Em Alagoas, espécie nativa em extinção, reaparece no Baixo São Francisco O Pirá foi visto pela última vez nessa região em 1984.

05 ago 2020 - 12:23


Pirá foi novamente encontrado entre os estados de Alagoas e Sergipe (Foto: Assessoria / Codevasf)

Exemplares adultos do Pirá, o peixe-símbolo do “Velho Chico”, foram encontrados na região do Baixo São Francisco, entre os estados de Sergipe e Alagoas, após campanha encabeçada pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) para salvamento da espécie, considerada em extinção.

Segundo a Área de Revitalização das Bacias Hidrográficas da empresa, esse reaparecimento se deu cerca de um ano após a soltura de peixes juvenis no rio. “A reprodução do Pirá na região tem ocorrido apenas artificialmente, em laboratório. O risco de extinção permanece, especialmente porque as condições que dificultam a reprodução ainda estão presentes. Mas o fato de terem aparecido na pesca denota que os exemplares soltos no rio encontraram condições satisfatórias para se desenvolverem”, explica o engenheiro de pesca Albert Rosa, analista da Codevasf.

A campanha para o salvamento do Pirá teve início em dezembro de 2015, com a captura de reprodutores e matrizes no rio Paracatu, no Alto São Francisco em Minas Gerais, única região da bacia hidrográfica onde a espécie ainda era encontrada. Após a construção de grandes barragens no leito do São Francisco, como a de Sobradinho, ela havia desaparecido das regiões do Médio e Baixo São Francisco.

O passo seguinte consistiu na adaptação e quarentena dos exemplares no Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Três Marias, em Minas Gerais, e depois, no transporte de 20 pirás para o Centro Integrado de Itiúba, em Alagoas. Nessa unidade, passaram por processo de adaptação e desenvolvimento, indução artificial de reprodução e produção de alevinos, culminando na soltura de peixes juvenis no rio.

Expertise

Com base no sucesso obtido na primeira fase da campanha do Pirá, a Codevasf está programando a captura no ambiente natural do Alto São Francisco de novos exemplares da espécie para sua distribuição a outros quatro Centros Integrados de Recursos Pesqueiros e Aquicultura da Companhia, para intensificação das ações de salvamento dessa espécie da extinção.

Para realizar atividades com finalidade científica, tais como captura, reprodução, larvicultura, alevinagem, peixamento e monitoramento ictiológico de espécies de peixes nativas ameaçadas de extinção, é necessária autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

No mais, todo o manejo e infraestrutura utilizados para captura no ambiente natural, transporte, adaptação dos reprodutores e matrizes, reprodução e soltura dos juvenis (peixamentos) são realizados exclusivamente pela Codevasf.

Nos Centros Integrados de Recursos Pesqueiros e Aquicultura da Companhia, já foram desenvolvidas tecnologias de reprodução artificial de cerca de 40 espécies de peixes nativas do rio São Francisco. Além do aumento expressivo na produção de alevinos com o uso dessas tecnologias, o que tornou a Codevasf referência nacional na área de aquicultura, conseguiu-se reproduzir, de forma inédita, espécies de grande valor comercial, a exemplo do Surubim, e espécies ameaçadas de extinção – além do Pirá, também a Matrinchã e o Dourado.

O presidente da Colônia de Pescadores Z-20 de Pão de Açúcar (AL), Genivaldo Bezerra, tomou conhecimento do reaparecimento do Pirá através do relato e de imagens enviadas por um pescador afiliado. “O Pirá foi visto pela última vez nessa região em 1984. Quem começou na pesca mais recentemente, não conhece. Esse aparecimento recente foi até motivo de admiração. Nós orientamos que, se algum pescador pegar o peixe, não venda e comunique à Colônia pra gente entrar em contato com a Codevasf. Temos relatos de outros pescadores de que foram pegos outros pirás, além de Matrinchã, Pescada Branca e até um caçote de Surubim com 5 kg”, afirma.

Pirá foi novamente encontrado entre os estados de Alagoas e Sergipe (Foto: Assessoria / Codevasf)

Sobre o Pirá

O Pirá também é conhecido como Pirá-Tamanduá, por possuir um focinho que lembra o do Tamanduá e que lhe permite capturar com eficiência invertebrados – principalmente moluscos – que vivem no substrato do leito do rio São Francisco, seus afluentes e lagoas marginais. É um peixe de couro, de cor branca-azulada, que, por sua beleza, apresenta grande procura pela aquariofilia (prática de criar peixes, plantas e outros organismos aquáticos em aquários). Pode atingir 13kg de peso e 1m de comprimento, sem espinhas na carne e com bom valor de mercado.

O Pirá passou a ser considerado peixe-símbolo do São Francisco em 1997, em Penedo (AL), por ocasião do lançamento do Projeto Peixe Vivo, quando os Correios colocaram em circulação um carimbo comemorativo da espécie nativa do rio. Esse projeto, coordenado pela Codevasf, envolveu estudantes e pescadores artesanais da região da Área de Proteção Ambiental (APA) da Marituba e recebeu prêmio nacional como grande iniciativa de recuperação da biodiversidade da ictiofauna do “Velho Chico”.

Foi também naquele ano que o biólogo Yoshimi Sato, do Centro Integrado de Recursos Pesqueiros em Aquicultura de Três Marias, conseguiu a primeira desova do Pirá em laboratório.

Por Assessoria / Codevasf

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