MINHA TERRA TEM JUNINAS
29 junho 2019
Sim, e ter Juninas é um orgulho para Olho d’Água das Flores, pequena cidade do sertão alagoano. Faz parte da identidade do município, que já vinha há tempos procurando um nicho de identificação cultural. Agora tem.
Mas, não é tão simples assim, vamos voltar um pouco no tempo para entender essa história.
Tudo começou com a QUADRILHA JUNINA FLORES DE SANTO ANTÔNIO, que teve origem no ano de 1993, no Colégio Cenecista Santo Antônio de Pádua, com o objetivo de arrecadar fundos para custear as despesas da formatura do Curso Normal. Em 1996, a Diretoria convidou quadrilheiros pãodeaçucarenses para coreografar e estilizar o grupo, que passou a ser referência cultural do município, servindo de inspiração para a formação de novos núcleos. A partir deste momento as Quadrilhas Matutas locais se tornaram Juninas Estilizadas, e a “FLORES”, a atração mais esperada dos Arraiás municipais e intermunicipais. Nota importante é que o ano de 1996 também foi um marco para a introdução de temas que nortearam a produção da coreografia e figurino da Junina. A “FLORES” brilhou por 23 anos e encerrou suas atividades em 2017, deixando saudades e clamor popular para seu retorno.
Após o aparecimento da “FLORES”, surgiram outras: QUENTE E ARROCHADO, LÍRIOS DE SANTO ANTÔNIO, XODOZINHO e EXPLOSÃO DO SERTÃO. Todas já extintas, a maioria por dificuldades financeiras. Pelo menos duas deram origem a novas Juninas: “LÍRIOS” originou a JUNINA DONA FULÔ, através de seus dissidentes e a XODOZINHO evoluiu para a XODÓ DO SERTÃO.
As Juninas DONA FULÔ E XODÓ DO SERTÃO, são as que atualmente trazem alegria e grande torcida entre a população olhodaguense, pois disputam entre si o glamour de figurinos e coreografias brilhantes.
Mas nem tudo é só alegria…
Esses grupos trabalham no mínimo 10 meses ao ano para construir coreografias encantadoras e adquirir recursos que possibilitem comprar indumentárias, sapatos e acessórios que têm um custo altíssimo para a realidade local, além da contratação de coreógrafos que residem em outras cidades e até em outros estados.
Neste ponto é que acaba a brincadeira e inicia a preocupação dos organizadores… As Juninas são amadoras, ainda dependem totalmente do patrocínio do setor público – Secretaria de Educação e Cultura, patrocínios particulares e de atividades que acontecem durante todo o ano, como pedágios, rifas, bingos, festas e feijoadas. Mas, essas arrecadações nunca são suficientes para a finalização das necessidades, os montantes necessários giram em torno de Trinta, Quarenta Mil Reais ou mais… Difícil realidade.
Qual a situação atual? A “DONA FULÔ”, que estava participando do Grupo Especial da LIQAL – Liga de Quadrilhas Juninas de Alagoas – foi desclassificada por não comparecer à terceira etapa do concurso. Motivo? Não conseguiu arrecadar o valor para pagar o transporte, trazendo grande comoção pública e tristeza aos integrantes. Posteriormente ficou em primeiro lugar no concurso em Delmiro Gouveia – AL, onde concorreu com Juninas estaduais e interestaduais. Seu Dirigente, apresentou publicamente após a última apresentação, no dia 19 do mês corrente, durante a comemoração dos festejos locais, que em 2020 a “DONA” não sairá. A comunidade aguarda ansiosamente que a fala não seja definitiva.
A XODÓ DO SERTÃO se posicionou em segundo lugar no mesmo concurso em Delmiro Gouveia, e após a “tragédia” acontecida com a “DONA”, está conseguindo com grande dificuldade, apoio público e popular para participar das etapas do concurso do Grupo de Acesso, Segunda Divisão da LIQAL, estando na primeira colocação, com excelente perspectiva de trazer a vitória no próximo dia seis de Julho, etapa final, enaltecendo o nome de Olho d’Água das Flores perante todo estado das Alagoas, acessando assim o Grupo Especial.
Sim, não é simples, mas surge a possibilidade de que diante do desempenho e classificações alcançadas por estas Juninas nos concursos disputados, venha a ser gerado um novo e diferenciado olhar público e popular, assim como dos próprios grupos participantes, para que se vença essa barreira financeira e seja favorecida a manutenção dessa identidade cultural adquirida entre babados, rodopios, sorrisos e aplausos. Que as lágrimas vindouras sejam apenas de alegria.
Novas Juninas estão surgindo e já merecem os elogios do público, a FLOR DUARTE, da Escola Estadual Pe. Antônio Duarte e a MARIA BONITA, da Escola Municipal Maria Augusta Silva Melo.
Louvores a todos os Idealizadores e Dirigentes de Juninas, assim como aos Quadrilheiros, por seus esforços desmedidos, investimentos financeiros próprios, noites não dormidas, lágrimas engolidas, superação de muitas frustrações e resiliência como estilo de vida.
Vida longa a todas as Juninas!
Fontes: Histórico da Quadrilha Junina Flores de Santo Antônio; Ex quadrilheiro Madson Vieira (Flores de Santo Antônio e Xodó do Sertão)