análise das condições de endividamento, este é uma realidade maior para as famílias com renda de até 10sm, embora as dívidas tenham aumentado também para as famílias de maior renda (mais de 10sm). “Mas vale ressaltar que o poder de compra das famílias com menor renda pode estar sendo afetado, particularmente, pela persistente inflação dos alimentos no Brasil desde 2023, enquanto as famílias de maior renda teriam, em tese, melhores condições de acesso ao crédito, inclusive a taxas menores”, avalia o economista.

No intervalo de um ano, o número de famílias de até 10sm que não têm condições para pagar suas dívidas dobrou, saindo de 6% em abril de 2023 e alcançando 12% em maio passado, à medida que na faixa superior a 10sm, que havia registrado 2% de famílias nestas condições em abril de 2023, retraiu e manteve-se estável em 0% nos últimos meses de abril e maio (2024).

Apesar de todos estes números, a situação dos alagoanos ainda é uma das melhores nacionalmente, ao menos no tocante ao endividamento. “A despeito de todas as condições adversas para Alagoas em termos de emprego e renda, em âmbito nacional, o estado é o segundo menor em número de famílias endividadas, em maio, perdendo apenas para o Mato Grosso do Sul (MS). Mas é o 17º com o maior número de famílias inadimplentes e o 11º em famílias sem condições de pagarem suas dívidas, segundo a Peic de junho de 2024”, analisa.

Comentários