8 a cada 10 violações contra crianças nordestinas aconteceram na própria casa Em três meses, região registrou mais de 97 mil casos com vítimas de até 17 anos

Agência Tatu

26 dez 2023 - 07:00


Foto: Agência Tatu

No lar é onde se espera encontrar segurança e cuidados, mas isso não se aplica a todas as famílias. No Nordeste, 81.723 violações contra crianças e adolescentes de 0 a 17 anos,denunciadas pelo Disque 100 entre julho e setembro, aconteceram dentro da própria residência, o que corresponde a 8 casos a cada 10 denúncias realizadas.

A Agência Tatu coletou os dados do Disque 100, disponibilizados pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, e analisou a quantidade de denúncias e cenários das violações. No gráfico abaixo, é possível conferir os locais onde as violações aconteceram.

Ambientes onde crianças e adolescente sofreram violações no Nordeste

Ao total, 97.184 casos de violações contra crianças e adolescentes do Nordeste foram registrados entre julho e setembro de 2023. Destes casos, 84% aconteceram na casa da própria vítima, ao considerar os dois primeiros cenários com mais ocorrências registradas pelo Disque 100: casa onde reside a vítima e o suspeito e a casa onde reside somente a vítima.

Na sequência, a casa do suspeito aparece como terceiro lugar onde mais as violações aconteceram, com 5.245 casos em toda a região. A instituição de ensino e via pública ficam em 4º e 5º lugar, respectivamente.

RN concentra maior número de denúncias 

No ranking de casos por estado do Nordeste, considerando o número proporcional por 100 mil habitantes, o Rio Grande do Norte aparece com o maior número de denúncias, seguido de Sergipe e, em terceiro lugar, Alagoas. O estado com menor número de denúncias proporcionais é o Maranhão com 125 casos a cada 100 mil habitantes. Confira o mapa abaixo:

Número de violações por estado nordestino

A violação de direitos pode acontecer de diversas maneiras, como abandono, negligência, conflitos familiares, convivência com pessoas que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas, além de todas as formas de violência.

Falta de políticas públicas 

A Comissão de Defesa da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogoados Brasil Seccional Alagoas (OAB/AL) interpreta esse quadro como uma violência estrutural, expressa principalmente pelo trabalho infantil, situação de rua, maus-tratos, abuso e exploração sexual. Além disso, aponta o que ainda falta para a redução das violações, tendo como instrumento o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

“Ações específicas e políticas públicas dos órgãos públicos para prevenir e para tratar as consequências da violência, seja na sua articulação interdisciplinar, interprofissional e multi-setorial. Atuar contra as causas da violência significa lidar também contra a pobreza e a miséria que sacrificam nossas crianças e adolescentes, e respeitar seus direitos consagrados na Constituição Federal de 1988”, afirma Thiago Oliveira, presidente da Comissão.

Thiago lembra que essas vítimas são acolhidas, protegidas e designadas a ficarem com seus pais, parentes que compõem a extensão de sua família ou instituições responsáveis e conveniadas ao Tribunal de Justiça. Elas devem receber amparo psicológico e medidas protetivas. Já os agressores, podem sofrer medidas, como exclusão do poder familiar e a prisão.

Denúncias

Combater as violações contra essa população depende também de toda sociedade civil, pontua o advogado.  “A família, a sociedade e o estado são responsáveis e devem tratar qualquer violação aos direitos e garantias das crianças e adolescentes como prioridade absoluta, sendo assim, os canais de denúncias de violência contra crianças e adolescentes precisam ser acionados, seja o Conselho Tutelar, Disque 100, Disque 180, 190, Defensoria Pública, Ministério Público e outros”, informou.

Comentários