Alagoas, estado notoriamente rico em diversidade cultural, é lar de 76 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares (FCP). Dentre todas, o Quilombo Mameluco, situado na serena zona rural de Taquarana, destacou-se por suas vibrantes atividades culturais e forte integração comunitária.
Sob a inspiradora liderança de José Ferreira Santana, mais conhecido como Zé Duda, seis encontros já haviam ecoado positivamente entre os membros da comunidade. No último 23 de setembro, o VII Encontro Mamelucando foi realizado, trazendo um dia especial de celebração e aprendizado.
Juliana Aráujo, da produção do evento, afirmou: “Este evento foi de extrema importância para dar maior visibilidade à comunidade Quilombola Mameluco, englobando um grande número de pessoas de várias culturas diferentes em um mesmo ambiente.”
No dia 22 de setembro, as atividades começaram com uma roda de conversa guiada pelo Dr. Leonardo Siqueira, doutor em antropologia social pela USP e professor de sociologia no IFAL- Santana do Ipanema. A culinária local foi reverenciada com a tradicional torra de café de andu, conduzida pelas mestras Vaninha e Dinete. À tarde, a mandioca foi o foco em uma cerimônia que destacou sua resiliência simbólica durante a farinhada quilombola. O dia contou com apresentações culturais dos alunos da Escola Edgar Tenório de Lima e a noite foi embalada pelo ritmo contagiante do forró de sanfona do sanfoneiro Luiz Chico.
No dia seguinte, a programação ofereceu oficinas educativas destinadas a professores, ministradas pelos estudantes de Ciências Biológicas do Ifal Maceió, incluindo a Oficina Gastronomia Quilombola: Café de andu e Quebra Queixo Quilombola com Mestra Vaninha. O 4° Encontro das Mulheres Quilombolas de Alagoas, liderado pelas Dandaras, foi um dos destaques. As danças tradicionais das guerreiras do Quilombo Lunga, formado por mulheres na melhor idade (50+), surpreenderam e encantaram o evento. A noite foi finalizada como as danças religiosas do Palácio de Oxum e de Ogum, um momento cativante para a comunidade que se entregou a celebração da rica tapeçaria de crenças e tradições dos quilombos Lunga e Mameluca.
A Professora Danielle Barbosa, do Ifal Maceió, destacou: “Trouxemos uma oficina de herbários etnobotânicos, que é uma espécie de arquivo de plantas típicas da comunidade. Essa atividade ajuda a conservar saberes tradicionais sobre as plantas, fortalecendo a conexão entre comunidades e instituições acadêmicas.”
Mestra Vaninha, que é uma personalidade histórica de resistência do Quilombo, marcou presença nos sete encontros com suas oficinas. Ela compartilhou suas experiências: “O ensino foi ainda melhor este ano. Tivemos a participação ativa dos estudantes do IFAL de Maceió. Todo mundo se uniu para fazer o quebra-queixo, e isso me deixou muito feliz.”
A celebração também prestou uma homenagem especial a Zé Máximo Filho, membro da Associação Remanescente de Quilombo Mameluco. Zé Máximo, que infelizmente nos deixou recentemente, era notoriamente ativo e desempenhava um papel crucial na organização e produção dos eventos da comunidade. Além disso, o Quilombo Mameluco inaugurou o Novo Espaço Cultural Antonia Rosa Pereira, ampliando o compromisso com a cultura e a ancestralidade quilombola.