No último sábado (6), um dos jogos mais populares da história dos videogames completou 30 anos. Street Fighter II foi lançado exclusivamente para fliperamas em 6 de fevereiro de 1991 e virou febre instantaneamente, definindo o gênero dos games de luta como o conhecemos hoje.
Como o nome já indica, Street Fighter II não era o primeiro título da franquia, iniciada em 1987 com a versão original do game. Aquele jogo, porém, não permitia que o jogador escolhesse outro personagem que não o Ryu (ou o Ken, caso você fosse o segundo jogador). A quantidade de movimentos também era bem limitada, sem a possibilidade de combos, mas já estavam lá elementos que seriam aprimorados na continuação, como as barras de energia e golpes icônicos como o Hadouken, acionados por uma combinação de comandos.
Com Street Fighter II, a desenvolvedora Capcom queria focar em uma linha de jogos de luta, seguindo uma tendência iniciada com alguns sucessos dos anos 80, principalmente nos Estados Unidos, como Final Fight, da própria Capcom, Double Dragon (Taito) e Teenage Mutant Ninja Turtles (Konami). A empresa japonesa alcançou o sucesso como queria, talvez só não imaginasse o quão grandioso seria. Os fliperamas tomaram conta das lojas, bares e galerias no Japão e também do Ocidente: no Reino Unido, eles representaram nada menos que 60% de todos os gabinetes espalhados pelo país.
São muitos os motivos que podem explicar o sucesso por trás de Street Fighter II, mas a razão mais citada é a tela de seleção de personagens, algo inédito até então. O painel era bem limitado em comparação com os jogos de hoje: apenas oito lutadores representando seis nações diferentes, incluindo o Brasil. Ainda assim, finalmente era possível não se prender a um único guerreiro, e sim experimentar heróis tão diversos como um monge budista indiano, um lutador de sumô japonês ou o monstro amazônico Blanka. Dava para escolher até mesmo uma mulher, a praticante de artes marciais Chun-Li, em uma época que controlar personagens femininas ainda era bem raro.
Depois dessa boa recepção, não demorou muito para Street Fighter II ganhar versões para os consoles da época, como Super Nintendo e Mega Drive. O jogo também ganharia várias atualizações, a mais famosa delas a Super Street Fighter II, que dobraria o número de lutadores selecionáveis. Tamanho sucesso foi replicado em diversas mídias: quadrinhos, desenhos animados e até um filme live-action bancado por Hollywood nos anos 90. Street Fighter: O filme era protagonizado pelo astro Jean-Claude Van Damme, que deu vida ao lutador americano Guile. A franquia da Capcom também expandiu com muitos e muitos games, como a série prequel Street Fighter Alpha ou os spin-off Street Fighter EX. Não podemos deixar de falar nos crossovers, como X-Men vs Street Fighter (1996), que dariam início à bem sucedida série Marvel Vs Capcom. Participações especiais em outros jogos não faltaram, com a inclusão de Ryu no panteão de personagens de Super Smash Bros, sendo uma das incursões mais recentes e mais famosas.
O jogo também ganhou sequências oficiais, a última delas Street Fighter V (2016), exclusivo para PlayStation 4 e computadores. Pela primeira vez, a Capcom não apostaria em uma versão para fliperamas, que estavam – e ainda seguem – em declínio de popularidade. Ainda assim, uma versão arcade limitada para o Japão seria lançada três anos depois. Ainda hoje, SFV é atualizado com correções ou adição de novos modos, cenários e personagens. Até o fim deste ano, serão 45 lutadores selecionáveis, um recorde em qualquer game Street Fighter. Por enquanto, o número mais alto ainda está com Ultra Street Fighter 4 (2014), com 44 lutadores.
Street Fighter II também é um dos pioneiros no esporte eletrônico. Competições amadoras do jogo eram comuns desde o início dos anos 90. Uma delas, disputada em uma galeria de fliperamas na Califórnia, se transformaria no EVO, um dos principais torneios profissionais de games de luta do mundo. A partir de 2014, a Capcom também apostaria em campeonatos oficiais, criando a Capcom Pro Tour, um circuito que culminaria na Capcom Cup, reunindo os 32 melhores jogadores do planeta. A edição de 2020 foi cancelada por conta da pandemia do novo coronavírus (covid-19), mas sa deste ano está confirmada no formato online nos próximos dias dias 20 e 21 de fevereiro.
Aqui no Brasil, a série Street Fighter também fez bastante barulho, com direito à transmissão de desenhos animados na TV aberta e também nas telas de cinema. Blanka – a besta selvagem da Amazônia com o coração de um menino inocente – foi adotada com muito carinho pelos brasileiros. O nosso país sempre foi bastante representado nos games da série, com cenários na Floresta Amazônica, no porto de Santos e nos morros cariocas. Outros lutadores, mais próximos e semelhantes da nossa realidade, seriam introduzidos: Sean, em Street Fighter III, e sua irmã mais velha Laura, em Street Fighter V. Daqui, saíram também alguns dos melhores jogadores de Street Fighter do mundo, como Keoma Pacheco – top 8 no Capcom Cup 2015 -, e Thomas “Brolynho” Proença, que participou da final mundial em 2016 e 2017.
Por enquanto, a expectativa fica por conta de um possível Street Fighter 6, que muito provavelmente já está em desenvolvimento. Muitos especulavam que o jogo seria lançado em 2021, mas com a pandemia de covid-19 ainda presente, acredito que o game só deva mesmo chegar às lojas a partir do ano que vem. Enquanto isso, para quem quiser embarcar de cabeça na franquia, eu sugiro dar uma conferida na coletânea Street Fighter 30th Anniversary Collection, que reúne todos os jogos da série principal até o Street Fighter III: Third Impact. Os capítulos IV e V, mais recentes, também já se encontram a um preço bem reduzido, mesmo com todo o conteúdo adicional já incluído em suas versões definitivas :Ultra e Champion, respectivamente.
Por Guilherme Neto / Agência Brasil
Guilherme Neto é apresentador do quadro Fliperama, no programa Stadium, da TV Brasil. A coluna é publicada às quintas-feiras Apresentador do quadro Fliperama, no programa Stadium, da TV Brasil. A coluna é publicada às quintas-feiras